O nome dela é Margaret Carter, mas com certeza você a conhece como Peggy. A personagem foi criada para os quadrinhos do Capitão América, por Stan Lee e Jack Kirby. Foi também escolhida para viver o par romântico do personagem em seu primeiro filme, datado durante a Segunda Guerra Mundial e quem deu vida à personagem foi Hayley Atwell durante sua primeira e futuras aparições. De todas as personagens femininas apresentadas na primeira fase dos filmes da Marvel – como interesse romântico, ao menos – foi ela quem mais se destacou como personagem. Logo isso lhe rendeu um curta intitulado Agente Carter (Marvel One-Shot – Agent Carter, 2013) na época onde a Marvel fazia sempre curtas para acompanhar os seus filmes nos lançamentos de cópias físicas.
Embora tenha sido criada a muitos anos, a personagem não possui uma extensa biografia quando se trata de sua contraparte dos quadrinhos. Na verdade ela fora escrita para ser o romance de Capitão antes de ser congelado, apenas isso. Foi exatamente a Peggy do Universo Cinematográfico da Marvel que ganhou um maior destaque para a personagem em diversas mídias. A performance de Hayley ganhou um espaço para a personagem para além do filme do Capitão América, conquistando um lugar na história da SHIELD para a personagem. Peggy foi diretora da SHIELD nos filmes da Marvel, inclusive ela era diretora na época onde Hank Pym (Michael Douglas) e Janet Van Dyne (Michelle Pettifier) trabalhavam para a agência.
Os fãs foram quem pediram mais da personagem, mais de sua história, mais e mais. Então a Marvel com parceria com a ABC atendeu e deu à Peggy Carter sua série em 2015 – Agente Carter. Foi o ano das séries de quadrinhos com protagonistas femininas, considerando que no mesmo ano a CBS estreava Supergirl (2015 -) e a Netflix estreou Jessica Jones (2015 – 2019). Com essa série pudemos ver o mundo e a vida de Peggy Carter após a partida de Steve, em teoria ele estaria morto para todos na série considerando o fato do corpo do Capitão Congelado só ter sido encontrado décadas depois. Na série temos uma Agente Carter vivendo na década de quarenta e lidando com todo o machismo presente não apenas em seu trabalho mas na sociedade em si. Enquanto a sua primeira temporada foi vendida como uma possível minissérie, a mesma foi renovada e teve direito a uma segunda temporada.
Um dos elementos mais interessantes da série é a apresentação do vilão principal, a organização Leviathan, e as agentes que viriam a ser conhecidas como Viúvas Negras. Inclusive uma das vilãs da série possui um estilo de luta muito semelhante ao da personagem de Scarlett Johanson nos filmes da Marvel e isso não fora apenas uma coincidência. Esse foi um dos pontos altos da série da Agente Carter, ter sido capaz de introduzir e expandir mais da história do MCU como um todo. A série não sobreviveu o suficiente para vermos Agente Carter sendo uma das fundadoras e eventual diretora da SHIELD, mas é de conhecimento geral para a mitologia da Marvel tais fatos. A cena onde Hayley Atwell aparece no primeiro Homem Formiga (Ant-Man, 2015) de Edgar Wright coloca a personagem em tal posição.
O papel da personagem dentro da história do universo Marvel como um todo cresceu para muito além do intencionado quando ela fez sua aparição no filme do Capitão América. Inclusive na vindoura série ‘E Se’ que está chegando ao serviço streaming Disney +, teremos o episódio de estréia num universo onde Peggy se tornou a Capitã América – apesar da mesma não ser americana. A série vai ser animada então não esperem ver Hayley Atwell jogando o escudo de vibranium por aí. Pelo menos talvez não. Mesmo com um enorme papel dentro do universo, Peggy ainda simboliza ‘the one that got away’ para Steve e esse é o peso do Capitão para ela. Mesmo assim, a narrativa da série da personagem trata de abordar a superação e aceitação da ‘morte’ do Capitão e também vemos o próprio Steve lidando com a morte de Peggy.
Existem dois momentos pesados e tristes em cada filme do Capitão América como se regras da franquia, cada um desses dois momentos envolvem as duas pessoas mais importantes e amadas por Steve Rogers (Chris Evans). No primeiro filme vemos Steve perder Bucky (Sebastian Stan) durante a batalha no trem em movimento e depois o assistimos se despedindo de Peggy antes de aterrissar o jato no meio do Oceano. Já no filme seguinte temos uma importante conversa de Steve com uma Peggy idosa, com sintomas de Alzheimer, e um Bucky sofrendo com lavagem cerebral sem lembrar de Steve. Há sempre essa balança e é bem estabelecido que essas duas pessoas são incrivelmente importantes para a história do Capitão América. Felizmente dentro de sua série somos capazes de ver a Agente Carter futura diretora da SHIELD superando a morte de Rogers e seguindo em frente. A personagem cresceu para muito além do seu relacionamento com Capitão América e se tornou um símbolo.
Na própria cena onde Steve assiste um filme sobre sua vida, na entrevista de Peggy ela menciona seu marido e a família que construiu. Sua vida cresceu para muito além de Steve embora ele tenha sido alguém a quem ela amou, Peggy lidou com a perda e seguiu em frente e em nenhum momento se deixou definir pela perda de Steve. Quando a vemos em Soldado Invernal ela já é uma senhora de idade e seu marido está morto, mas o seu legado ainda está lá como a antiga diretora da SHIELD. Sua presença no universo não se deu apenas em forma física, embora ela tenha tido sua cota de aparições nas telonas e até em seriados além do seu, inclusive na animação Os Vingadores Unidos (Avengers Assemble, 2013 -).
Seu seriado foi algo muito desejado, mas sofreu muito na sua segunda temporada por diversas formas do enredo. Enquanto tivemos uma primeira temporada onde Peggy lidou com o machismo da sociedade e principalmente na sua área de trabalho, na segunda temporada foi introduzido não apenas um elemento romântico mas um triângulo amoroso. Outro fator que contribuiu para o cancelamento da série após a segunda temporada foi exatamente a presença de uma vilã mais caricata, embora a importância de Whitney Frost (Wynn Everett) para todo um universo seja imensa. O enredo da segunda temporada estava realmente em todo lugar e não permitiu um foco adequado aos assuntos aos quais deveriam ser dados atenção devida. Mesmo com o cancelamento a história de Peggy Carter não chegou a um fim e existem ainda fãs esperançosos sobre uma possível renovação da série para o serviço streaming da Disney.
O mais importante desse texto é levar em consideração que existe muito mais para Peggy Carter do que se tornar um interesse amoroso. A morte de Steve foi uma superação pela qual ela teve de passar, foi um obstáculo ao qual ela superou e foi uma parte importante de sua história. Margaret Carter foi um ícone de personagem, ela se destacou no meio de tantos homens – tanto narrativamente quando figurativamente. Uma das cenas mais importantes para a história dos seriados em quadrinhos é a de Peggy Carter andando com sua roupa azul e chapéu vermelho por dentre o mar de homens engravatados em tons pastéis. Hayley Atwell foi importante para a formação da importância dessa personagem e infelizmente a Marvel não tomou o mesmo cuidado para dar continuidade ao legado da família.
Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.