X-Men: A Série Animada – Nós devemos muito a ela!

Já se vão mais de 30 anos desde que os mutantes da Marvel estrearam na TV com a série animada X-Men (1992 – 1997). Baseada nos traços de Jim Lee para os quadrinhos, a equipe de jovens superdotados do Professor Xavier reviveu vários clássicos das suas histórias nas HQ, adaptadas em 5 temporadas. O canal infantil Fox Kids exibiu o desenho, que estreou em 31 de outubro de 1992 e contou com 76 episódios. Era a primeira vez que os mutantes protagonizavam uma série fora das revistinhas.

No Brasil, a TV Colosso (1993 – 1996) exibiu, originalmente, a animação. Mas a série também animou as manhãs de sábado na TV Globinho até que o Planeta Xuxa substituiu o programa. Quando o matinal infantil se tornou um programa diário, Ciclope e companhia também deram as caras por lá, mas, dessa vez, já não era tão regular assim.

Nela, acompanhamos Ciclope, Jean, Wolverine, Tempestade, Gambit, Vampira, Fera e a recém incluída Jubileu (além do próprio Professor Xavier), travando batalhas contra os mais diversos inimigos. Desde os mais clássicos, como Magneto e Senador Kelly, aos mais recentes (para a época) como Cable e a versão orientalizada da colega Psylocke. Além disso, a animação também tratava de aspectos mais adultos, como preconceito e marginalização de minorias.

X-Men, A Série Animada. Imagem: Marvel/ Fox (Divulgação)

“Divergências Criativas”

Olhando em retrospecto e percebendo o sucesso que a série teve, é fácil pensar que tudo correu às mil maravilhas. Mas uma breve pesquisa já é suficiente pra mostrar que houve muitas complicações (e limitações) que rodearam a produção. Seria impensável imaginar, hoje em dia, uma animação dos X-Men sem a presença de Charles Xavier e Jean Grey. No entanto, os produtores executivos da Marvel na época quiseram descartar os 2 mutantes. O motivo? Eles acreditavam que mutantes com poderes psíquicos não teriam apelo com os fãs.

E não era apenas isso que os executivos pensavam que sabiam bem. Na verdade, eles tentaram limar muitos dos conceitos que os idealizadores (felizmente) trouxeram para série. Para se ter uma ideia, foi preciso lutar muito para que o desenho tivesse o formato serializado, já que os produtores preferiam que ele tivesse formato episódico. Assim, a Fox poderia exibí-lo sem seguir nenhuma ordem cronológica.

Não fosse suficiente, também houve uma birra para a existência do triângulo amoroso entre Jean Grey, Scott e Logan, o que provocou um sério desentendimento com os criadores. Ao que parece, no começo dos anos 1990 as produções para canais infanto-juvenis ainda estavam muito presas ao formato feito na década anterior, onde animações eram voltadas exclusivamente para crianças. Por isso, elas não poderiam contar com tramas mais sérias e complicadas. E nem preciso citar aqui o fato de que um dos personagens da equipe teria que morrer logo no primeiro episódio.

Mas, para surpresa dos executivos, os criadores da série sabiam o que estavam fazendo e a ela acabou por se tornar um fenômeno.

Seria mesmo culpa dos X-Men?

A produção da série foi realmente conturbada. A equipe de animação entregou os 2 primeiros episódios abarrotados de erros! Uma quantidade que ultrapassa a contagem dos 100. A equipe se recusou a corrigir e, por uma questão de prazos, esses episódios foram ao ar mesmo assim. Estima-se que mais de 50 cenas estavam faltando. A edição teve que ser feita em apenas um dia.

Apesar disso, X-Men trouxe bons números pra audiência e recebeu boas avaliações da crítica. Só demorou um pouco mais do que o esperado para cair nas graças do público, mas, quando aconteceu, acabou se tornando referência e logo foi renovada para uma segunda temporada. Ah! A Fox corrigiu e relançou os episódios com erros no ano seguinte. A animação viria a se tornar a mais longa já produzia pela Marvel. A segunda é Homem-Aranha, com 65 episódios.

