Quem leu meu texto sobre a Segunda Temporada de Round 6 (Ojing-eo Geim, 2021 – 2025), percebeu que eu tinha dúvidas sobre o rumo da série. E se algumas delas não foram confirmadas na 2ª Temporada, se confirmaram agora nesta 3ª Temporada.
Vamos com calma.
A terceira temporada veio carregada de promessas. Tantas que até me perguntei como seriam resolvidas em apenas 6 episódios, mas devido à excelente produção da 2ª temporada, ganhei confiança de que tudo se resolveria maravilhosamente bem. E com isso, eu obviamente não estava esperando o final feliz. Round 6 NUNCA me preparou para um final feliz. Eu vou chegar lá.
Parece uma temporada mais apressada. Muitas pontas soltas foram amarradas às pressas para entregar o final de uma história enrolada. Até os jogos infantis foram mais rápidos. Soluções simplistas para personagens complexos. Alguns personagens tem seu fim antes de sabermos a sua história. É um pouco frustrante, visto que a série sempre prezou e zelou pela história de suas personagens, que possuem nuances e questionamentos moralmente duvidosos. Talvez uma ou duas horas a mais já resolvesse esse pequeno problema. Digo pequeno porque, apesar de me incomodar com alguns desfechos, é um problema realmente pequeno perto do final incrível e coerente que a produção teve, tudo faz bastante sentido. Acho que todos esses desfechos já estavam previamente programados, alguns apenas não tiveram o tempo necessário pra entregar tudo de forma redondinha.
Entretanto, é de forma corajosa que o diretor e roteirista Hwang Dong-hyuk confronta muitos dos estereótipos de um país conservador como a Coreia do Sul. Homens que tomam decisões extremamente machistas (e egoístas!) o tempo todo, uma falta de empatia constante com mulheres e inclusive com quaisquer outros seres humanos durante os jogos por algumas personagens e até mesmo com OUTROS HOMENS considerados “mais fracos” (perante ao que se denomina “ser homem” dentro de estereótipos machistas) são questionados de todas as formas, especialmente pelo personagem principal, Gi-hun (Lee Jung-jae). Gi-hun é escrito de forma delicada pelo roteirista e diretor, mas não só isso. Gi-hun ora parece “fraco”, ora parece o único sensato numa roda de 9 pessoas e os enfrenta com uma força descomunal (física e emocional). O sistema brutal de Round 6 é uma analogia ao sistema capitalista: as regras são alteradas constantemente por um pequeno grupo de ricos, e indivíduos são privilegiados ou prejudicados conforme a vontade daqueles que controlam o jogo, entre outras coisas. E é admirável notar que Dong-hyuk escreve o protagonista de forma que ele tome absolutamente todas as decisões mais humanas possíveis diante das situações apresentadas. Gi-hun possui um senso moral forte e que, por mais que enfrente uma situação impossível, ele repensa até chegar em uma solução mais humana. Isso não é reservado apenas à Gi-hun, mas à Hyun-ju – a jogadora nº120 (Park Sung-hoon) e à Jun-hee – a jogadora nº 222 (Park Seo-joon). Duas jogadoras extremamente bem escritas, que possuem pulso firme e uma força física e emocional de dar inveja à muitos homens de Round 6. Outros personagens mais moralmente questionáveis, mas tão bem escritos quanto, são Min-su – nº 125 (Koo Park), Nam-gyu – o nº 124 (Roh Jae-won) e Lee Myung-gi – o nº 333 (Yim Si-wan).
Visualmente, a série continua um deleite. O Design de Produção, os CGIs (efeitos de computação gráfica) e a Direção de Arte, juntamente com a Fotografia, entregam uma coerência e uma coesão absurda no que se diz respeito ao universo de Round 6. Um verdadeiro primor do audiovisual de um povo que preza muito por estética (tem dúvidas? assista à um videoclipe de k-pop!) e obviamente se tornou um dos maiores fenômenos da Netflix. Não poderiam entregar nada menos do que isso.
Apesar dos pequenos deslizes de roteiro na 3ª temporada, Round 6 ainda entrega o que promete de forma consistente e épica. Muito me impressiona as diversas críticas negativas ao final da série, eu não entendo o motivo de tanta revolta, visto que a mesma nunca havia prometido um final feliz. Uma das decisões finais mais criticadas nas redes sociais, na minha opinião, era esperado desde o início da 2ª Temporada. Talvez Hollywood tenha nos acostumado muito mal, com finais 95% do tempo felizes. Talvez as pessoas só precisem enxergar ALÉM. Independente se você gostou ou não do final de Round 6, essa é definitivamente uma daquelas séries que entrará para a História e seu final será lembrado por um bom tempo.
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Cineasta finalmente formada, nascida e criada em São Paulo, infelizmente. Quando empregada, atua como fotógrafa. Prefere maratonar séries do que dormir, cai muito fácil em provocações, mas tem o riso frouxo e gosta de abraços.