Star Wars: A Ascensão Skywalker – Um final covarde

Quando em 2012 a Disney comprou a Lucas Film e anunciou o desenvolvimento de um novo Star Wars, a internet e o mundo da cultura pop entraram em choque com a notícia de um novo filme da tão querida e amada saga criada por George Lucas. Afinal, era o que a maioria dos fãs queria, após a trilogia desastrosa de “prequels” formada por Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma (Star Wasr: Episode I – The Phantom Menace, 1999), Star Wars: Episódio II – Ataque dos Clones (Star Wars: Episode II – Attack of the Clones, 2002) e Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith (Star Wars: Episode III – Revenge of the Sith, 2005), todos dirigidos pelo próprio Lucas. Dessa vez, a história iria andar para frente, narrando os fatos que aconteceriam após o último filme da trilogia clássica, Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi (Star Wars: Episode VI – Return of the Jedi).

É nesse contexto que surge em 2015, Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força (Star Wars: Episode VII – The Force Awakens). Filme dirigido por J. J. Abrams, responsável por dar início a essa nova trilogia de filmes e levar para uma nova geração todo o peso e imaginário dos filmes clássicos presentes na cultura pop desde o final da década de 70. O Despertar da Força sofreu críticas injustas por apresentar um trio de protagonistas diverso e por ser uma releitura do primeiro filme da saga, mesmo assim, ele apresentou elementos novos que poderiam ser interessantes a longo prazo e uma nova perspectiva para o uso da Força, além da expansão do universo de Star Wars apresentando novos personagens muito carismáticos e um bom enredo a ser explorado e desenvolvido nos futuros filmes.

Já em 2017, o filme Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi (Star Wars: Episode VIII –  The Last Jedi), dirigido por Rian Johnson, vai em uma mão contrária à direção de J. J. Abrams. Enquanto o primeiro faz clara referência a trilogia clássica, inclusive buscando soluções de roteiro parecidos, Johnson prefere trazer uma abordagem mais inovadora e com quebra de vários preceitos criados por Abrams ou que em algum momento já foram utilizados na série. O filme é bom justamente porque foge dos erros comuns na saga e busca uma nova forma de contar a história. É um filme perfeito? Não, longe disso. As lutas de sabre mal coreografadas e uma mudança no comportamento e personalidade de Luke Skywalker (Mark Hamill) são exemplos dos erros cometidos no filme. No geral, apesar desses pequenos defeitos, Os Últimos Jedi é um bom filme e o melhor da trilogia. Só esse fato já credenciaria Johnson para dirigir uma sequência. Todavia, o filme não foi bem aceito pelos fãs de Star Wars, que são conhecidos por serem alguns dos mais chatos e tóxicos da internet.

A reclamação fez a Disney (de olho na bilheteria também) trazer Abrams de volta para a direção. A rusga entre o que Johnson fez e o que Abrams pretendia fica evidente ao longo da produção e divulgação do filme, embora talvez os dois neguem isso. A Ascensão Skywalker já não é um bom nome, tendo em vista que a trilogia seria metaforicamente uma passada de bastão para uma nova geração de Jedi e uma nova maneira de trabalhar a Força. O resultado disso foi um filme medonho e cheio de referências e fan services aos filmes anteriores, sobretudo ao Retorno de Jedi, perdendo assim todo seu caráter original, tornando-se comum e ruim. Certamente deverá agradar ao fandom de Star Wars mais conservador e que despeja ódio pela internet, porém foi um oportunidade perdida de trazer a saga para questões mais atuais, embora seja uma fantasia, Guerra nas Estrelas poderia dialogar muito com as questões da nossa sociedade contemporânea.

