Na segunda temporada de You (2018 -), Joe (Penn Badgley) resolve manter-se no anonimato para evitar que fatos do seu passado recente venham à tona e o prejudiquem. Afirmando estar determinado a ser um novo homem, assume uma nova identidade, Will Bettelheim, e muda-se para Los Angeles, o lugar onde ele mesmo diz que, contraditoriamente, “todos querem aparecer”. E isso é perceptível ao longo da narrativa. Inclusive um dos personagens mais presentes na nova vida de Joe ou Will, é Forty (James Scully), seu novo patrão na Anavrin uma livraria/hortifruti/café e também cunhado, já que ele passa namorar Love (Victoria Pedretti), a vítima (ou não) da vez. Forty tem desejo de se tornar um produtor de cinema renomado e encontra em Joe a possibilidade de melhorar sua escrita. O problema é que Forty tem problemas com drogas e é muito dependente de Love. Isso só já gera uma série de conflitos envolvendo os três personagens ao longo da série.
Mas, como sabemos, Joe tem uma necessidade de sentir que pode salvar pessoas em aparente vulnerabilidade, como o menininho Paco (Luca Padovan), seu vizinho na primeira temporada. Dessa vez sua redenção está em Ellie (Jenna Ortega) uma adolescente e também vizinha que vive com a irmã Delilah (Carmela Zumbado) no mesmo condomínio. Isso parece ser uma forma de justificar que há em Joe, embora seja um psicopata, algum resquício de humanidade. Ele sente que precisa proteger esses personagens em situação de abandono. E ao longo da narrativa, flashbacks de sua infância dão conta de que ele viveu o abandono de sua mãe, contribuindo para que o espectador construa aos poucos a personalidade complexa desse homem.
Além desses dois arcos, há também Candace (Ambyr Childers), que ressurge com o propósito de desmascarar Joe e como ela mesma diz “Proteger Love e Forty”. Mas embora se torne um empecilho para Joe em alguns momentos, Candace não parece ter uma estratégia clara para incriminá-lo. Fica evidente que ela não tem provas concretas, além do seu próprio relato, para colocá-lo na cadeia. E então perdemos aí a esperança de que ela vingue o assassinato de Beck. O que torna tudo ainda mais favorável para Joe é o fato de que Love, não só o compreende como endossa seu modo de agir e acredita que os dois podem ter um final feliz.
A grande diferença entre as duas temporadas da série é que a primeira tinha uma narrativa muito mais fluida: Joe queria Beck e faria tudo (a seu modo) para ficar com ela. Os empecilhos: suas amigas, o ex-namorado e o psiquiatra. No fim, Beck descobriu quem era Joe e não quis mais ficar com ele. Ele a matou. Assim como matou outros. Seu instinto de preservação estava muito mais forte e ele faria qualquer coisa para conseguir seu objetivo.
Na segunda temporada, o mesmo princípio: Joe se apaixona por Love, finge não estar tão afim, mas já sabe (quase) tudo sobre ela, tem os amigos, mas principalmente o irmão dela como empecilho. Ambas as temporadas têm crianças em perigo que Joe quer salvar e isso gera complicações em sua vida. Mas aqui na segunda ele está a todo momento dizendo para si que quer ser melhor e não quer mais matar pessoas e acaba sendo levado para situações de vulnerabilidade que o põem em risco, como o uso de entorpecentes. Cada episódio traz uma tensão e reviravoltas contra ou a favor de Joe. E a gente pensa “Agora vai!” ou “Ah, ele vai escapar de novo!”. E quando Joe percebe Love como alguém muito semelhante a ele, que lhe compreende e aceita, rejeita-a a princípio porque ali ela deixou de ser pura. E percebemos ainda mais a complexidade de sua mente.
Existem momentos em que você pensa “Por que ele simplesmente não sai daí?”, como quando o Forty o obriga a co-escrever um roteiro e os dois “saem” pra beber. E recursos como o fato de ele estar drogado durante um longo período (que nem ele, nem nós sabemos qual é), é uma opção justificada sendo Forty um dependente químico sarcástico, e que dá a possibilidade ao roteiro de criar várias versões do que aconteceu e ganhar tempo de série (tempo de tela). Mas não move a narrativa para a frente, apenas a estaciona.
Um ponto interessante nessa temporada foram as referências de Cinema em alguns diálogos. Comparando obras, reproduzindo falas de filmes famosos, etc. Em se tratando de uma trama ambientada na cidade de Los Angeles (CA), onde fica Hollywood, a meca do cinema norte americano, nada mais justo. Ouvir referências de filmes, diretores e aspectos da produção cinematográfica é um bônus para quem as reconhece e valoriza a sétima arte, em meio a uma narrativa tão densa.
A temporada termina com um gancho para uma terceira e deixa provas importantes que podem ser melhor exploradas: o livro de Guinevere Beck, The dark face of love, onde ela relata sobre o relacionamento abusivo, embora em formato de ficção, e o psiquiatra Dr. Nick (John Stamos), que está preso, mas sabe quem é Joe e que pode ser beneficiado caso fique provado que Beck foi morta por Joe e que ele é inocente.
Bacharela em Cinema e audiovisual, adora maratonar séries e salvar vários filmes na lista da Netflix. Ama filmes clássicos e estórias com reflexões profundas. Às vezes escreve sobre audiovisual!