Apresentando Eve Atômica – Ser normal ou ser especial?

Se você assistiu Invencível (Invincible, 2021 -) e não acha que a querida Samantha Eve Wilkins ou Eve Atômica é uma das melhores personagens, por favor, peço que melhore.

Eve é não apenas uma personagem muito marcante, como vai adquirindo cada vez mais importância na história de Mark Grayson. Seu papel foi muito aprimorado e sua personalidade amadurecida na adaptação do quadrinho onde ela é muitas vezes subaproveitada ou colocada em situações questionáveis. E isso não se resume ao maiô do seu uniforme ter se tornado um shortinho.

Por exemplo: na série, quando decide usar seus poderes para ajudar as pessoas sem lutar contra vilões, Eve vai para cidades ali nos Estados Unidos mesmo e suas ações acabam se voltando contra ela para refletir que nem tudo é simples como ela imagina. Enquanto que no quadrinho ela vai para a África, ajuda pessoas em situação de vulnerabilidade e é isso, tudo bem. Sim, jogam a personagem para outro continente para uma subtrama sem importância onde ela se torna literalmente o estereótipo da salvadora branca. É uma história do início dos anos 2000 então eu dou um desconto, não era época de se pensar muito a importância de personagens femininas ou tropos racistas e para a série isso foi muito bem reparado. Um tapinha no ombro de Robert Kirkman por ter melhorado isso.

Como uma personagem tão boa, ela acabou ganhando um especial para chamar de seu antes do lançamento da segunda temporada da série Apresentando Eve Atômica (Invicinble: Atom Eve, 2023) onde temos sua história de origem contada, então nesses 50 minutos vamos ter um vislumbre do passado de Eve e entender de onde vieram seus poderes e convicções. Eu ainda não terminei de ler o quadrinho de Invencível, não tenho certeza se toda essa história é contada por lá, mas imagino que sim.

O episódio já começa com uma sensação de “saudades do que a gente não viveu” com os Guardiões Globais enfrentando a Liga Lagarto em um laboratório, a equipe análoga a Liga da Justiça teve pouco tempo de tela na primeira temporada por motivos que todes sabemos e ainda temos traumas sobre. Então já sabemos que estamos no passado, mesmo não sabendo o quanto.

Logo em seguida conhecemos o Dr. Elias Brandyworth e Polly, figuras desconhecidas, mas que logo entendemos, estão relacionadas ao nascimento de Eve. Nossa ruiva foi criada em um laboratório do exército para se tornar a arma perfeita, mas Brandyworth deu um jeito para que ela fosse criada por uma família normal, como uma criança normal. A questão é que logo cedo, Eve deu sinais de que não era tão normal assim, por mais que seus pais adotivos quisessem.

Nesse momento onde passamos pela infância da personagem é que temos explicado em maiores detalhes uma questão que pelo menos para mim tinha ficado um pouco nebulosa na série: qual afinal são os poderes dela? Agora ficou mais claro. Eve consegue alterar a realidade, ela consegue enxergar a estrutura molecular das coisas e assim alterá-las a seu bel prazer, além de conseguir criar construtos com sua mente. Por isso ela consegue transformar sua roupa civil em seu uniforme de super-heroína ou se limpar mesmo sem tomar banho.

Sua maior questão gira em torno de aceitar ou não suas habilidades, ou mesmo que elas não a tornam especial de um jeito que as pessoas gostariam. Sua família gostaria que ela fosse o mais mediana possível, são aquelas pessoas bem comuns que só querem uma vida mais comum possível e sua aptidão para ciências as incomoda, enquanto sua única amiga, Val, gosta que ela seja uma esquisita sabe tudo, mas não consegue lidar com seus poderes, que ela própria adora. Mas o ponto principal do conto é quando ela precisa enfrentar os experimentos que vieram depois dela, crianças que mal conseguem estar vivas e para mim a parte mais triste do episódio.

Essas pinceladas sobre o limite da ciência, ainda mais nesse tipo de universo se junta à história de Eve e culmina em uma lição que toca qualquer pessoa, cinco crianças não tiveram a chance de ter uma família ou mesmo uma vida, por conta desse experimento. E uma delas vai carregar as cicatrizes desse evento para sempre.

Com uma animação de qualidade superior a alguns episódios da segunda temporada, o especial flui muito bem e não perde o ponto do que quer contar, deixando inclusive uma amostra da dimensão real dos poderes de Eve que pode ser explorada mais para frente na trama principal.

Apresentando Eve Atômica nos presenteia com um bom episódio que mostra bem a origem da personagem, de modo que na série provavelmente se resumiria a apenas a alguns flashbacks, já que o principal na série é realmente Mark. Fico na expectativa então de que mais personagens ganhem episódios assim para serem bem desenvolvidas sem atrapalhar o ritmo da história principal.


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