Bem-vinda a Quixeramobim – Um “tour” pelo Ceará

Bem-vinda a Quixeramobim (2022) aborda de forma irreverente questões relevantes como os crimes de “colarinho branco” (sonegação de impostos, evasão de divisas, corrupção) e crimes ambientais, como o uso indevido de recursos naturais e etc. Tudo começa quando Olavo (Arthur Kohl), pai de Aimée (Monique Alfradique) é preso por cometer crimes contra o sistema financeiro. Com a prisão do pai, eles têm seus bens bloqueados pela justiça.

Aimée é uma influencer digital milionária e como tal, se preocupa muito com a imagem que passa aos seus seguidores e com o prejuízo que pode ter se não houver mais dinheiro para bancar seus luxos. Então, num momento de desespero ela descobre que a solução para os seus problemas pode estar na cidade cearense de Quixeramobim, no interior do Ceará. É nesse lugar em que ela experimenta uma vida bem diferente do requinte a que está acostumada e conhece os moradores de Juatá (distrito fictício de Quixeramobim). 

Esse é mais um filme em que o diretor Halder Gomes preza por reforçar as características do jeito cearense de se expressar. Não só a linguagem, como também a postura, o gestual, a atitude, as feições. Não poderia ser diferente já que o elenco é majoritariamente cearense. A impressão que dá é de que a orientação da direção para os atores foi “aja naturalmente”. Claro, há momentos em que esse gestual e essas feições são reforçadas para gerar o riso mesmo, mas na maior parte das vezes, esses momentos têm a duração certa. 

Os diálogos também trazem muitos estrangeirismos (presentes na comunicação via internet) e faz piada com eles. Como por exemplo, misturando o inglês e o cearensês: ao dizer que um alimento era “De antes de ontem”, a personagem disse “Dontonte” e a outra entendeu “Don’t touch” (Não toque). E no Ceará, bem como é adotado pelo Brasil, é muito comum essa abreviação das frases para falar mais rápido, passar logo a mensagem. Fenômeno inclusive estudado e explicado por linguistas, que defendem que “a língua é viva”.

Além disso, a escolha do elenco unindo nomes que já trabalharam juntos em outros filmes do diretor (Falcão, Edmilson Filho, Haroldo Guimarães, Bolachinha) ou fazendo comédia no teatro e em shows de humor no Ceará (Carri Costa, Valéria Vitoriano, Roberta Vermont, Jardeson Cavalcante), traz um nível de entrosamento essencial para as cenas coletivas funcionarem tão bem.

Monique Alfradique faz Aimée, uma típica patricinha, mas que não é arrogante e consegue se relacionar bem com todo mundo. Como eles dizem “É humilde”. E a atriz parece de fato, bastante integrada ao grupo de atores cearenses, o que é possível sentir nas cenas. Chandelly Braz também está incrível como Shirley e totalmente integrada ao ambiente da Pousada Paraíso, com os demais personagens! E Max Petterson, atuando pela primeira vez no cinema, faz Eri, um personagem carismático que, assim como ele, não leva desaforo pra casa. Completam este elenco: Silvero Pereira, Mateus Honori, Luís Miranda, Araci Breckenfeld, Amadeu Maia, Victor Alen e Guilherme Cavalcante.

A narrativa é dinâmica e ágil na maior parte da trama, sempre apresentando novidades ao espectador, conforme a protagonista Aimée se depara com elas. A sátira está bastante presente do começo ao fim, mas há momentos pontuais de romance e de tristeza na história. Sem “pesar a mão” em nenhum deles. É um roteiro equilibrado: aponta questões importantes para reflexão e discussão, sem deixar de ser leve e divertido. E apesar de todo o “palavreado” não ofende ninguém! 

Tecnicamente é um filme bem dirigido, bem filmado e montado e esteticamente agradável, ou seja, tem boas escolhas de enquadramento e ritmo (tempo dos planos e cenas, movimentação dos atores, etc). O som bem captado. É uma grande produção! Do Ceará para o mundo! Com destaque para a trilha musical composta por hits do forró, do brega e da lambada. É certamente um filme pra dar umas boas gaitadas! 


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