Capitão América: Admirável Novo Mundo – Precisava de mais Sam Wilson nessa farofa

Apresentado em 2014, o personagem Sam Wilson (Anthony Mackie) se juntou às aventuras do Universo Cinematográfico da Marvel através do filme Capitão América – O Soldado Invernal (Captain America: The Winter Soldier, 2014) e ganhou participação nos Vingadores até em 2019 receber o escudo de Steve Rogers (Chris Evans). A jornada de Sam Wilson para se tornar o Capitão América e aceitar essa nova jornada foi o foco do segundo seriado lançado pela Disney+: Falcão e o Soldado Invernal (The Falcon and the Winter Soldier, 2021). Isso foi em 2021, com a última aparição do Capitão América em todo o universo Marvel e um vindouro filme parte da jornada de Sam como Capitão América, sem o uso do soro do super soldado, enfrentando grandes ameaças. Quatro anos depois o herói teve sua estreia nos cinemas, no longa-metragem Capitão América: Admirável Novo Mundo (Captain America: Brave New World, 2025), dirigido por Julius Onah.

Tirando um pouco do meu peito é meio necessário expressar toda a frustração sobre a falta de personagens da mitologia não só do Capitão América ao longo dos anos, mas do Sam Wilson – antes e depois de assumir o manto. Mas bem, adaptações são adaptações, e a essa altura do campeonato se permitir olhar para obras desse universo sem as amarras dos quadrinhos tem sido grande parte do trabalho. Apesar da ausência dos personagens do núcleo do Capitão América, o filme se mostra capaz de amarrar uma trama de thriller político com cenas de ação muito bem. Semelhante aos dois filmes da franquia do Capitão América dirigidos pelos Irmãos Russo, o filme parece bem mais distante dos filmes da Marvel em abraçar as cores e loucuras dos quadrinhos e se assemelha mais a um filme de ação e investigação mais tradicional.

Diferente dos demais filmes (tanto da franquia do Capitão quanto da Marvel) esse filme parece extremamente mais político e de forma mais assumida. Apesar de não beber muito das eleições, há certos e importantes paralelos com o fato dos Estados Unidos terem eleito um homem com um passado perturbador, associado a muitos crimes e um pavio estupidamente curto capaz de começar uma guerra a qualquer momento – Thaddeus Ross (interpretado aqui por Harrison Ford, que assumiu o papel após o falecimento de Willian Hurt). Como boa parte da trama desse filme, o personagem originalmente faz parte do enredo do Hulk e é necessário tirar esse fato do caminho: Capitão América: Admirável Novo Mundo é uma continuação direta dos eventos do filme O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, 2008). Funciona? Funciona, mas é no mínimo questionável a primeira aventura de Sam Wilson nos cinemas como Capitão América ter absolutamente nada a ver com seus mitos ou sequer as pontas soltas deixadas por sua série Falcão e o Soldado Invernal.

Diferente de seu predecessor, Sam Wilson narrativamente tem uma maior preocupação em como seu status como Capitão América e a relação do mesmo com o governo são estabelecidos. Entendendo o mundo sem os Vingadores e como a todo momento acontecem mudanças, o personagem reconhece seu papel no “admirável novo mundo” e entende que trabalhar com o governo é mais benéfico para suas missões. Isso ainda não o impede de quebrar e dobrar regras, mas, como Capitão América, ele consegue manter-se ao lado do governo de sua própria forma, mesmo em momentos onde “quebra” as regras. Inclusive, o enredo do filme se beneficia com Sam tendo de se manter alinhado com as escolhas do governo, mesmo precisando e tentando defender um grande aliado e mentor – Isaiah Bradley (interpretado novamente pelo talentosíssimo Carl Lumbly). A relação destes dois, aliás, aprofundada desde o seriado de 2021, é muito gratificante de se assistir e entrega bem as motivações do herói titular por se sentir responsável pelo amigo e disposto a lutar por sua inocência.

Dentre as demais franquias e obras dentro do MCU, os filmes do Capitão América sempre lidam com estética e enredos mais pautados em conceitos realistas. O que isso significa? Não tivemos adaptações fiéis de personagens dentro destas obras na maioria das vezes, menos cores, mais realismo e mais militarização. De todas as obras da Marvel, até mesmo das adaptações dos quadrinhos recentes, os filmes de Capitão América bebem muito do legado deixado pela franquia do Batman de Christopher Nolan. Filmes conhecidos por abordar uma pegada mais realista do herói dos quadrinhos, bem menos cores e fidelidade aos conceitos originais dos personagens. Tanto as cores dos uniformes de Joaquin Torres (interpretado pelo carismático Danny Ramirez) como Falcão, o design de um dos antagonistas da obra e mais a presença de um super herói dos quadrinhos transformado em um general do exército sem qualquer referência a sua personalidade. A Sociedade da Serpente dos quadrinhos foi totalmente transformada em um grupo terrorista sem qualquer referência a suas habilidades ou sequer designs nas HQs. 

Se por um lado temos um pé no realismo dentro da obra, tentando seguir um certo tom, também nos foram dadas incríveis cenas de ação protagonizadas por Anthony Mackie voando e o seu escudo de Capitão América. Afinal, o Capitão América surfando em um míssil é algo totalmente quadrinesco e, honestamente, maravilhoso de se assistir nas telas. As cenas de ação desse filme são épicas, apenas podendo ser proporcionadas por um Capitão América voando pelos ares, o filme se beneficiaria caso aproveitasse mais ainda estes elementos. O maior problema do filme é querer ser menos quadrinhos e mais uma obra sobre política e ação, sendo que os elementos dos quadrinhos seriam muito melhores para todos os enredos dentro da obra. A dicotomia entre as cores vibrantes, quando as permitem surgir no filme, é visualmente deslumbrante e fazem parecer páginas de quadrinhos trazidas à vida.

É preciso ainda falar um pouco do marketing desse filme, pois um elemento – em teoria – “surpresa” para a obra foi revelado desde seu primeiro trailer – a presença do Hulk Vermelho. Mas, para ser sincero, a revelação do Hulk Vermelho estar presente no filme, revelando eventualmente também sobre o Presidente Ross ser ele, contribuiu muito para a tensão ao longo do filme. Com o passar do enredo a audiência vai se questionando quando a bomba vai explodir, embora o próprio enredo às vezes trate o fato como uma revelação ao mesmo tempo a estética das cenas de tensão com Harrison Ford são tratados como se prestes a mostrar o monstro vermelho. Mas o grande monstro radioativo aparece apenas por poucos minutos, mas se mostra um adversário adequado para o Capitão América de Sam Wilson, mesmo não sendo o antagonista principal da obra, mas uma mera ferramenta. O marketing do filme pautado na presença do Hulk Vermelho funciona para a construção de expectativa da obra.

Capitão América: Admirável Novo Mundo estreia em maio ou junho no Disney+, com Anthony Mackie como protagonista, faltando mais apego ao seu personagem vindo da própria narrativa, mas entregando uma ótima aventura de ação para se divertir. Destaque para as brilhantes atuações de Mackie e Ford, também para o esforço do roteiro de amarrar nós esquecidos por mais de dez anos para a fanbase do MCU.


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