Madame Teia – Poderia ser melhor, mas poderia ser bem pior

Madame Teia (Madame Web, 2024) foi um longa-metragem lançado em 2024, dirigido por S. J. Clarkson, com roteiro assinado por ela, Matt Sazama, Burk Sharpless e Claire Parker. Na história do filme, acompanhamos a paramédica Cassandra Webb (Dakota Johnson) com suas habilidades de clarividência a colocando em rota de colisão com segredos de seu passado e a vida de três adolescentes de origens diversas. A construção da relação entre essas três jovens, interpretadas por Sydney Sweeney, Isabela Merced e Celeste O’Connor é uma dos acertos presentes no filme. Talvez pela juventude e pela química do elenco, a interação entre as três realmente parece algo palpável dentre outras relações nem tão bem construídas. 

Não ironicamente esse filme tinha algum potencial, sendo a história da Madame Teia, personagem conhecida pela animação da década de 90 de Homem-Aranha e uma personagem com uma mitologia interessante. Tanto dentro dos quadrinhos quanto por potenciais criativos, uma vidente capaz de ver outras dimensões, conectadas com essas “pessoas aranha”. O problema do filme começa por um lugar bem específico, e é um lugar do qual ele não consegue fugir: a Sony Estúdio, responsável por toda adaptação dentro do universo do Homem-Aranha, sem a presença do mesmo, com enredos previsíveis e personagens caricatos. 

Antes de tudo preciso firmar como esse filme não é tão ruim quando pintaram ele, na verdade é mais básico e burro, mas não ruim. Tipo, não é ruim para o padrão da Sony ao menos. Acredito demais que parte do ódio recebido por esse filme tenha sido pelo fato de ser um filme feito com elenco feminino e dirigido por uma mulher. Claro, parte dos ataques ao filme são justificados, mas ao meu ver a obra não é toda a desgraça a qual falaram que seria. Meu maior problema com o filme se dá pela burrice dos personagens principais – a protagonista e o próprio antagonista – e mais uma vez um péssimo uso de um universo tão cheio de possibilidades. Esse último problema é basicamente impossível de fugir até agora nas obras feitas pela Sony usando personagens do Homem-Aranha. 

Assim como Morbius (2022), o filme parece muito datado, não como se tentasse imitar uma estética antiga, mas sim como se tivesse sido feito no começo dos anos 2000. Isso permeia o começo do filme inteiro e o desenvolvimento dos personagens. É um filme com um roteiro muito bem dado, de cara as coisas seguem um padrão bem básico sem qualquer criatividade narrativa ou surpresa. Inclusive existem momentos onde seriam muito essenciais uma criatividade narrativa, pois algumas interações ao longo do filme simplesmente não fazem sentido. É um caso de um roteiro que trata quem está assistindo como burro, mas não a ponto de explicar, pelo contrário: a narrativa vai para locais onde não fazem sentido e o público que engula essas decisões.

Nosso antagonista é Ezequiel, interpretado por Tahar Rahim, e sua motivação é exatamente caçar essas três jovens pois um dia no futuro elas vão ser responsáveis pela sua morte. Então ele faz de tudo, usando todo o seu dinheiro adquirido ilicitamente, para achar e eliminar essas meninas antes delas se tornarem uma ameaça para ele. Isso é toda a personalidade dele, além de gritar sobre ter vindo do nada e ter lutado muito para sair da pobreza. Agora ele usa do dinheiro de forma estúpida, pois ele em teoria teria mais de uma década para viver. Não é sobre ele ser obcecado por isso, mas sim como esse personagem não tem absolutamente nenhuma dimensão e só é chato e desinteressante. Em sua essência uma escolha muito ruim de antagonista para uma personagem com habilidades de clarividência. 

Nossa protagonista não tem habilidades sociais e em outros casos isso poderia gerar humor, mas só consegue trazer uma sensação de vergonha alheia. Dakota Johnson parece ser uma boa atriz para interpretar Cassandra Webb, mas não há qualquer necessidade ou construção de muitos elementos da sua personalidade. Ela termina sendo uma chata de galocha apenas. A cena onde isso fica mais evidente é quando ela está num chá de bebê e decide falar de como sua mãe morreu no parto, onde está cercada só de pessoas desconhecidas e isso só causa um desejo de sair daquela cena. Pra completar, na mesma cena temos a Emma Roberts tentando interpretar uma moça doce nessa cena, o que não é minimamente crível, pois ela continua parecendo uma personagem de menina má tentando fingir ser boa.

A fotografia da obra, assinada por Mauro Fiore, é uma dos maiores destaques, conseguindo compor uma ótima atmosfera de forma criativa, inserindo elementos da história de forma criativa dentro da imagem. Boa parte das composições dos planos do filme funcionam muito bem, a nível de cores, de elementos, enquadramentos e infelizmente não há muita valorização a isso pensando no roteiro cheio de furos e personagens bem fracos. Outro ótimo momento do filme é uma cena onde a trilha sonora é incluída de forma diegética sendo aliada aos poderes da protagonista. Sem dar spoilers, é a partir dessa cena onde posso afirmar quanto potencial esse filme tinha se tivesse sido bem desenvolvido. 

Madame Teia está disponível na Max. A quem desejar assistir vão com a mente aberta e bem lisinha, tentem não pensar muito para melhor aproveitar.


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