Os Croods 2: Uma Nova Era – Mudanças e permanências

Demorou até demais para que uma natural continuação de Os Croods (The Croods, 2013) fosse produzida. Mesmo que uma série animada prequel fosse lançada pela Netflix em 2015, o relativo sucesso do longa animado da Dreamworks demandava uma continuidade para a história da família que, após viver boa parte de suas vidas em uma caverna, sai para o desconhecido, perigoso e maravilhoso mundo lá fora, numa alusão clara ao famoso mito de Platão. A fórmula da família moderna colocada em contraponto com ambientes fantásticos ou imaginário, seja no futuro, no passado longínquo, num mundo de super-heróis ou em um universo de fadas, elfos e monstros, tem sido utilizada e reutilizada desde muito tempo, mas parece nunca sair de moda, já que o tema da família está sempre em construção e reconstrução.

Os Croods 2: Uma Nova Era (The Croods: A New Age, 2021) nos leva para onde o fim do primeiro filme havia deixado nosso grupo de hominídeos “pré-históricos”. Eep e Guy estão cada vez mais apaixonados (emocionados, como dizem os jovens), como bons adolescentes que são, enquanto acompanham o resto da família na busca por um lugar menos arriscado para viver, o que se mostra uma tarefa bastante difícil em um mundo de animais gigantes, plantas carnívoras e vulcões ativos por todo lugar. O pai, Grug, ainda se acostumando com a sobrevivência fora da caverna, precisa lidar agora com uma nova ameaça a seu núcleo, a possibilidade de sua filha e o namorado se afastarem para viverem suas próprias vidas, colocando em risco o lema da família várias vezes repetido: “a família fica sempre unida”.

Tudo se complica ainda mais quando o grupo encontra uma outra família, os Bem Melhores, que, como o nome já diz, são pessoas mais “avançadas” na evolução humana, com moradia fixa, desenvolvendo agricultura e várias outras tecnologias e pensamentos completamente inimagináveis para os Croods até então. Sua ligação com o passado de Guy acaba se tornando também uma ameaça para a coesão do grupo e todas aquelas novidades acabam afetando a união dos Croods como nunca antes. Como já haviam feito no longa original, nesta continuação temos a desconstrução de alguns estereótipos ao mesmo tempo em que outros são utilizados para que tenhamos um reconhecimento daquela família em relação às nossas próprias. É interessante, por exemplo, a forma como a possibilidade de um plot clássico de triângulo amoroso, que envolveria ciúmes e brigas de casais, é logo substituído por um de amizade e autoconhecimento, ou como os “vilões” acabam se mostrando tão inocentes quanto os próprios heróis em vários sentidos.

Tecnicamente a animação continua boa, com destaque para as expressões faciais das personagens, especialmente do casal Bem Melhor, chegando quase a assustar de tão reais, já que o restante dos traços do filme se aproximam mais de um tom cartunesco, mas nada que logo não nos acostumemos. As piadas continuam boas, apesar de, com exceção das gags visuais, poderem ser aproveitadas mais pelo público adulto do que pelas crianças de fato. A vovó continua sendo minha personagem preferida, e aqui nesta continuação ganha ainda mais destaque e uma função importante no ato final do longa. O filme acaba sendo mais uma dessas sequências de animações que não pedimos, mas que nos divertimos ao acompanhar.


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