Em 1992 a Disney lançou a animação Aladdin, o trigésimo primeiro filme animado lançado pela empresa e o quarto lançado pela Era conhecida como Renacença da Disney. A animação foi dirigida e produzida por Ron Clements e John Musker e acompanha o jovem morador de rua Aladdin em uma aventura onde ele descobre uma lâmpada mágica que abriga um gênio (dublado pelo incrível Robin Williams) enquanto ele tenta conquistar o coração da princesa Jasmine e se torna alvo do vizir do sultão – Jafar. Um clássico Disney bem interessante, repleto de romance, magia e ação das mais diversas formas possíveis, o tornando um filme bem marcante. Nessa nova onda seguida pela Disney, estão sendo refeitos filmes animados em formato live action e esse Aladdin foi anunciado para um lançamento em 2019 sob a direção de Guy Ritchie.
Quando se trata dessas adaptações em live action criadas pela Disney sempre as vejo com os dois pés atrás, por só ter me decepcionado até o momento. A questão é que a Disney tem feito filmes cujo enredo são cópias carbonadas de suas animações com mais encheção de linguiça para aumentar o tempo de filme. Por um lado temos exemplos do tipo, resultando em filmes honestamente sem o apelo da animação por não se tratarem de adaptações mas basicamente uma tradução de animação para um enredo com atores. Nem todos acham interessante ver uma história repetida sem muitas mudanças. O outro lado da moeda é uma adaptação cujo resultado termina se desviando totalmente do que fora feito no material original e termina se tornando mais uma obra original com personagens de mesmo nome do que uma adaptação.
O filme Aladdin de Guy Ritchie consegue ser um verdadeiro equilíbrio entre algo novo e algo fiel ao antigo. Lembrando que uma adaptação não precisa ser fiel ao original ou sequer ter os mesmos elementos, como Aladdin muitas vezes não o faz. Além de um elenco repleto de atores de ascendência árabe, embora mesmo assim não se tratem de atores árabes em uma história que se passa nas Arábias. Existem elementos da animação cujo efeito seria muito negativo dentro de uma narrativa nas telonas com atores os interpretando, mas o roteiro do filme consegue passar por esses obstáculos muito bem. Um dos novos elementos muito bem vindo é o enredo da Princesa Jasmine (interpretada pela Ranger Rosa do último filme dos Power Rangers, Naomi Scott).
No filme de 92 a Princesa Jasmine tem um enredo que trata sobre ela não ser um objeto a ser conquistado pelos seus príncipes pretendentes, terminando por ter sua vitória ao poder escolher com quem casar mesmo que não se trate de um príncipe. Já no filme live action, Jasmine não aceita precisar de um marido e nem o fato de ela não poder ser sultana. É todo um enredo sobre como ela possui estudo e capacidade para liderar Agrabah, não sobre ela amar ou não seu marido ou pretendente. Necessário ressaltar aqui que da trilha musical do filme atual existe a música de Jasmine – Speechless (traduzida como ‘Ninguém Me Cala’ na versão em português onde é cantada por Isabela Souza) – não existente na versão animada. A música é sobre como a princesa se sente silenciada, como se sua voz não fosse de fato ouvida, algo presente em ambos os filmes mesmo que o seu enredo siga linhas diferentes na duas obras.
Quando questionado sobre os desafios de adaptar um clássico da Disney, o diretor ressaltou que o fato de haver um filme original para o guiar o permitiu ver o que poderia funcionar ou não em sua própria obra. Guy Pierce ressaltou sobre o papel dos números musicais na sua obra e a influência do cinema Bollywoodiano nas apresentações musicais, que são bem claras. Embora ainda se trate de uma obra americana usando da estética do cinema indiano, é interessante ver como os números musicais da obra de Pierce se diferem dos números musicais em outros clássicos da Disney. Mesmo diferentes, os números e as músicas são de aquecer o coração daqueles que assistiram à animação. A presença de uma maior estética Bollywoodiana é um sinal da pesquisa do diretor, que tenta ao máximo fazer esse filme não parecer mais uma adaptação qualquer de um clássico animado da Disney.
Quando o primeiro trailer do filme saiu e tivemos a primeira imagem de Will Smith dando vida ao Gênio houveram muitas críticas ao visual azul do ator presente no longa. Uma dos detalhes que mais se destaca no filme é exatamente o personagem de Will Smith, capaz de capturar a essência do gênio presente no filme original ao mesmo tempo que consegue deixar sua própria assinatura no personagem. A amizade do personagem de Smith com o Aladdin, interpretado por Mena Masoud, assim como sua surpreendente interação com a personagem original criada para o filme Dalia (Nassim Pedrad) são muito benéficas para tridimensionalizar mais o personagem. Mas o humor vindo da interpretação de Will Smith realmente termina sendo o essencial para tornar esse personagem carismático em alguém de fato marcante e capaz de arrancar várias gargalhadas da audiência.
Durante minha juventude eu necessitava de filmes sobre os clássicos da Disney ou então adaptações live action dos contos dos quais esses clássicos se originaram. Isso me levou à primeira vez ao cinema bollywoodiano, o filme se chamava Aladin e era de 2009, dirigido por Sujoy Ghosh. Enquanto os filmes tratam de enredos extremamente diferentes, foi uma referência interessante ao escrever esse texto por se tratar de fato de um longa musical bollywoodiano e adaptação do clássico de “As Mil e Uma Noites” sobre um jovem e uma lâmpada mágica. É de fato uma versão não americana da história, e termina por ser uma boa referência. Para os curiosos de plantão ou que estiverem apenas a fim de dar uma checada por querer diversificar mais o olhar cinematográfico ou só curtir um filme, recomendo. Não esperem uma mensagem tão importante quando o filme desse ano, por não trazer temas fortes como ser fiel a quem se é ou o lugar das mulheres ser onde elas desejarem.
Para finalizar gostaria de dar os devidos créditos ao ator Mena Massoud que faz um incrível Aladdin, muito fiel em sua inocência e seu charme ao Aladdin da animação de 1992. Embora o enredo do personagem não me cative tanto quanto o do gênio ou da princesa, os devidos créditos devem ser dados ao ator pela sua interpretação única e carismática. Na sua versão brasileira o personagem fora dublado por Daniel Garcia, a própria cantora drag Glória Groove, e tanto a dublagem do filme quanto as músicas em português são surpreendentemente bons – especialmente para um live action. Outro ator e personagem que merece seu devido crédito é o maravilhoso Marwan Kenzari – intérprete da versão live action do vizir do rei, Jafar. Talvez por sua tridimensionalidade interpretando o vilão sem precisar o transformar em uma vítima sob nenhuma perspectiva mesmo com um passado um tanto trágico, talvez pelo seu charmes e pelos maravilhosos figurinos dignos de um dos melhores vilões das animações da Disney. Importante ressaltar que Jafar se tornara o melhor vilão dos live actions da Disney, considerando que sua única rival digna se tornara uma anti heroína (Malévola).
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.