The Walking Dead – Descanse em Paz (S11E24) [Series Finale] – Nós somos aqueles que sobrevivemos

Muito foi discutido sobre o fato de um seriado se estender demais e perder fôlego na sua reta final, se segurando apenas pelo amor dos fãs e a insistência dos roteiristas em levar suas histórias no automático por desejo da emissora responsável. Um dos maiores exemplos deste tipo de série é Grey’s Anatomy (2005 -), série médica que ainda tem boa audiência e está na sua décima nona temporada, renovada para vigésima.

Outro grande exemplo é exatamente The Walking Dead (2010 – 2022), a série de maior sucesso da AMC com um dos pilotos mais vistos de todos os tempos na TV fechada, baseada em uma das HQs mais lidas e aclamadas de todos tempos criada por Robert Kirkman. Não há dúvidas que o seriado é um fenômeno e causou um impacto no gênero, colocando nos holofotes uma história sobre apocalipse zumbi que focava na jornada humana sobrevivendo em meio ao fim da humanidade que conhecemos, se tornando parte da cultura pop atual.

Com um elenco talentoso, liderado por Andrew Lincoln no papel do icônico Rick Grimes, a série conseguiu conquistar fãs em todo o planeta e uma fanbase fiel que foi crescendo à medida que fomos avançando as temporadas. Infelizmente The Walking Dead sofreu com desgaste e como toda série popular, foi perdendo audiência à medida que um personagem popular morria ou algum ator deixava a série.

Foram 177 episódios e 11 temporadas com altos e baixos que, para o bem ou para o mal, impactaram uma geração. No último dia 21 de Novembro finalmente a série chegou ao seu final, depois do anúncio de que esta atual temporada seria a última, muito se especulou como seria o desfecho da série sem a presença de Rick Grimes e outros importantes personagens.

Em um breve resumo, a décima primeira temporada foi dividida em três partes cada uma com oito episódios quase funcionando como três temporadas em uma. A primeira parte tratou de introduzir a comunidade de Commonwealth (arco bastante popular nas HQs) em meio as peripécias de Daryl (Norman Reedus), Carol (Melissa McBride), Negan (Jeffrey Dean Morgan), Aaron (Ross Marquand), Gabriel (Seth Gilliam), Rosita (Christian Serratos), Yumiko (Eleanor Matsuura) e Maggie (Lauren Cohan) – retornando a série – tentando manter as comunidades de Alexandria e Hilltop enquanto combatem zumbis em profusão.

A ascensão da roteirista Angela Kang ao posto de showrunner na nona temporada, deu um fôlego novo para série, que sofria para manter a atenção do público, permanecendo até este último ano, mas nem ela conseguiu manter a série nos trilhos que sofreu com ritmo e episódios que pareciam não ir a lugar nenhum, episódios esses que atrapalharam um pouco a última temporada não engatar no seu início.

A segunda parte melhorou, trazendo mais ação e mostrando a opressão da comunidade Commonwealth liderado pelo lunático Hornsby (Josh Hamilton) e também pela misteriosa prefeita da cidade Pamela (Laila Robins) em relação às comunidades menores. Toda a construção e vilanismo dessa nova comunidade, mostrando uma ascensão autoritária, é bem feita e ajudam a criar uma ameaça perigosa, implacável e com ecos de ditadura, conseguindo dar dinamismo para uma temporada que se manteve de forma bastante crescente.

A terceira parte na minha visão foi a melhor. Aliás, os oito últimos episódios, assim como os outros, mostram uma série que realmente perdeu bastante do seu brilho, mas ainda tem no cuidado com seus personagens a força para tentar manter nossa atenção, é no fato de nos importarmos com o destino de Daryl, Judith (Cailey Fleming), Aaron, Connie (Lauren Ridloff) e outros do grupo que reside a força de The Walking Dead.

Após um gancho espetacular no episódio anterior, finalmente chegamos ao final da série no episódio Descanse em Paz (11×24), com uma duração de mais de uma hora, que não só daria um desfecho definitivo à série, como também apontaria o futuro que este universo seguiria.

Dirigido por Greg Nicotero, um dos principais nomes por trás da câmera da série, e escrito pela própria Angela Kang juntamente com Corey Reed e Jim Barnes, temos aqui um capítulo final recheado de emoções, com Judith entre a vida e a morte, Daryl, Carol e Rosita liderando o grupo para escapar de uma horda de zumbis que estão a caminho dos portões de Commonwealth levando pânico a cidade, além do desfecho final entre o grupo e a Prefeita Pamela. 

A narrativa traz urgência, tragédia, emoções a flor da pele e um pouco de nostalgia para finalizar o arco da temporada, que ainda teve surpresas inesperadas, mortes significativas e a vontade de entregar o melhor possível para uma série que ainda tinha algumas fagulhas para queimar, como uma última evolução para os mortos vivos que poderia ter sido introduzido antes, mas que aqui surge como uma grata surpresa. É triste, porém, constatar que a série perdeu um pouco do suspense e grandiosidade das cinco primeiras temporadas, mas ainda assim tenta entregar ação, respeitando exatamente parte dos fãs fiéis que permaneceram com a série até o fim.

É inspirado nisto que o seriado brilha, por respeitar a jornada de seus personagens. Porém, ao acreditar tanto neste universo, prefere deixar algumas tramas em aberto, apontando o futuro em séries derivadas – além da atual Fear Walking Dead (2015 -), que vai para oitava temporada, e The Walking Dead: World Beyond (2020 – 2021), minissérie de duas temporadas, existem mais três séries sendo produzidas -, utilizando-se de clichês e breves passagens de tempo para finalizar a história de alguns personagens, mas deixando a possibilidade de retorno de vários outros.

Desta forma, The Walking Dead termina sim sua história, mas o universo em volta de um seriado que virou tendência está apenas expandindo. Não há dúvidas, porém, que quando cenas das temporadas anteriores começam a passar nos últimos minutos em flashback, o nó na garganta vem, a nostalgia aperta, terminando com a narração em off de dois personagens conhecidos e a certeza de que quem ficou até o apagar das luzes, teve um desfecho satisfatório de um final que, se não é perfeito, é respeitoso com tudo aquilo que a série construiu. A última cena termina diferente dos quadrinhos (a série soube seguir seu próprio caminho), com foco na geração futura, lindo, melancólico e sincero, uma carta de amor aos sobreviventes, dentro e fora das telas.


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