MOSTRA PERCURSOS: Sessão “O Completo Estranho” (25/10 às 14h)

A Mostra PERCURSOS é uma ação de docentes e discentes do Curso de Cinema e Audiovisual do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC), que tem por objetivo dar visibilidade aos trabalhos cinematográficos produzidos pelos alunos do curso, além de estimular o diálogo entre esses jovens artistas e a sociedade. Chegando à sua nona edição em 2019, a Mostra PERCURSOS vem abrindo espaços de exibição e reflexão crítica sobre os rumos apontados pelas produções do curso de Cinema e Audiovisual da UFC.

Nesta edição, nós do Só Mais Uma Coisa, publicaremos uma resenha, escrita por alunos e ex-alunos do curso, para cada uma das sessões da Mostra, que acontece do dia 24 a 26 de outubro, no Cinema do Dragão, em Fortaleza.

Para mais informações acesse o site (www.percursos.ufc.br/2019) e as redes sociais da Mostra.


“O Completo Estranho” reúne histórias que trazem situações regidas por relacionamentos amorosos, seja para trabalhar com humor e suspense a influência do ciúme; lidar melancolicamente com a finitude de um amor; ou poeticamente com o início de outro, tem-se aqui o amor como o verdadeiro “completo estranho”, pois, por mais que tentemos entendê-lo, ele sempre nos revela alguma surpresa, nem sempre agradável.

“Sabotagem”, de Evaldo Santos

Em Sabotagem, de Evaldo Santos, temos uma pequena crônica familiar, que apesar de ser um recorte sucinto das relações interpessoais entre aqueles que dividem parentescos e o mesmo teto, consegue dar conta dessas relações de forma clara e instigante. Através de uma situação aparentemente corriqueira – um pai, Thiago (Emidio Gazebo) que está realizando um trabalho importante, que se vê em meio à relação conflituosa, fruto de ciúmes, entre filha, enteada e a amiga desta – tem-se uma conjunção orgânica e muito bem realizada de suspense e comédia. A partir de uma montagem ágil, que na segunda metade da história nos dá diferentes pontos de vista, o filme brinca com percepções de forma bem-humorada – uma clara inspiração em sitcoms com How I Met Your Mother (2005 – 2014) – para nos deixar curiosos sobre o que de fato aconteceu: o trabalho de Thiago foi sabotado, ou apenas vítima de um acaso? A reviravolta final nos traz a resposta com humor e inteligência.

“Apartamento”, de Ianna Leal

Em Apartamento, de Ianna Leal, ao acompanharmos a rotina de Célia (Sara B. Jales), intercalada em dois tempos, vemos de forma delicada o fracasso de um relacionamento, sem que para isso seja dita nenhuma palavra. A separação entre presente e passado é feita através de uma bela e ritmada montagem, que, inicialmente, nos faz acreditar que Jorge (Rafael Victor) partiu, mas que progressivamente nos faz perceber que, na verdade, Célia está compreendendo que o relacionamento não é mais o mesmo. Temos, então, uma temática muito comum na ficção: a finitude das relações amorosas. No entanto, a sutileza e o talento, tanto da direção quanto dos atores, nos faz sentir que esse tema ainda possui fôlego para ser revisitado. Por mais que se revele um pequeno exercício sem grandes ambições, Apartamento cumpre perfeitamente seu objetivo de ser um comentário melancólico sobre o fim de um relacionamento.

“Sementes Plantas Antes da Primavera”, de Thaís Muniz

Revelando-se poético desde seu título, Sementes Plantas Antes da Primavera, de Thaís Muniz, segue com doçura e realismo uma vertente dos dramas românticos que lida com o surgimento de um amor que, supostamente, já vem com prazo de validade. Essa situação, vista em filmes tão diferentes como Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995) e A Culpa é das Estrelas (The Fault in Our Stars, 2014), ganha aqui um olhar quase pueril ao mostrar como Alice (Dani Chaves) reage à possibilidade de nunca mais ver Raíssa (Rayanne Falcão), a quem acabou de conhecer. A proximidade que surge entre elas, bem como a singeleza e a beleza dos momentos que vivem, se revelam em cenas que primam pela poesia e por diálogos bastante naturalistas. É possível sentir que o olhar que Thaís Muniz lança sobre suas personagens é tão desprovido de fetichismo – essa não é uma história que trata lésbicas com exotismo e luxúria – e tão amoroso, que só nos resta nos apegarmos a esse amor com tanta intensidade quanto as personagens. Assim como os melhores romances – tanto da ficção como da vida –, elas possuem uma química que se faz sentir mesmo deste lado da tela, e que nos faz torcer para que sim, elas voltem a se ver algum dia.

Por Cândido Netto