Uma discussão que sempre acontece quando se cria história, é estabelecer qual gênero uma obra pertence, pois muitas vezes ela mistura vários elementos e uma dessas misturas que mais dá certo é quando se une ficção científica com ação. E claro que A Linha da Extinção (Elevation, 2024) seria tão bom ou até melhor que muitos filmes que testaram essa junção.
O mesmo enredo
Desde Independence Day (1996), pelo menos na minha memória sendo o mais antigo que mistura elementos de ficção científica e ação – no sentido mais armamentista possível e claro, com uma grande dose de patriotismo estadunidense, com a ideia de: “Se eu salvar o EUA, eu salvo o mundo, pois esse país representa o mundo”. Depois, em 2005, Tom Cruise estrela Guerra dos Mundos (War of the Worlds), sendo mais voltado a sobreviver, e retorna em No Limite do Amanhã (Edge of Tomorrow, 2014), que o coloca em um looping durante uma guerra contra alienígenas monstros que querem acabar com a humanidade, e apenas a tecnologia e a corridinha do Tom Cruise será capaz de vencer. Houve uma tentativa de conseguir o mesmo sucesso e expertise com o filme A Guerra do Amanhã (The Tomorrow War, 2021), que tem um roteiro fraco, um mistério que todos os super técnicos e cientistas parecem ser incapazes de descobrir, sendo que fica claro nos dez primeiros minutos de filme essa revelação. Tendo ido assistir A Linha da Extinção sem nenhuma informação para além dos protagonistas, acredito que seguindo nessa trilha de filmes de monstros e/ou alienígenas, eles conseguiram entregar uma história interessante e com revelações que não subestimam a inteligência de quem assiste, mas também nada complexo demais para parecer ser mais do que se propõe.
A linha
Algumas regras compõem esse universo, sendo o principal o fato de que esses monstros não ultrapassam o limite de 2.400 metros de altitude. O motivo é desconhecido e mais um dos inúmeros mistérios que rondam essas criaturas. Isso e à forma que eles quase não são mostrados, mesmo sendo um filme muito claro e com ambientações, em sua maioria, abertas, o que aumenta a tensão sobre esses monstros, sendo uma breve referência a Alien – O 8º Passageiro (Alien, 1979), mas que utiliza muito bem dos efeitos nesse cenário, o que considero um grande marco, pois, mesmo com o avanço da tecnologia atualmente, muitos filmes optam em utilizar a escuridão e ambientes fechados para criar essa tensão de monstros vs. humanos. Esse limite de altitude permite que a população que sobreviveu fique nas montanhas e colinas, tentando lidar com as dificuldades que o clima mais frio pode trazer. Ou seja, as dificuldades com produção de alimentos, caça de animais e água são ainda mais difíceis para esses povoados. Outro ponto interessante é que esses seres além de surgirem de repente, também parecem ser indestrutíveis, o que brinca com a esperança dos personagens e com a nossa.
Tudo é sobre sobreviver
Will (Anthony Mackie), é um pai em luto que vive em um desses povoados nas montanhas, junto de seu filho, Hunter (Danny Boyd Jr.), que também lida com a morte da mãe, mas se sente atraído a explorar o mundo que lhe foi tomado. Will sofre com a possibilidade de perder a única pessoa que restou, para além dos perigos externos, eles ainda são humanos e isso inclui estarem expostos a doenças. Hunter tem uma doença respiratória não especificada que causa crises enquanto dorme e há a necessidade da utilização de filtros de oxigênio toda noite. Quando Will percebe que esse recurso está acabando, ele se vê sem alternativa a não ser ultrapassar a linha para tentar uma chance de salvar seu filho.
Para isso, precisa pedir ajuda de uma cientista alcoólatra e arrogante que foi a única a sair do vale e voltar com vida, entretanto Will odeia Nina (Morena Baccarin) e isso é um ponto excelente, já que Anthony e Morena tem uma química muita boa. A tensão é palpável, mas a dinâmica entre eles funciona quase como um mecanismo, assim como a confiança por um bem maior, Will para salvar seu filho e Nina querendo voltar em seu laboratório, pois acredita que lá estará a forma de como matar esses monstros.
Por que (não) extinguir a humanidade?
Essa regra da altura é um ponto crucial, um mistério que me deixou bem apegado ao filme, para além disso, a apresentação desses monstros invencíveis como rápidos, fortes, que localizam os humanos através da liberação do gás carbônico, deixa uma grande pergunta em nossas cabeças: quem são esses seres? Porque eles têm esse limite? Seu objetivo é destruir a humanidade? Se sim, porque eles chegam perto dos 2.400 metros, mas não o ultrapassam? Eles tem objetivo? Porque não atacam animais? Eles são veganos? Eles estão tentando retomar o equilíbrio ambiental do planeta? Só saberemos as respostas – se é que elas existem – a todas essas perguntas assistindo ao filme. Além disso, é um filme muito bem feito, com ótimo elenco e que deixa uma pontinha para uma continuação que eu com certeza verei.
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Estudante de Letras, ainda fingindo ser escritor, mesmo nunca lançando nada. Um paulista perdido pelo nordeste e obcecado por bolinho de chuva. Apaixonado por Duro de matar e filmes de heróis, evito musicais e romances clichês.