O Rei Leão, de 1994, é minha animação favorita da Disney. Assim, disparado e sem dúvidas. Tudo que envolve a experiência de assistir esse filme é muito, muito nostálgico para mim (falei disso com mais detalhes no episódio do Plano Sequência que lançamos essa semana, ouça aqui!). Então, quando a versão live action foi anunciada eu não sabia muito bem o que sentir. Por um lado, fiquei absolutamente animada para rever esses personagens de um jeito diferente do que estou acostumada. Por outro, aquele protecionismo infantil – um mal que acomete a internet – também tinha lugar no meu coração e aquela dúvida insistente, risível e tola martelava a minha cabeça: Será que essa nova versão “destruiria a minha infância”?
Claro que eu não fui a única, os meses que antecederam a estreia do filme foram marcados por discussões que pareciam infinitas e que não chegavam a lugar nenhum, se essa nova versão era necessária, se era live action ou animação, se a proposta realista era uma escolha acertada…. No meio desse turbilhão de opiniões, comecei a me perguntar: o que as pessoas esperam de um filme como esse, afinal? Que fosse completamente diferente, mas respeitasse o universo? Que tivesse as cenas mais icônicas? Ou “que nem fosse feito! Afinal, se é igualzinho ao original, melhor rever o original mesmo”. Acabei concluindo que a melhor coisa que eu poderia fazer por mim mesma era encarar esse evento apenas como uma celebração ao aniversário de 25 anos de uma das histórias mais amadas do estúdio do Mickey.
Eis que o filme finalmente estreou, e eu, que tinha decidido fugir de toda as avaliações negativas e discussões de internet, estava pronta e de braços abertos, realmente disposta a sentar e aproveitar meu tempo e se eu dissesse aqui que não aproveitei cada segundinho, eu estaria mentindo. Eu me emocionei muito e me diverti demais em ver essas versões ultrarrealistas de personagens que eu já amava com todo o meu coração. Nesse sentido de emular a minha relação com o original, O Rei Leão de 2019 é bem competente e saí até satisfeita da sessão.
Entretanto, é importante respirar e entender que eu já estava no lugar que o filme precisava que eu estivesse, eu já amo essa história e é muito difícil não se deixar levar pela emoção num contexto como esse. Portanto, acho que o primeiro pecado dessa nova versão é que toda a emoção que eu senti veio exatamente da sensação de conforto de estar vendo algo familiar, então se há algum mérito ele está justamente no ato de fazer tudo tão parecido ao original. O que é questionável dependendo do que a pessoa estava esperando. Comigo funcionou.
E mesmo o que foi diferente, acabou me agradando. Um dos meus maiores receios com o filme era o áudio original, eu sempre assisti o de 94 com a dublagem brasileira e estava com medo de não me sentir conectada com o filme, já que optei por assistir legendado. Mas, o trabalho de vozes aqui é realmente fenomenal e mesmo que eu não tenha as letras das músicas decoradas como tenho na versão tupiniquim, essas novas roupagens conseguiram me conquistar também. É preciso destacar também o Zazu de John Oliver, o Pumba de Seth Rogen, o pequeno Simba de JD McCrary e o Scar de Chiwetel Ejiofor . Não que o resto do elenco – e que elenco! – não esteja bem, mas estes realmente me surpreenderam.
Agora, verdade seja dita: O Rei Leão de 2019 está muito longe de ser perfeito. Mesmo. E, de um modo geral, entendo que o maior problema aqui seja a direção de Jon Fraveau, que tem um ótimo timing de comédia, mas no drama já não manda tão bem assim. Os momentos mais emblemáticos da história, que precisavam de maior carga emocional, não conseguem alcançar seu potencial e a culpa, penso eu, não é da animação ou da proposta realista. Até porque, muitos anos atrás tivemos o leão Aslam, da trilogia das Crônicas de Nárnia, ou até mesmo o tigre Richard Parker, de As Aventuras de Pi, e não sofremos com esse problema. As cenas não têm o tempo que precisam, prejudicando o ritmo do filme como um todo e os animais poderiam ser mais expressivos, não necessariamente de maneira antropomorfizada, e sim natural mesmo, com movimento de orelhas, caudas e cabeças.
De todo modo, ainda é Rei Leão e ainda acho que pode ser uma experiência muito satisfatória dependendo da expectativa do público. Apesar de ter algumas boas sacadas, este filme com certeza não vai revolucionar a história clássica ou o mundo do cinema como o de 94 fez, também não vai superar – e acho que nem tenta – a obra anterior. Alguns vão detestar por ser parecido demais, outros vão se sentir em casa. Creio que, se for encarado apenas como oportunidade de revisitar um lugar querido com olhos totalmente diferentes, e é absolutamente impressionante o que eles conseguem fazer aqui, se for visto como uma verdadeira celebração à esta clássica história de animais shakespearianos, aí o filme ganha um pouco mais de força e magia. E com certeza será uma visita feliz. Ou no mínimo, de encher os olhos.
Roteirista e podcaster bacharel em Cinema e Audiovisual. Ex-potterhead. Escuta música triste pra ficar feliz e se empolga quando fala de The Last of Us ou Adventure Time. É viciado em convencer as pessoas a assistirem One Piece, apreciador dos bons clássicos da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa e, acima de tudo, um Goonie genuíno.