Army of the Dead: Invasão em Las Vegas – Você está pronto pra essa conversa

 

Tudo bem, antes de começarmos, vamos estabelecer uma coisa muito importante aqui: eu não tenho absolutamente nada contra o Zack Snyder, tampouco contra quem gosta dos filmes dele. Veja bem, eu considero Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, 2016) um filme divertido e também não odeio O Homem de Aço (Man of Steel, 2013), nem mesmo a luta final ou suas consequências. Na adolescência eu adorava Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead, 2004) e 300 (2006). Pra falar a verdade, eu ainda adoro. Então assim, de coração, minha opinião sobre Army of the Dead: Invasão em Las Vegas (Army of the Dead, 2021) não é uma questão pessoal. 

Dito isso, achei muito sintomático que, ao procurar pela sinopse do filme, o Google tenha recomendado como primeiro resultado um trecho de uma resenha do site Tecmundo que diz o seguinte: “Após um surto de zumbis em Las Vegas, um grupo de mercenários se aventura em uma zona de quarentena para tentar realizar o maior assalto de todos os tempos’, diz a sinopse oficial de Army of the Dead. Apesar de resumir bem o filme, a produção é muito mais do que isso”. Achei sintomático porque pra mim esse é exatamente onde os problemas do filme começam. 

Não basta ser um filme de assalto com filme de zumbi, os zumbis também são tão inteligentes que são capazes de se organizarem em sociedade, mas tem também robôs, e alienígenas e bebês zumbis que podem ser um pouco de tudo isso ao mesmo tempo, e muitos personagens e comentários políticos, um pouco de gore, um pouco de filme de equipe e mitologia grega. Enfim, só o necessário. Não que trazer tudo isso sejam ideias ruins sempre…Na verdade, se cada uma delas fosse bem trabalhada, de fato poderiam ser individualmente boas histórias. 

Entretanto, aqui esse excesso prejudica o filme, que nunca escolhe um tom para avançar, da mesma forma que seus personagens param pra conversar em momentos inapropriados, em uma mise-en-scéne no mínimo curiosa, atravancando também a narrativa, para se ter pequenos momentos incríveis, épicos, super bonitos, uau, que acabam se perdendo no meio dessa salada confusa, ofuscados pela superficialidade de tudo em um filme longo demais que não usa esse tempo para se demorar de verdade em absolutamente nada.

A fim de tentar exemplificar um pouco do que eu quero dizer, destaco três cenas que realmente gostei dentro do filme: a sequência dos zumbis hibernados, a última interação de Dieter (Matthias Schweighöfer) e Vanderohe (Omari Hardwick) na sala do cofre e o ataque do tigre-zumbi. Três cenas que, pra mim, parecem ter vindo de filmes meio diferentes demais, um mais puxado pro suspense, outro que tem um plano de fundo que foca mais nas relações entre os personagens e outro bem pautado no gore. E o resto do filme não só não ajuda a conectar essas três direções, como cria muitas outras. 

Soma-se a isso o fato de que, apesar de ter um elenco interessante e (alguns) personagens minimamente cativantes, o humor do filme não convence e parece deslocado, ao mesmo tempo muitos tópicos ficam sem o devido desenvolvimento ou sequer uma simples explicação. A motosserra de Vanderohe acaba se tornando uma metáfora perfeita do longa, uma promessa incrível, porém muito mal aproveitada. 

Concluindo, e correndo o risco de contradizer minha fala inicial, talvez minha opinião sobre Army of the Dead seja sim uma questão pessoal. Afinal, de certa forma eu acho que estava torcendo para que esse filme fosse um retorno ao Snyder de quando eu era adolescente e achava Madrugada dos Mortos um dos melhores filmes de zumbi já feitos. Só que eu não tinha me dado conta de que eu estava esperando em vão, porque não tem como voltar para um lugar do qual não se saiu ainda. Ou seja, o problema não é que o Snyder mudou e perdeu a mão, é justamente o contrário. Ainda parece que é seu primeiro filme e que cada enquadramento precisa ser o mais épico e descolado possível. Snyder faz cenas muito épicas, porém esvaziadas de sentido, de consistência. Eu quero acreditar que já estamos prontos para debater os erros e os acertos além de sua estética – que é inegavelmente forte – deixando o clubismo que separa tudo e todos entre ou hater de fora.

Então, embora a ação do longa até possa agradar sua comunidade ou um público que esteja extremamente descompromissado – o que em 2021 no Brasil de Bolsonaro é totalmente compreensível, diga-se de passagem – Army of the Dead é um filme imaturo, que peca na montagem, na decupagem e no roteiro. Tem um punhado de boas cenas, mas estas não compensam o restante do filme. Ou eu posso estar totalmente errada, é claro. Talvez Snyder apenas conheça muito bem sua plateia e saiba exatamente o que fazer para manter sempre vivo um burburinho em volta de seu nome, seja com teorias ou campanhas. Se for este o caso, uma vez que Army of the Dead já tem pelo menos dois spin-off confirmados, então desse ponto de vista o desgraçado é mesmo o que chamam de visionário. 


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