Feito na América (American Made, 2017) é estrelado por Tom Cruise, mais uma vez em parceria com o diretor
Doug Liman de
No Limite do Amanhã (Edge of Tomorrow, 2014). O filme é inspirado na vida de Barry Seal, um piloto de empresa aérea que começa a trabalhar para a CIA fotografando bases rebeldes na caótica América Latina das décadas de 60 e 70 e acaba por se envolver com o então emergente Cartel de Medellín na Colômbia de Pablo Escobar.
Liman é um diretor que costumamos ver em filmes bastante diversos como
A Identidade Bourne (The Bourne Identity, 2002),
Sr. & Sra. Smith (Mr. & Mrs. Smith, 2005),
Jumper (2008) e o já citado No Limite do Amanhã. Todos filmes medianos e que apesar de terem o gênero ação em comum vão de espionagem à comédia e à ficção científica. Neste seu novo filme o diretor novamente diversifica nos entregando uma espécie de biografia com toques de humor negro (e que talvez contenha muito menos ação do que seus outros trabalhos aqui mencionados), mas que novamente trata-se de um filme apenas na média. No entanto foi interessante ver o diretor, já veterano, arriscando em sua forma de direção, normalmente bastante objetiva. Neste filme Liman faz uma opção que inicialmente me causou estranhamento, e que não necessariamente estou julgando como uma escolha correta, de tentar criar um efeito de documentário amador em muitos planos, com
zooms inesperados e sem nenhuma explicação e movimentos que deveriam parecer uma câmera na mão. O diretor utiliza-se até mesmo de uma textura de vídeo, para dar a aparência de VHS a alguns planos. O problema é que este estilo que poderia ter sido melhor aproveitado mantem-se inconstante durante todo o filme, dando vez em alguns momentos a uma câmera tradicional, com planos fixos e movimentos simples.
Outra escolha estética inconstante do filme diz respeito à utilização das cores na fotografia. Em alguns momentos podemos perceber um forte destaque ao amarelo, enquanto em outros vemos claramente um contraste entre cores como o azul, o verde e o vermelho, e de repente a cor do filme se altera para tons claros e frios. Não digo que estas escolhas não deveriam ter sido feitas, mas é necessário que haja uma lógica para sua utilização, algo que realmente tentei achar no filme, mas me parece que se trata aqui apenas de experimentações aleatórias do diretor.
A escolha de Cruise para interpretar o personagem principal do filme, que claramente busca um tom de humor satírico, me pareceu inicialmente um equívoco já que nunca esperei muito do ator e ainda mais tratando-se de uma comédia, gênero que não lembro de tê-lo visto em nenhum papel de destaque (exceto pelo execrável Trovão Tropical). Mas, surpreendentemente, mesmo ainda não me parecer uma escolha excepcional, Cruise se sai melhor do que o esperado, entregando, com um sorriso sínico que sabe fazer bem, um homem que realmente me fez acreditar que não pensa muito antes de agir.
A construção desse personagem principal também foi muito assertiva, com apenas uma cena, logo no início do filme, em que Seal desliga o piloto automático e propositalmente causa um “sacolejo” acordando boa parte dos passageiros que estavam dormindo apenas para seu próprio divertimento, conseguimos entender muito da personalidade quase sádica do piloto, tornando crível que logo em seguida ele aceitasse um trabalho absurdo de um agente da CIA sem fazer muitas perguntas. Entretanto o roteiro peca por criar uma estória onde o personagem é extremamente passivo em relação ao que ocorre ao seu redor, como se tudo acontecesse com ele e não por causa dele, e que muitas vezes é salvo por pura sorte ou acaso.
O humor do filme é bastante eficiente – me lembrou com alguma distância de
O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013) ou mesmo do brasileiro
VIPs (2010) – e vem geralmente das situações absurdas em que o protagonista se envolve, como quando ele precisa fugir de quem o persegue ou quando o protagonista tem tanto dinheiro escondido em casa e no terreno ao redor que isso se torna um problema.
Feito na América acerta ao criar uma sátira das absurdas instituições políticas e militares americanas, muito bem representada no filme pelo caricato agente da CIA representado por Domhnall Gleeson, bem como do estilo de vida daquela época e das bizarras tentativas do governo estadunidense de intervir em assuntos latino americanos. Por outro lado a forma como os latinos são apresentados no filme chega a ser ofensiva em alguns momentos, caindo muito em esteriótipos e personagens caricatos, como se todos fossem envolvidos de alguma forma com tráfico de drogas ao algo do tipo.