5 Documentários além de Democracia em Vertigem

Muito se tem falado sobre Democracia em Vertigem (2019), filme da diretora Petra Costa lançado pela Netflix no ano passado que ganhou grande visibilidade internacional até chegar a ser indicado na categoria de Melhor Documentário no Oscar de 2020, o que, querendo ou não, não é pouca coisa. O filme expõe, de uma forma bastante pessoalizada, a relação da própria diretora e sua família com os eventos que levaram ao impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, culminando no Golpe de Estado de 2016 e na crise política que se arrasta até hoje. Petra trata dos eventos narrando ela mesma seu ponto de vista acerca do que observou, de uma forma clara e quase didática o filme tem uma ótima pegada para que pessoas de fora do país entendam o que está acontecendo por aqui. Mas para nós, brasileiros, que vivenciamos toda essa história recente de perto e já conhecemos muito do que a diretora relata em seu filme, Democracia em Vertigem acaba deixando um sentimento de que falta um maior aprofundamento no assunto. Pensando nisto elenquei alguns outros longas documentais recentes que, de uma forma ou outra, tratam do mesmo tema que o nosso representante brasileiro no Oscar deste ano.

 

Arquitetos do Poder

Se você conhece um pouco da História contemporânea do país é fácil enxergar a violenta influência que a mídia e a imprensa exercem na política por aqui. Arquitetos do Poder (2010), dirigido pela dupla Vicente Ferraz e Alessandra Aldé é extremamente corajoso ao voltar antes mesmo da Ditadura Militar de 64, na campanha de Jânio Quadros à presidência, para revelar esta potência que é a propaganda no Brasil. O filme percorre o período ditatorial de forma um tanto ligeira, mas volta a se aprofundar no período de redemocratização, dando grande enfoque às campanhas presidenciais desde então. Os trechos sobre a campanha Lula x Collor em 1989 são especialmente interessantes, e aprofundam ainda mais o que já havíamos visto no documentário Muito Além do Cidadão Kane (Beyond Citizen Kane, 1993), onde é revelada a manobra da Rede Globo no famoso debate que deu vantagem ao candidato da direita em detrimento do líder sindical. O filme avança por por várias campanhas até chegar à reeleição de Lula em 2006.


Torre das Donzelas

Dirigido por Susanna Lira, uma das grandes documentaristas da leva recente do cinema brasileiro, Torre das Donzelas (2018) resgata a memória de 40 anos atrás, com os depoimentos emocionados de várias presas políticas durante a Ditadura Militar de 64 que foram torturadas e encarceradas no antigo Presídio Tiradentes, por elas apelidado com o nome que dá título ao filme. Entre essas mulheres guerreiras que resistiram ao terror da ditadura em sua forma mais cruel está Dilma Rousseff, e mesmo que seja uma das que menos fala sobre os acontecimentos daquele tempo, podemos entender melhor, ao ouvir os relatos de suas colegas de prisão, o significado de termos uma mulher como Dilma na presidência do país, e mais ainda, o quão aquilo era incômodo aos golpistas que a removeram a todo custo em 2016.


Excelentíssimos

Excelentíssimos (2018) talvez seja destes cinco o filme que mais se aproxime de Democracia em Vertigem pela forma pessoal com que seu autor, o carioca Douglas Duarte, lida com os fatos que apresenta ao longo de suas duas horas e meia. Duarte faz praticamente um filme-denúncia, com um óbvio acaloramento justificado de quem se revolta com a conduta de boa parte da classe politica do país. O filme começa sua investigação ampla ainda em 2014, quando tem início a Operação Lava Jato, um dos limiares da crise política que assolaria o país nos anos seguintes e segue, através de várias imagens de arquivo, entrevistas, reproduções de vídeos transmitidos em jornais, tentando dar sentido ao que estaria se montando para o processo que levaria ao Golpe Parlamentar em 2016.


O Processo

O documentário, de Maria Agusta Ramos, ficou bastante conhecido em 2018 após passar por vários festivais importantes no Brasil e no mundo. A diretora opta por uma abordagem mais observacional do processo de impeachment de Dilma, acompanhando bem próximo, dentro mesmo do Congresso, e mais especificamente a defesa da ex-presidenta, em todos os principais momentos daquele evento político. Apesar de não conter imagens de arquivo ou entrevistas o filme se ancora em várias horas de material filmado durante meses (450 horas aproximadamente), editados em quase duas horas e meia, que mostram detalhes que apenas assim poderíamos perceber, mas que partem, claro, de uma intenção, de um discurso da diretora.


O Muro

Lula Buarque de Hollanda segue um caminho diferente dos outros filmes indicados aqui e ao invés de adentrar as paredes do Congresso como O Processo e Excelentíssimos, O Muro (2017) acompanha os acontecimentos do lado de fora enquanto o impeachment é votado pelos deputados. O filme é interessante por apresentar pessoas de ambos os lados do muro que literalmente foi erguido para separar os pró e os contra, quase como uma profecia nefasta da polarização que acometeria os brasileiros cada vez mais desde então. É impressionante observar as pessoas, muitas delas vindos de lugares distantes do país, assistindo no gramado em telões a famigerada votação como se assistissem a um jogo que decidiria o futuro do país.