Há rumores de que foi justamente esse sucesso que despertou o interesse dos produtores da Fox em fazer o filme que estreou em 2000.  A 20th Century Fox comprou os direitos para o live action em 1994, quando a 1ª temporada da série animada ainda estava indo ao ar. Levando em consideração que o filme dos mutantes inaugurou uma nova era para o cinema de super-gente, não seria exagero dizer que foi o sucesso dessa animação que tornou possível toda a leva e filmes baseados em quadrinhos que se seguiram até os dias atuais.

Legado Importante

É muito provável que, para quem não viveu essa época, “X-Men – The Animated Series” não seja a mais palatável das animações. É complicado fazer uma lista dos motivos para o sucesso, à época. Mas, é fácil cogitar que uma das razões tenha sido o teor sério, diferente de quase todos os desenhos que se viam na década de 1980, com algumas poucas exceções. Fato é que, graças aos mutantes, pudemos experenciar a vinda de outros heróis nesse mesmo formato.

Claro, seria injustiça da minha parte dizer que a Marvel inovou com essa ideia, uma vez que Batman – A Série Animada (Batman – The Animated Series, 1992 – 1995) estreou no ano anterior. Porém, foi com os X-Men que a Marvel passou a acreditar que seus heróis também poderiam encarnar versões para TV em canais infanto-juvenis. E isso nos trouxe mais do que novas temporadas para os alunos do Instituto Xavier. Sem eles, talvez não teríamos Homem-Aranha (Spider Man, 1994 – 1998), X-Men: Evolution (200 – 2003) e até mesmo Wolverine e os X-Men (Wolverine and the X-Men, 2008 – 2009), feito mais de 10 anos depois.

E, caso você conheça minimamente algum jogo de video game, já deve ter ouvido falar na franquia “Capcom Vs.”, que começou com um crossover entre os lutadores de Street Fighter e X-Men. O jogo que serviu de base para esse crossover foi X-Men: The Children of The Atom (1994), lançado um ano depois da animação e usando como arte os trajes dos mutantes criados por Jim Lee, mesmo traço que inspirou a série.

E eu nem vou começar a falar dos memes!

X-Men, A Série Animada. Imagem: Marvel/ Fox (Divulgação)

Animação dos X-Men segue importante até os dias atuais

Seria uma tarefa muito ingrata tentar mensurar o quanto de leitores de HQ o desenho dos X-Men conseguiu angariar para a Marvel. Aqui na minha bolha, é fácil lembra a mudança de status quo quando passamos a pronunciar “éks-mein” ou invés de “xis-mein”, justamente por causa do desenho animado. Fun fact: é possível ouvir a voz de Márcio Seixas dizendo “xis-mein” ao final da abertura nos primeiros episódios. A animação consagrou seu legado de tal forma, que ela mesma se tornou quadrinho ainda nos anos 1990. Suas histórias fizeram o caminho inverso e foram adaptadas para as HQ.

Além disso, mais uma série de comics foi publicada, dessa vez em 2015, retratando aventuras dos personagens e do mesmo universo da animação. Aliás, esse material está sendo publicado por aqui atualmente pela editora Panini.

O Disney+ revitalizou o universo dos X-Men e a animação estreou, recentemente, sua continuação. O sucesso foi estrondoso e a animação repercutiu tão bem, que estreou com 100% de aprovação no site dos tomates (sustenta 99% da crítica até o momento e 94% de aprovação do público).

Ao que parece, a versão animada dos mutantes da Marvel ainda está rendendo um tremendo caldo. Seu discurso continua atual. Apesar da qualidade duvidosa dos desenhos de 30 anos atrás, X-Men se destaca e ainda possui relevância, não apenas por seus assuntos abordados, mas, pela seriedade e fidelidade com o material original que seus produtores resolveram ter. Vida longa aos mutantes!


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