O ano de 2017 finalmente deu lugar ao seu sucessor. É hora de analisarmos quais foram os meus melhores mangás lidos em 2017! A minha lista é baseada em títulos que eu conheci e acompanhei durante o ano de 2017. Mangás que eu conheci em anos anteriores e continuei lendo ao longo dos anos (One Piece, por exemplo) estão de fora dessa lista. Decidi fazer essa regrinha porque eu só acompanhei um único mangá que começou a ser serializado esse ano.
Acompanhar lançamentos de mangás é uma tarefa árdua. O modelo mais comum de lançamento de mangás no japão é através de uma serialização sazonal: cada capítulo do mangá é lançado em um intervalo de tempo definido, geralmente semanal, mensal ou trimestral. Esses mangás são lançados por editoras que possuem revistas que agrupam esses mangás geralmente de acordo com seu gênero (shonnen, shoujo, etc.). Por exemplo, Naruto e Naruto Shippuden foram mangás semanais lançados na revista Weekly Shonnen Jump, da editora Shueisha, a maior editora de mangás do Japão. Já Boruto: Naruto Next Generations, é publicado mensalmente na mesma revista. Esse lançamento contínuo de capítulos de mangás torna a tarefa de acompanhar um título recente bem complicada, uma vez que um leitor experiente já acompanha diversos outros.
Sem mais delongas, vamos para a lista.
Lançado em julho de 2016 e encerrado em setembro de 2017 com 51 capítulos, Uratarou foi uma experiência imersiva na mitologia japonesa. Roteirizado e desenhado por Atsushi Nakayama, Uratarou se passa no Japão feudal onde os demônios são reais e interagem no mundo humano. Nesse mundo, Taira Chiyo é uma princesa que foi amaldiçoada ao nascer: sua maldição diz que quando a mesma completar 16 anos, irá morrer. A garota não quer um destino tão cruel para si, então cruza o país em busca de quebrar essa maldição e se tornar imortal. Em uma de suas andanças, a garota e o seu avô, que a acompanha nessa jornada, ouvem falar de um ser imortal chamado Kijin-sama e a dupla parte à sua procura. Ao encontrá-lo, Chiyo se depara com um humano imortal que só quer… morrer.
A obra é uma dualidade entre a busca pela vida e pela morte: Uratarou (nome do ser imortal) é uma pessoa sádica, triste, fria e vazia de propósitos, que o faz levar uma vida miserável, uma vez que o mesmo desistiu de procurar uma forma de morrer. A princesa Chiyo é o seu total oposto: Uma garota alegre, divertida e otimista, daquelas sonhadoras que vê o lado bom de tudo. O otimismo da princesa é tão contagiante que transborda pelas páginas do mangá e dá um quentinho no coração.
No entanto, não se engane: Nakayama-sensei não entrega uma história clichê e fofa. Muito pelo contrário: O autor não tem pena de colocar seus personagens em situações de risco e fazê-los sofrer, mostrando que Uratarou é uma história crua, recheada de situações tensas e diálogos filosóficos que mesclam discursos otimistas e pessimistas numa mistura deliciosa de acompanhar que, aliado a uma arte excêntrica, tornam esse mangá uma obra única. Uma pena que foi cancelado com poucos capítulos. Talvez a virada que acontece no meio da obra não tenha sido tão bem recebida pelo público. Particularmente, eu gostei. Mostra que o autor não teve medo de brincar com as expectativas do leitor e se arriscou em querer entregar uma obra diferente do que é publicada pela Jump.
Uratarou ainda não possui publicação no Brasil, mas pode ser encontrado internet afora.
4
Yakusoku no neverland
Serializado a partir de agosto de 2016, Yakusoku no Neverland foi aquela obra que me prendeu lendo durante toda uma madrugada, ávido por saber o que aconteceria no próximo capítulo dado o nível de tensão da história. Já saiu uma
resenha sobre esse mangá aqui no SMUC, mas de forma resumida: Yakusoku no Neverland é um mangá shonnen, publicado pela na revista Shonnen Jump, que conta a história de um grupo de crianças tentando fugir de um orfanato quando descobrem que o mundo que eles conhecem é uma mentira.
É uma obra de suspense bastante interessante de se acompanhar porque possui personagens carismáticos e uma história de gato-e-rato alucinante. Kaiu Shirai e Posuka Demizu entregam uma obra que começa com um senso de urgência gigantesco mas parece que perde o ritmo ao final do primeiro arco do mangá. Mesmo assim, consegue criar outro ótimo arco narrativo e segue criando novos mistérios. Foi uma grata surpresa para mim, uma vez que eu estava carente de obras do gênero.
