Pra Frente o Pior – O que você vai ver é o que você vai ver

“O que você vai ver é o que você vai ver”

A frase citada no início da apresentação ecoou em minha cabeça durante todo o espetáculo. Pra Frente o Pior é um trabalho realizado pela Inquieta Cia. e foi desenvolvido dentro do Laboratório de Pesquisa Teatral 2015 do Porto Iracema das Artes. Tornando dança, teatro e performance um só, a obra se nutre através da dramaturgia existencialista e da mais implacável e atroz necessidade do coletivismo. 

Tudo é uma aparente metáfora da realidade de ter de se manter em pé apesar dos pesares. Em cinquenta minutos, o que é mostrado em cena são corpos lutando para seguir em frente, da maneira mais real e brutal possível. Assim, no espaço cênico, os performers estão sempre muito próximos da plateia, o que, junto de uma trilha sonora insistente e ruidosa, agarram de maneira visceral a atenção do público para eles. O espetáculo se inicia com os seis artistas — de idades, aparências, vestes e corporeidades diferentes — entrando no palco. Eles param e uma pessoa em cena recita a frase “O que você vai ver é o que você vai ver”.

 

O Pior

Acompanhando uma trilha sonora — realizada por Uirá dos Reis — marcada por graves e um possível intenso uso de sintetizadores, os performers se movem ao seu modo enquanto se reúnem e dão as mãos, direcionando-se a uma das laterais do palco. A partir daí, a trilha passa a alternar entre silêncios e sons propositalmente desafinados, muitas vezes ecoando os que os próprios intérpretes produzem, criando assim uma atmosfera desconfortável, no melhor e mais artístico sentido da palavra. O desenho sonoro trabalha em uma incessante busca por envolver o ambiente com sua aura tensa e carregada, fundindo à totalidade do caos que se vê em cena. No entanto, o caos aqui é feroz e agressivo, não desordenado. O clima caótico se dá pela selvageria quase animalesca trazida pelos intérpretes. 

O que se sucede são os performers atravessando o palco de uma lateral a outra, em uma insistente e até mesmo frenética necessidade de seguir adiante, não deixando as mãos que estão dadas se soltarem, em uma espécie de apoio e irmandade incondicional. Durante esse trajeto constante, há uma relação entre ceder e resistir, sendo sempre uma resposta a alguma ação dos intérpretes. O trabalho corporal é intenso e o suor em seus corpos se complementam com gemidos, gargalhadas, lambidas, mordidas, cuspidas, gritos e chutes. Eles machucam, arrastam, chacoalham e carregam uns aos outros, trazendo a ideia de rivalidade e disputa tão verdadeiras que existem enquanto todos parecem navegar no mesmo barco que é a procura por estar preparado para o futuro, para um possível pior. 

Pra Frente

Cru, sujo e incômodo definem bem o que Pra Frente o Pior se propõe a ser. Um retrato exagerado, porém bem pontual da realidade que é um corpo se manter, mesmo tomado pelo cansaço e pela desesperança, enfrentando a impiedosa e fatigante vida. O coletivo, apesar das desavenças e desafios da convivência em grupo, se mostra uma alternativa e ao mesmo tempo a solução para encarar o futuro de modo menos sofrido, em união.


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