Shaolin do Sertão e slapstick

Decerto há uma evolução entre Cine Hollíudy, filme dirigido por Halder Gomes em 2013 e o Shaolin do Sertão, filme de 2016. A evolução não se dá só ao nível da decoupagem, mas a nível de roteiro, o claro problema em adaptar um curta-metragem para um longa, presente no filme de 2013, não é encontrado aqui.

Claro que há, ainda, alguns problemas recorrentes, como o humor pautado, sobretudo no regionalismo e o uso excessivo de estereótipos. Contudo, se compararmos ao primeiro filme, o uso desses recursos se torna mais diluído dentro do filme, mantendo assim um bom ritmo. Falando nisso, um dos grandes méritos do filme é a montagem e o uso certo de algumas trilhas, isso faz com que o filme seja muito fluído, não parecendo, em nenhum momento, arrastado ou monótono.

O maior destaque para o filme, também presente no filme anterior, é o desejo do diretor de resgatar um tempo que, claramente para ele, é de fundamental importância, talvez um saudosismo da infância ou do período que começou a ir ao cinema. Fernando Pessoa tem uma quadra que diz: “Saudades, só portugueses. Conseguem senti-las bem,. Porque têm essa palavra. Para dizer que as têm”. Talvez esse filme seja isso, uma imensa saudade. As referências aqui são bem claras e, de certo modo comoventes. A primeira e mais clara são os filmes de luta e kung fu dos anos 70, principalmente aos filmes do grande mestre Bruce Lee, tanto no treinamento quanto nos momentos de sonhos, e ao filme Rocky com o treinamento do roubo da galinha, simulando o icônico treinamento de Mickey e Rocky no primeiro filme.

 

A segunda referência é aos slapstick, tipos de filmes de humor muito comuns no início do século XX, com figuras como as de Charlie Chaplin e Buster Keaton carregando o gênero. O aspecto mais importante nesse tipo de humor são ações físicas, todo o riso é construído por meio de uma extravagância física, o ator caía, corria, batia e tudo isso gerava uma situação cômica do público. O Shoalin do Sertão resgata isso de forma genial ao observarmos a luta final entre o protagonista e o antagonista. A sensação era de estar assistindo a clássica cena de boxe do filme Luzes da Cidade, do Chaplin. Boa parte do uso dessas referências se dá ao excelente trabalho de Edmílson Filho, que está muito bem no papel e com um preparo físico digno do personagem que que ser um lutador de Kung Fu. 

 

Por fim, O Shaolin do Sertão possui mais acertos que erros, as referências aos filmes de Kung Fu e aos slapsticks se sobressaem ao humor pautado nos aspectos regionais. É um filme cearense que vale a pena assistir no cinema, fortalecendo e incentivando, assim, a produção de filmes aqui.