Representante do hard sci fi dessa lista, Origin se passa em um futuro no qual robôs são lugar comum na sociedade. O mangá narra a história de Origin, um robô humanóide com a inteligência artificial mais perfeita do planeta. O seu criador, chamado por ele de “pai” morre em um acidente após incentivar o seu filho a ir buscar um estilo de vida no qual ele possa “viver apropriadamente”. Cabe ao robô interpretar o que isso signifca e tomar suas próprias decisões, baseado nas coisas que ele vai aprendendo ao longo que interage no mundo humano.
Lançado pela editora Kodansha em setembro de 2016 na revista Weekly Young Magazine, Origin é um primor de narrativa e arte. Seu autor e desenhista, BOICHI é o meu segundo mangaká favorito (perdendo o posto de favorito para o mestre absoluto Takehiko Inoue) devido a sua incrível capacidade de dar um traço levemente cartunesco e real ao seus mundos. Na arte de Origin o autor está em seu auge artístico, demonstrando sua facilidade em desenhar pessoas e descrever visualmente situações complexas em quadros simples, evitando ao máximo a poluição visual muito comum que existem em mangás de luta.
O roteiro simples, torna-se rico uma vez que o autor descreve com detalhes as necessidade do robô para sobreviver. Nada é por acaso. Origin precisa de dinheiro para se manter funcional e para isso, vai trabalhar como assistente em uma grande empresa de tecnologia. Lá, ele conhece Mai Hirose, uma engenheira animada e entusiasta de tecnologia, que logo se afeiçoa pela persona de Origin, Tanaka. As situações em que o autor coloca o robô e Hirose-san são hilárias. Origin não entende direito as nuances das relações humanas, então acaba por vezes se metendo em saias justas que são divertidíssimas de se acompanhar. Ainda, toda essa interação com o mundo humano faz com que o personagem questione a si mesmo diversas vezes, gerando diálogos filosóficos bem interessantes.
As lutas do mangá são levemente diferentes dos mangás convencionais. Origin sempre parte para a briga com poucos recursos em relação ao seus adversários então, ele precisa planejar cuidadosamente cada uma de suas ações. Acompanhar o desenvolvimento da estratégia do personagem através de seus monólogos, dá as lutas uma camada de tensão e um senso de urgência bem difícil de se ver por aí. Sem dúvidas, é uma obra que marcará o gênero sci fi.
Outra obra que
já resenhamos aqui no blog, Relife é sobre recomeçar. Essa obra estar em segundo lugar na minha lista tem um caráter todo especial, pelo menos pra mim. Quando eu conheci o mangá, estava em um momento de transição na minha vida. 2016 havia sido um ano complicado que deixou diversas marcas em mim. Ainda aprendendo a lidar com essas marcas, conheci ReLife. A obra de
Yaoiso começou a ser serializada em 2013 pelas editoras NHN PlayArt (online) e pela Earth Star Entertainment (fisico), contando atualmente com 214 capítulos e em vias de ter sua história encerrada.
O mangá conta a história de Kaizaki Arata, um jovem japonês formado que não conseguiu se consolidar em nenhum emprego na vida, ficando com o currículo ‘sujo’ em um país onde reina a tradição de se manter por muitos anos em uma empresa. A sorte de Arata muda quando um estranho o apresenta a uma empresa chamada ReLife, que realiza experimentos com pessoas que nem ele. Basicamente a empresa faz suas cobaias a parecerem adolescentes comuns, que serão alocados em uma escola de ensino médio para viver novamente o período escolar, com o objetivo de reaprenderem valiosas lições e repensar suas atitudes como adultos. Como benefícios, a pessoa que participa do experimento possui todas as suas despesas bancadas pela empresa durante o período do experimento e de quebra, ganha um emprego numa empresa afiliada. O grande porém dessa experimentação é que todas as memórias que você fez com as pessoas que interagiu nesse ano e a memória das pessoas sobre você serão apagadas em definitivo. Você só tem a opção de aproveitar ao máximo o período do experimento.
