Eu não sou lá muito fã dos filmes anteriores do mercenário tagarela, tendo inclusive uma opinião controversa, que diverge da maioria, preferindo o segundo ao primeiro, de modo geral.
“Mas, porém, contudo, todavia, entretanto”…Foi meio impossível pra mim não ficar embriagado pela atmosfera de festa entre amigos que tomou conta de toda a campanha de divulgação e material promocional do longa. Facilmente entrei nesse clima de que pouca coisa ali importaria de verdade, muito parecido com a época cheia de rumores de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (Spider-Man: No Way Home, 2021). Eu aproveitei cada segundo daquele surto coletivo e não me arrependo, gostei demais do filme. E aqui estava eu pronto pra fazer tudo de novo.
Então, qualquer pessoa que conversou comigo por mais de cinco minutos nos últimos dias sairia desse encontro sabendo: eu estava animado para Deadpool & Wolverine (2024), mas eu não tinha absolutamente nenhuma expectativa de que o filme fosse ser qualquer outra coisa além de muitas e muitas falas do Ryan Reynolds, sangue, porradaria e piadas duvidosas.
E sim, o filme é exatamente isso. Só que, por cima de toda barulheira constante e as inúmeras participações especiais, certamente a parte mais surpreendente em Deadpool & Wolverine é que o filme tem algo a dizer e, honestamente? Acho que é a mensagem mais sincera que já colocaram num filme de boneco.
Claro que é algo que só encontra força quando observado através de muita metalinguagem e muitos anos do subgênero “filme de herói” de bagagem, não é que os dilemas de Wade Wilson por si só nos convençam ou que o tom do filme fique dramático de repente, nesse aspecto o filme continua na média esperada. Mas, é um discurso que está ali e dialoga com a gente, principalmente com a gente enquanto público, enquanto consumidores e fãs da tal cultura nerd, que decide quem foi bem e quem foi mal, quem conseguiu ser relevante, quem foi um completo fracasso, quem superou as expectativas e pode ser idolatrado e quem merece morrer no limbo.
Pode ser que, no fim das contas, essa tal mensagem seja vista apenas como um comentário óbvio ou uma desculpa esfarrapada para enfiar quantos cameos fossem possíveis, uma forçação de barra ou campo fértil de piadas…Mas eu achei sincera e surpreendentemente sensível. E a última coisa que você espera em um filme do Deadpool é algo assim, né?
Voltando ao universo do Homem-Aranha rapidinho, quando foi preciso substituir o icônico e amado Tobey Maguire, o ator Andrew Garfield parecia muito empolgado, como se estivesse realizando um sonho de criança – e que criança nunca sonhou em ser o Homem-Aranha? um dos personagens mais idolatrados pelos fãs de quadrinhos. Era legal vê-lo falando a respeito do projeto.
Daí, quando a recepção do filme foi ruim, eu lembro de me pegar pensando quão decepcionante deve ser colocar tanto trabalho e dedicação em algo que você gosta muito pra ser tão rechaçado depois. E aqui em Deadpool & Wolverine, duas figuras que já tiveram seus próprio altos e baixos nas telas, nós encontramos várias pessoas, ficcionais ou não, que passaram pela mesma situação, todas elas querendo literalmente lutar por validação uma última vez.
Achei bonito, portanto, que um filme de boneco que meio que faz uma volta completa em si mesmo, na própria bagagem e contexto, pare um pouco pra nos lembrar que por trás das máscaras e trajes extravagantes, tem seres humanos como nós, trabalhando, se divertindo, realizando talvez sonhos ou fantasias infantis, tentando fazer o seu melhor pra vencerem e se tornarem heróis. Olhando em retrospecto todo o histórico dos envolvidos, só mesmo um filme do Deadpool, do Ryan Reynolds com o Wolverine de Hugh Jackman, seria capaz de fazer isso, de uma forma que ainda faz algum sentido dentro do universo do filme.
O resto das coisas você já sabe: piadas funcionam, lutas legais, muita violência gráfica e easter eggs a rodo, o básico de um filme de herói hoje em dia. Ah, e tem também muito service para os fãs de Wolverine. Confesso que soltei alguns gritinhos de nerdola safado durante as duas horas de filme. E se fosse só isso, que era o que eu tava esperando, já tava bom. Que bom que resolveram colocar o personagem mais verborrágico da Marvel pra falar algo relevante, afinal.
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Roteirista e podcaster bacharel em Cinema e Audiovisual. Ex-potterhead. Escuta música triste pra ficar feliz e se empolga quando fala de The Last of Us ou Adventure Time. É viciado em convencer as pessoas a assistirem One Piece, apreciador dos bons clássicos da Sessão da Tarde e do Cinema em Casa e, acima de tudo, um Goonie genuíno.