De Longe – O terror na vulnerabilidade

Um dos elementos essenciais a qualquer obra de terror é a atmosfera. É ela que vai fazer com que os demais elementos, por mais bem ou mal orquestrados que estejam, funcionem ou não. E De Longe (2024), escrito e dirigido por Aparecido Santos e produzido por Gustavo Marques, tem uma atmosfera perturbadoramente claustrofóbica. Isso, claro, funciona perfeitamente para a proposta da obra. Em quase todas as cenas, a câmera segue quase colada no rosto de Karina (Nicole Mota), a protagonista, ou em detalhes do cenário. Para além de nos aproximar da personagem, fazendo basicamente com que vivamos as situações junto com ela e possamos perceber os detalhes de ruas reações emocionais aos eventos, nos traz também uma sensação de claustrofobia, passando a impressão de aperto mesmo nas tomadas gravadas em ambientes abertos. Isso é um elemento essencial pois, mesmo não estando fisicamente presa a nada, Karina se encontra em situações desconfortáveis e perigosas diante das quais se vê impotente, como o estranho comportamento da irmã, que havia sumido na noite anterior e se isolado após chegar em casa sem dar satisfações, atitude sobre a qual Karina não tem nenhum poder; a angústia de estar sozinha na rua tarde da noite, quando esperava que teria a companhia da irmã para voltar pra casa; e a “perseguição” do Homem de Preto, criatura (se é que podemos chamar assim) de aparência pálida e mórbida que começa a rondá-la.

Com esse cenário montado, o curta-metragem traz uma trama simples, mas muito competente no que se propõe. A real natureza da ameaça é revelada por meio de conversas de fundo, notícias que passam na televisão e pistas que são deixadas para a audiência. A escolha pelo tema da invasão extraterrestre também contribui para a sensação de impotência citada anteriormente, pois como lidar com ameaça que vem lenta, sorrateira, mas certeira? A imensidão de algo muito maior do que aquilo que podemos lidar. E aqui, entra também o elemento do horror cósmico que, embora muito mais evidente ao final, está presente de forma diluída desde o começo. Afinal, o tempo todo, sentimos que há algo errado. A trilha sonora, os enquadramento de câmera e até a distorção na voz da personagem Karol (Aylis Alves) nos indicam que há algo de estranho. A todo momento, algo parece prestes a acontecer, mas não sabemos o que ou de onde virá. E no fim, quando a ameaça se concretiza, continuamos sem saber absolutamente nada sobre qual é, de fato, a sua natureza. Aqui, a atuação de Nicole Mota é perfeita para transmitir o horror paralisante de algo que não conseguimos nem conceber a existência. 

Já que estamos falando sobre o final do filme, é interessante como ele é a culminação ideal de tudo que foi se construindo e escalando até esse momento. A preocupação com o sumiço e atitudes estranhas da irmã; o receio de estar vulnerável à noite na rua; o medo de uma figura estranha e hostil que se aproxima de forma (quase) sobrenatural. A cada minuto, os elementos vão se coordenando para gerarem desconforto e aflição, e tudo isso culmina com o retorno da personagem para casa, aparentemente sã e salva. O rápido alívio que podemos sentir com o retorno da protagonista ao lar é logo quebrado com elementos de histórias de invasão domiciliar: alguém esteve ali, tudo está fora do lugar e tanto Karine como os espectadores sabem que algo está, de fato, acontecendo. Não há mais como fugir. Mas de que? A última sequência do curta é puro desespero e agonia que nos faz segurar o fôlego.

De Longe consegue, em sua curta duração, combinar diversos elementos que transmitem a vulnerabilidade de sua protagonista e nos faz ficar tensos e ansiosos o tempo todo. Uma obra de terror e suspense agoniante, porém deliciosa de assistir.


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