No Oculto – Quem disse que terror tem que ser longo?

A nível de filmes de gênero, é incrível a enorme diversidade no Brasil das múltiplas linguagens e fórmulas do terror no audiovisual. Dentro das últimas experiências mergulhando sobre o gênero cinematográfico, tanto dentro quanto fora do audiovisual cearense, as imensas possibilidades fazem constantemente a arte se reinventar, mesmo utilizando artimanhas antigas. Frequentemente ignorados, os mestres e mestras do horror brasileiro não recebem os devidos créditos vindos do próprio público local. É aqui onde opto por falar das nuances do terror presentes nas obras dirigidas por Evaldo Santos, começando sua carreira com o curta metragem Visita Maldita em 2018, seguido pela direção de um episódio do web seriado NEVER e a série para o Instagram Lykos (@projetolykos). 

Em particular há uma óbvia referência a filmes de terror conhecidos inspirando a sua direção, mesmo presente em NEVER onde o gênero não era exatamente esse. Então, como o horror pode se reinventar é algo interessante para a obra presente na IV Mostra Quimerama, No Oculto (2020). O filme foi um curta gravado durante o lockdown da COVID-19 e usa de forma criativa as suas limitações. Usando a lógica de “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” é possível criar uma imensa variedade de histórias, na pandemia foi algo essencial para a sobrevivência criativa de muitas pessoas. 

Tom é a chave de uma obra de terror ao meu ver, seja ele passado pela iluminação ou pelo design sonoro de um filme. Uma obra found footage, tal como a franquia Atividade Paranormal, quanto a outra obra cearense A Lenda do Seca Mão (2022), é sempre uma possibilidade divertida. Em No Oculto acompanhamos alguém invadindo uma casa para roubá-la, quando acha uma misteriosa máscara e encontrar face a face uma misteriosa identidade. O curta é exatamente bem curto, mas deixar o desfecho para a imaginação é uma possibilidade muito funcional para a proposta da obra. 

A utilização da cor verde para representar uma visão noturna subjetiva desse homem invasor é bem pensada e criativa, frequentemente há uma associação do verde ao terror. Utilizar o espaço simples, sem uma óbvia mudança ou reforma necessária para fazer o filme parecer fílmico é algo simplesmente admirável. Trazer gêneros cinematográficos para uma realidade mais palpável – especialmente dentro do cinema cearense – é uma qualidade a ser reverenciada. Os filmes não precisam parecer de Hollywood ou da Globo Filmes para serem considerados bons, No Oculto é um dos muitos exemplos dentro da variedade do cinema de gênero cearense para provar. 

Particularmente o curta ter pouca, duração nesse caso específico, funciona muito bem, pois a história em si não precisa de rodeios para ser contada. Nesse pouco tempo o público pode ficar ciente do que está acontecendo e ser surpreendido com o final. Estender por mais tempo uma obra, pôr mais cenas, poderia dar mais margem para erros e redundâncias. Aqui é levemente satisfatório acompanhar por um curto período de tempo essa narrativa e ficar em choque com o final. A própria ideia de fazer uma obra, dirigir, roteirizar e até mesmo atuar é admirável, mas foi a realidade de muitas pessoas da área do audiovisual durante o período pandêmico. 

Durante o momento de pandemia, foram profissionais das artes responsáveis pelas séries, textos, músicas e filmes, feitos para cuidar da ociosidade da mente e frequentemente estes profissionais não recebem o reconhecimento necessário. Por isso, há sim uma necessidade do reconhecimento destes profissionais, pela indústria, pelo público, pelo Estado. A arte vem de muitas formas e os muitos conceitos elitistas não são capazes de diminuir isso. Criar, para artistas, é semelhante a respirar e essa respiração traz fôlego para muitas pessoas. 

Até o dia 09 de Junho o curta No Oculto, assim como muitos outros filmes independentes, estará disponível no site da IV Mostra Quimerama na sessão “Se Cagando de Medo”.


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