Django Livre

 

Django Livre (Django Unchained, 2012) não é o melhor trabalho do genial Quentin Tarantino.
Em minha opinião sua obra prima na verdade são duas, e não podem jamais ser dissociadas, são elas Reservoir Dogs (Cães de Aluguel, de 1992) e Pulp Fiction (Tempos de Violência, de 1994). Nestes dois filmes o diretor e roteirista (porque antes de tudo, Tarantino é um exímio escritor) cria um gênero que será eternamente ligado a seu nome, um gênero cinematográfico que talvez só tenha sido seguido até hoje por seu amigo Robert Rodriguez.
Mas voltando para o western, pelo menos podemos dizer que o diretor realizou um sonho próprio, o de dirigir um filme neste gênero, ao mesmo tempo em que realizou um sonho de muitos de seus fãs, o de ver um “bang bang” dirigido por Quentin Tarantino. E muito bem dirigido por sinal, como já era de se esperar.
Aguarde os já conhecidos ângulos estranhos de câmera que já são uma de suas marcas registradas, explosões e, claro, muito sangue. Tarantino tem o dom de fazer com que uma sequência que envolva um banho de sangue torne-se uma obra de arte, e diferente do que seus críticos pensam, não são de forma alguma gratuitas. A trilha sonora (como em todos os seus filmes) é maravilhosa, a música tema de Django (a mesma do filme original) fica na cabeça por dias, sem contar as composições do mestre Ennio Morricone. E acima de tudo, o filme é bem escrito, que é o lado do cineasta que eu mais admiro. Os diálogos do filme são primorosos, levando o expectador a dar atenção a seus mínimos detalhes, mesmo que, às vezes, ele pareça não ter sentido ou não ser importante para o desenvolvimento da história em si, o que depois se mostra um enorme equívoco.
E são nos diálogos que Django Livre nos mostra o que tem de melhor, o elenco. Jammie Foxx como o personagem título se mostra extremamente carismático, sempre com o rosto emblemático e ao mesmo tempo mostrando que está sempre a aprender algo com seu mentor, o alemão Dr. King Schultz interpretado pelo não mais que fantástico Christoph Waltz, que repete o brilhantismo que vimos em outro épico “tarantinesco”, Inglourious Basterds (Bastardos Inglórios, de 2009). É impressionante o conforto com que Waltz incorpora o caçador de recompensas. E o que falar de uma figura carimbada nas películas de Tarantino? Samuel L. Jackson como o escravo “baba-ovo” do sinhozinho, chega a dar repugnância no expectador, e o momento em que estranha o tratamento que os “brancos” dão ao tal negro a cavalo é um dos melhores momentos de sua interpretação, além de um dos mais divertidos do filme. DiCaprio não chega a impressionar como o fazendeiro dono de escravos Calvin Candie, fazendo nada mais que uma caricatura de seu personagem, tendo seus altos nos momentos de fúria do personagem. Kerry Washington como Broomhilda passa longe da Broomhilda da ópera Wagneriana O Anel dos Nibelungos (esta uma brava guerreira) mas está mais para uma Rapunzel esperando ser resgatada pelo seu príncipe encantado (a história contada por Schultz a Django em determinado momento do filme, foi obviamente adaptada da lenda alemã, de forma que incitasse o ex-escravo a salvar sua amada).
Algumas participações, importantes ou não, devem ser observadas. Entre elas podemos ver Franco Nero (que interpretou o Django original de 1966), além de Walton Goggins (o ótimo Boyd Crowder da série Justified), uma boa e hilária participação de Jonah Hill, e não poderíamos deixar de lembrar o próprio Tarantino, com uma atuação, podemos dizer, um tanto quanto explosiva.
Django pode não ser o melhor filme do Tarantino, mas de forma alguma pode deixar de ser visto no cinema (é inclusive uma vergonha termos apenas duas salas de cinema na cidade de Fortaleza projetando a película, e não me admiro se a mesma não sair de cartaz em poucas semanas). Vejam Django, se deliciem com as “tarantinagens” e daqui a dez anos podem contar pra seus filhos que viram o Django do Tarantino no Cinema.
Por via das dúvidas, quando forem procurar a sessão, escreve-se DJANGO.
D-J-A-N-G-O…… o D é mudo.