ReLife é aquela obra que te faz refletir sobre cada uma das situações que são apresentadas ao longo de sua narrativa. O mangá é uma história de superação de traumas e resgate de memórias que ficaram apagadas devido aos problemas da vida. Fui tocado profundamente com os conflitos dos personagens principais e fiquei bastante apreensivo uma vez que compreendi o real impacto do revés do Relife: todas as relações que você construiu ao longo do período do Relife serão jogadas ao limbo do esquecimento. Você se torna um espaço vago na vida das pessoas que te ensinaram a leveza da vida e as lições que outrora tinha esquecido. E esse dilema é agravado ainda mais quando Arata se apaixona por uma de suas colegas de classe. Você ser esquecido pela pessoa que ama é uma experiência traumática só de pensar.
Os arcos narrativos do mangá são construídos de forma a ensinar ao jovem Arata as lições que ele havia esquecido e o ensinando a ser uma pessoa melhor. Acompanhar a jornada de Arata e viver um 2017 no qual aprendi que mudanças são necessárias apesar do alto preço, ReLife tornou-se uma obra que carregarei na memória com um carinho inestimável.
Durante 5 anos Taiju Ooki tentou sem sucesso se confessar para o amor de sua vida, a jovem Yuzuriha. No dia em que ele decide reunir toda sua coragem para finalmente dizer a ela tudo o que sente, uma catástrofe de proporções globais extingue toda a humanidade transformando-a em pedra. Como únicos sobreviventes (até então) cabe a Taiju e seu brilhante amigo, o cientista Senkuu, fazerem a humanidade avançar novamente à Era Moderna e salvar Yuzuriha. Sim, esse plot maluco é a premissa principal da minha leitura de mangá preferida do ano.
Dr. Stone estreou na Weekly Shonnen Jump em março de 2017 e conquistou meu coração logo de cara. Apesar da premissa difícil de se acreditar de primeira (admito que ligar a suspensão de descrença no máximo ajudou), é impossível pra um apaixonado por ciência como eu não se identificar com Senkuu logo de cara. O rapaz é daquele tipo de pessoa curiosa, que estuda as coisas não porque precisa passar de ano ou tirar boas notas, mas sim, porque é divertido. E essa premissa de que “ciência é diversão e conhecimento é poder” é a mola motriz que impulsionou esse mangá para o topo desta singela lista.
O conceito extrapolado pelo roteirista Riichiro Inagaki (autor de Eyeshied 21, um dos melhores mangás de esporte de todos os tempos) aliado ao traço cartunesco detalhista de BOICHI fazem os capítulos de Dr. Stone serem um deleite aos olhos de quem lê. A história tem um bom ritmo de desenvolvimento, com seus personagens sempre sendo melhores a cada capítulo, com tramas pessoais instigantes e engraçadas.
Mas o que torna Dr. Stone o melhor mangá de 2017 é o fato da ciência ser reverenciada como merece. Ao longo da história, o ser humano conseguiu se desenvolver e criar uma sociedade tecnológica na base da experimentação e método. A ciência contribuiu para o mundo se tornar o que é hoje e Senkuu toma posse desse fato e dá para si mesmo a missão de provar que, com conhecimento, metodologia e disciplina, a sociedade pode sim voltar a ser o que era, mesmo após uma grande catástrofe natural. Os diálogos que Inagaki dá ao personagem deixam claro como cristal o amor absoluto que o personagem principal tem pela ciência. Ver no rosto de Senkuu a satisfação de ter resolvido um determinado problema utilizando conceitos de física, química, matemática, geografia, biologia, e etc. despertaram em mim o orgulho que eu senti ao me formar em química. O traço de BOICHI é impecável em demonstrar os sentimentos dos personagens quando descobrem que a ciência é apaixonante e necessária para retornar a sociedade de volta ao que era.
Mas não pense que Dr. Stone é só isso; Como um bom mangá shonnen, a obra possui lutas sensacionais e diversas cenas hilárias, cenas que inclusive demonstram o primor que é o traço de BOICHI. De longe, é o mangá que eu mais estou ansioso para acompanhar nesse ano de 2018 e, caso você não consiga acompanhar os outros dessa lista, tente dar uma chance a esse. É uma bela obra que enaltece o poder que conhecimento possui.
Divide seu tempo entre ser um caçador de cartas Clow e um cientista nas horas vagas. Não é muito de assistir filmes pois acredita que os mangás não se lerão sozinhos. Canta todas as músicas da dupla Sandy & Júnior e dança todas as coreografias do Backstreet Boys quando está bêbado. Quando está sóbrio também.