E a culpa desse fracasso é de quem? J. J. Abrams? Certamente o nome dele é o primeiro que vem à cabeça quando pensamos em criticar esse filme. Sua visão ultrapassada e moralista, com o pé preso no saudosismo seguramente contribuíram para o insucesso do filme. Porém, ele não é o único culpado nessa história. Pelo menos nos últimos 15 anos a Disney adotou uma postura agressiva no mercado. Ela abriu seus cofres e comprou diversos estúdios de cinema, como a Pixar, seguida por Marvel, LucasFilm e 21st Century Fox. Segundo matéria do El País, em 2016, antes da compra da Fox, a empresa do Mickey era dona de mais de 20% da produção da indústria cinematográfica. Após sua mais recente aquisição, esse valor subiu para mais de 32%, uma parcela significativa e que representa um monopólio na indústria de cinema norte americana. Esse monopólio traz consigo diversos efeitos colaterais, como a falta de competitividade e um modo de produção único para vários setores da cultura do entretenimento. Sabemos que o pensamento capitalista é ruim e que explora de todas as formas o trabalhador e o proletariado, nesse caso específico da Disney, ela foi responsável por ditar uma tendência: filmes medianos sem capacidade de gerar um debate crítico, muito pautada na cultura de filmes compartilhados e de uma onda nostálgica e saudosista que atinge o grande público, carente das grandes franquias de antes.     

A Disney não é a única empresa a fazer isso, diversas outras produtoras de cinema, games, quadrinhos, etc, o fazem, mas como a maior produtora de cinema e uma das maiores geradoras de cultura de massa e entretenimento do planeta, certamente ela chama mais a atenção e se notabiliza por buscar uma cultura medíocre e de fácil absorção, confiando na fidelidade de seu público, enganando o mesmo com falsas promessas e com doses homeopáticas de saudosismo, agradando sim uma parcela de fãs, mas sem comprometimento e, principalmente, sem interesse em trazer coisas novas. O capitalismo só muda quando percebe que não pode mais explorar determinado pensamento ou povo. Infelizmente, o maior prejudicado será o público que, involuntariamente ou não, absorve esse conteúdo, quer ele agradando ou não. Também cabe aqui a crítica do mercado de distribuição dos filmes. Em países como o Brasil, em que não há uma proteção ou lei de cotas, a distribuição de filmes da Disney chega a 80% contribuindo ainda mais para disseminação da mediocridade.

Voltando ao filme, Star Wars: Episódio IX – A Ascensão Skywalker (Star Wars: Episode IX – The Rise of Skywalker) é um remendo feito de ideias ruins. As 2h20m do filme passam rápidos, pois ele é bem editado e tem boas cenas de ação. Seu maior problema está justamente no roteiro e nas decisões tomadas. A escolha de trazer um vilão clássico de volta, o rumo tomado por Rey (Daisy Ridley) e, sobretudo, o destino que cada um tem e a explicação que é dada para que isso aconteça são as piores coisas que esse filme carrega. Ele se aproxima tanto de o Retorno de Jedi que chega a parecer uma fan fic mal escrita, além dos diversos furos no roteiro e nas soluções mágicas que cada personagem tem. É incrível como tudo certo acontece na hora certa. Todas essas questões vão tirando o espectador do filme, ao ponto de ninguém ligar mais para o que vai acontecer. As decisões não tem peso e o filme se torna vazio.   

Star Wars: A Ascensão Skywalker é um filme covarde e vazio. Que aposta em sua mediocridade para agradar os fãs mais conservadores, mas que falha em dar um final digno para a saga. Retalho de ideias ruins e mal executadas, trazendo explicações e nomes que ninguém pediu e revivendo um dos seus maiores vilões, mas que se encontra totalmente deslocado aqui. Era uma ótima oportunidade para mostrar ao mundo que Star Wars poderia novamente ditar a tendência da cultura pop, mostrar visibilidade, eliminar preconceitos e levantar a bandeira para diversas causas, mas por querer jogar no seguro e agradar os fãs antigos, tornou-se um retrato dos tempos atuais e das políticas conservadoras.

 

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