Anônimo 2 – De férias, mas nunca em paz

Existe todo um subgênero de filmes que engloba ação, comédia e dramas de guerra. Eu chamo de “filmes de pai”. São aqueles que seu pai assiste e fala: “Esse é bom, hein”. Anônimo (Nobody, 2021) foi um marco do cinema de pai porque colocou uma figura paterna como centro da ação: um velho barrigudo e calvo que, no caso do filme, desce a porrada em todo mundo. E agora ele voltou para mais, só que dessa vez está de férias.

Vamos começar dizendo que Anônimo 2 (Nobody 2, 2025) é basicamente a mesma coisa do anterior, só que num parque aquático. Sinceramente, caso você goste de filme de ação, está ótimo isso aí. O que mais me interessou quando soube da sequência foi justamente o fato de se passar num parque aquático, porque uma boa ação usa o cenário nas lutas. É especialmente divertido quando o ambiente escolhido foge do comum. E como todo filme de ação, o protagonista resolve tirar férias, mas simplesmente não consegue ficar longe do caos. Durante as férias arruma confusão e, claro, muita briga.

Sai o diretor Ilya Naishuller e entra Timo Tjahjanto, diretor tailandês que já entregou grandes trabalhos no gênero, como A Noite Nos Persegue (The Night Comes for Us, 2018) e Os 4 Malfeitores (The Big 4, 2022). Com isso, temos uma mudança no estilo da ação: sai o frenético e fluido estilo russo do filme anterior e entra o estilo tailandês, mais detalhado e igualmente dinâmico.

Bob Odenkirk, que antes não era conhecido por papéis de ação, merece destaque pelo claro esforço em aprender a lutar. No filme anterior já dava para notar algo, mas agora, pelo estilo de direção asiático que expõe muito mais os golpes, ele precisou se aprimorar ainda mais. Desde as primeiras cenas, quando ainda não está de férias e vemos o protagonista em seu trabalho matando várias pessoas, já fica claro que a fluidez será maior. O olhar atento vai perceber uma grande variedade de golpes, todos adaptados ao estilo do personagem. Nunca deixa de ser crível porque a coreografia é pensada para se encaixar no corpo dele e entregar um estilo de luta sujo, o que condiz com sua construção. Seria estranho se mostrassem um estilo limpo e formal, como o de um profissional. Nosso protagonista aprendeu a lutar para sobreviver, usando o que tinha à disposição, sem honra: ele só bate.

Tudo isso se encaixa bem dentro do cenário do parque aquático. O filme sabe aproveitar muito bem o ambiente, com várias cenas em brinquedos que lembram os filmes do Jackie Chan pela forma criativa de usar o espaço. Eles realmente exploram cada recurso do parque aquático e dessa cidadezinha de interior com seu parque de diversões antigo.

Algo que melhora bastante é a adição da família. O avô, interpretado por Christopher Lloyd, o eterno Doc Brown de De Volta Para o Futuro, entrega uma atuação caricata e divertida como um vovô ex-militar maluco que está sempre fumando seu charuto e participa ativamente da ação. Os filhos, apesar de não terem muito destaque, ajudam a trazer o protagonista mais para o chão. Já a esposa cai naquele clichê chato de ser a voz da moral da história, mas não dá para esperar tudo de um filme de ação.

Sharon Stone está completamente caricata interpretando a vilã Lendina. Ela claramente se diverte, mas sua personagem é jogada de qualquer jeito no roteiro, só porque precisava existir um vilão. Também vale a menção ao RZA (O rapper do Wu-Tang Clan), que aparece do nada pra uma grande cena de ação e só. Quando vejo algo assim gosto de pensar que ele simplesmente chegou no estúdio e disse: “Queria dar umas porradas e entrar no elenco desse filme, pode ser?”. A equipe não mexeu em nada, só escreveu duas falas para justificar e deixaram o cara participar. Dentro do que faz, ele manda muito bem, em especial numa cena com uma katana que termina com a melhor frase de efeito do filme.

Enfim, é uma grande e divertidíssima bobeira de ação para assistir quando não quiser gastar um neurônio. Para quando quiser deixar o cérebro lisinho igual um peito de frango. Uma excelente adição às listas de filme de pai.


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