Embalando no dia 13 de março, a mais nova aposta escandinava da Netflix chegou para os amantes do terror e com um formato agradável de se acompanhar: apenas seis episódios de trinta minutos de duração envoltos numa antologia. A graça de tal proposta é que cada capítulo poderá ser avaliado individualmente e ainda assim definir o peso geral da temporada. Seria interessante o streaming retornar em outubro ou numa sexta-feira 13 do ano que vem, mas por enquanto, Coletivo Terror (Bloodride, 2020 -) apesar de tanto potencial, não conseguiu mostrar a que veio.
Séries como Black Mirror (2011 -), Into the Dark (2018 -), Inside No.9 (2014 -), Slasher (2016 -), American Crime (2015 – 2017), American Horror Story (2011 -), The Terror (2018 -), Channel Zero (2016 – 2018), são alguns exemplos de séries que seguem o modelo de temporada antológica ou por episódio e que deram muito certo com o público e crítica. A liberdade de poder trabalhar com histórias diferentes e de compensar mesmo que um anterior não funcione, é um dos méritos da pegada analecta. Em Bloodride acompanhamos um ônibus numa abertura bizarra, fotografia esverdeada e que abriga vários personagens que vamos conhecer aos longo dos seis capítulos.
A primeira história, por exemplo, traz uma família que se muda para uma nova cidade na tentativa de um recomeço. Não demora muito para sabermos que a esposa não está contente com a região que seu marido escolheu, sem falar da recepção peculiar que recebem dos moradores, até descobrir do que realmente se trata e ir de cara na cultura que expande a localidade. O maior acerto de um episódio inicial é aquele que introduz de maneira eficaz o universo que se apresenta para audiência, e nesse quesito “Ultimate Sacrifice” foi inteligente por definir a abordagem que se desenrolará: a narrativa será focada na protagonista, assim como o plot twist em cada desfecho. Ou seja, tal personagem irá causar a reviravolta. Mas, nessa mesma mão, Coletivo Terror deixa notório seu obstáculo: a previsibilidade e a aposta desesperada para chocar no último minuto.
Das seis histórias, percebe-se a criatividade (principalmente nos três primeiros episódios) para explorar nuances humanas obscuras num balanço interessante com o suspense, o problema é quando dispara para entregar o final mirabolante que você não viu chegar… A sacada que relevou tais episódios foi o comando da direção, alternando entre Geir Henning Hopland e Atle Knudsen, porque se fosse depender do que a produção propõe nas reviravoltas, elas são todas esperadas e encaixadas de forma abrupta como um ultimato para enredos tão seguros, mas é nítido ali textos manjados querendo ser fora da curva por conta de twist.
O terceiro episódio é um bom exemplo de uma trama que estava se mantendo bem e incitando a reflexão, mas, em dois momentos, agarra o previsível para fechar com dois twists, sendo que o primeiro foi genial para seu contexto, enquanto o outro quis só forçar mais um pouco. Dentre temas como bullying, difamação, ganância, esquizofrenia, a moral certeira aqui é o fim amargo que o próprio homem consegue alcançar no caminho traçado.
Com um suspense ora eficiente, ora frouxo, Bloodride cai bem como um passatempo, mas pra quem espera por uma produção a fim de ser levada a sério demais, não é o caso, pois nesse coletivo de história aterrorizantes, o destino é certo: a corrida aflita para surpreender com reviravoltas. No final da parada, você decide se valeu a pena.
Ama ouvir músicas, e especialmente, não cansa de ouvir Unkle Bob. Por mais que critique, é sempre atraído por filmes de terror massacrados. Sua capacidade de assistir a tanto conteúdo aleatório surpreende a ele mesmo, e ainda que tenha a procrastinação sempre por perto, talvez escrevendo seja o seu momento que mais se arrisca.