Obsessão (Greta, 2018), mais recente filme do diretor e roteirista Neil Jordan, conta sobre Frances (Chloë Grace Moretz), uma jovem que, pouco tempo após ficar órfã de mãe, decide mudar-se para Manhattan e dividir um apartamento com sua amiga Erica (Maika Monroe). Certo dia Frances encontra no metrô uma bolsa feminina esquecida e resolve devolvê-la para sua dona, Greta Hideg (Isabelle Huppert), uma senhora viúva com sotaque francês que vive solitária em sua pequena casa após a filha partir para estudar em Paris. Logo as duas começam a se aproximar cada vez mais, nutrindo uma amizade oportuna, já que ambas perderam entes queridos e, por conta disso, encontram-se extremamente frágeis.
Entretanto, o que inicialmente parecia ser uma inocente amizade acaba se tornando aos poucos uma relação doentia, ainda mais quando Frances percebe algo estranho e decide se afastar da senhora. Greta passa a perseguir a garota, seja com ligações e mensagens de celular, seja aparecendo em frente ao restaurante onde a moça trabalha e ficar parada observando. Frances se vê, então, em uma difícil situação onde precisa livrar-se de Greta antes que a coisa piore. O filme segue, em sua primeira metade, os passos clássicos de filmes sobre perseguição. A jovem, cada vez mais acuada por sua perseguidora vai, a cada momento, perdendo ainda mais o controle da situação, até que da metade para o fim o filme se torna uma tentativa malsucedida de recriar a incrível tensão do clássico de Rob Reiner, Louca Obsessão (Misery, 1990).
É lamentável como o roteiro perde a oportunidade de aproveitar a melhor ideia que coloca no filme, a de como ambas as mulheres lidam com suas perdas e como, de início, uma vê na outra uma forma de preenchimento para estas lacunas em suas vidas. A ideia aparece, claro, mas nunca é bem desenvolvida, se tornando infelizmente vazia frente à tentativa, também frustrada, de criar o mínimo de tensão na perseguição implacável de Greta. Isto talvez ocorra pela inaptidão do roteiro de aprofundar não só as duas personagens principais, como também todos os secundários, impossibilitando que nos importemos com suas vidas ou suas decisões. E por falar em decisões é penoso ver Isabelle Huppert, uma das maiores atrizes da atualidade, se esforçando ao máximo para se destacar em um papel pessimamente escrito, além de ter que contracenar com a fraca Chloë Grace Moretz, que não consegue em momento algum dar sentimento a sua Frances, podendo ter sido trocada facilmente pela intérprete da amiga Erica, Maika Monroe, muito mais talentosa que ela.
Obsessão acaba sendo um filme sem muita cor, com um roteiro que parece ter sido escrito com sono, cheio de pontas soltas e decisões preguiçosas e inexplicáveis, e que, o pior de tudo, não sabe trabalhar a própria ideia que cria.
Cineasta e Historiador. Membro da ACECCINE (Associação Cearense de Críticos de Cinema). É viciado em listas, roer as unhas e em assistir mais filmes e séries do que parece ser possível. Tem mais projetos do que tem tempo para concretizá-los. Não curte filmes de dança, mas ama Dirty Dancing. Apaixonado por faroestes, filmes de gângster e distopias.