O primeiro filme dos Vingadores (The Avengers, 2012) foi um marco de extrema importância por dar vida, pela primeira vez, à um crossover dessas proporções. Marcando o reencontro dos heróis, Vingadores: Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron, 2015) tem como foco o time de heróis – que vem agindo contra a HYDRA devido aos eventos de Capitão América: Soldado Invernal (Captain America: Winter Soldier, 2014) – unindo forças contra uma criação de Tony Stark (Robert Downey Jr.) que busca erradicar a humanidade.
Embora a ideia de trazer mais uma vez todos os heróis juntos seja excelente em teoria, Joss Whedon falha em fazer um filme sobre a equipe e faz de “Era de Ultron” mais um filme que roda em torno do Homem de Ferro. Não há muito de inovador em uma inteligência artificial tentando eliminar a humanidade, vamos ser sinceros. Depois de tudo que foi feito até aqui, tornou-se basicamente impossível ver cada filme do Universo Cinematográfico da Marvel como mera aleatoriedade. Afinal, “Era de Ultron” é o resultado de toda a Fase 2. Era para este filme ser o resultado dos eventos que se passaram ao longo dos demais filmes anteriores, mas em prática não é isso que é levado às telas. Algumas perguntas pairam no ar e certos enredos não recebem a devida importância.
Em vez de ter ‘aposentado’ suas armaduras, agora Tony Stark tem uma Legião de Ferro formada por várias armaduras comandadas pela sua inteligência artificial, Jarvis (dublado por Paul Bethany). Desde os eventos de Vingadores, o personagem de Downey Jr. vem buscando uma forma de proteger a todos de um mal que vem do espaço e é isso que o motiva a dar vida à Ultron neste filme, com a ajuda do Dr. Bruce Banner (Mark Ruffalo).
Toda a criação de Ultron e a razão dele se empenhar tanto para erradicar a vida humana da face da Terra não é bem trabalhada, ele simplesmente faz uma pesquisa após ser iniciado e decide o que é bom ou não para o planeta. Pode-se dizer que Ultron estaria fazendo a vontade de seu criador, que aqui é Tony Stark e não Hank Pym como nos quadrinhos, protegendo a Terra. Para ele, o único jeito de fazer com que a Terra fique protegida é exterminando a humanidade. Outra falha é essa personalidade de Ultron, que estaria imitando a de Stark sem nenhuma razão aparente, visto que Stark não usou nenhuma onda cerebral sua para criar Ultron (diferente da origem do vilão nos quadrinhos). Não se sabe ao certo o porquê de Ultron ser parecido com Stark. Por este motivo, o que fica no campo das deduções é que a resposta para a problemática está na pesquisa feita pela inteligência artificial no começo do filme.
Fora isso, não existem riscos reais no filme, mesmo a narrativa apontando para a morte de um dos personagens cruciais para a formação dos Vingadores, o Gavião Arqueiro – interpretado por Jeremy Renner (personagem esse que ganha uma família, mas continua sem muita personalidade). Mais uma vez a “grande morte” do filme é de um personagem com o qual a audiência não teve contato o suficiente para lhe dar uma importância emocional. Todos os personagens ficam parecendo cantoras de fundo para Downey Jr, sem realmente ter enredos relevantes para o filme.
Um dos pontos mais fracos é o romance entre a Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Bruce Banner, especialmente considerando o fato de que, no filme anterior, a personagem dela foi brutalmente perseguida pelo alter ego de Banner e quase morta. Não há uma história de amor ali. Ambos os personagens são reduzidos à apenas esse romance e quem eles são dentro desse romance durante toda a narrativa. Sem razão específica, uma mulher criada para ser uma assassina desde sua infância cita ser um monstro, mas não pelas mortes que causou, e sim pelo fato de ter se tornado estéril. Esse é o tratamento dado pelo diretor. As cenas de ação dadas à Natasha no filme foram supostamente consequência de a atriz ter engravidado, como se não houvessem formas de contornar tal feito ou ter dado um enredo à uma espiã tão aclamada que não envolvesse um romance.
É como se os personagens não fossem de fato os personagens vistos ao longo da Fase 2, especialmente Steve Rogers (Chris Evans), que se torna um ‘homem fora do tempo’, cuja maior vontade era ter ficado no passado. É perceptível a ignorância do enredo e desenvolvimento do personagem no seu segundo filme solo, assim como a busca pelo seu melhor amigo. Todo o filme que moldou o personagem de Steve Rogers foi resumido ao diálogo entre ele e Sam Wilson (Anthony Mackie) durante a cena numa festa. Ele se torna o senhor de idade em meio ao grupo, além de ser um veterano do exército da segunda guerra que se incomoda com palavrões. Outro grande desperdício é o personagem de Thor (Chris Hemsworth), cuja trama não parece de fato pertencer ao filme. Fadado ao clichê, a fórmula do primeiro filme aqui se repete também, trazendo um vilão que ataca uma cidade com um exército e o bem prevalece no final. O filme até tenta trazer um discurso filosófico sobre a humanidade e a criação, notável durante o diálogo final entre Visão e Ultron – os ‘filhos de Stark’. Mas também não se demora muito nisso.
Enquanto essas deliberações estão presentes com frases de efeito não muito incomuns à filmes de herói, Era de Ultron tem uma comédia bem presente. As cenas de ação do filme são boas, os efeitos e os atores também, mas o filme poderia usufruir melhor dos talentos contratados. Era de Ultron entretém, mas não é à toa que Joss Whedon decidiu não voltar para o terceiro filme de Vingadores. Diferentemente do primeiro filme do time, “Vingadores: Era de Ultron” não alcança as expectativas.
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Cineasta graduade em Cinema e Audiovisual, produtore do coletivo artístico independente Vesic Pis.
Não-binarie, fã de super heróis, de artistas trans, não-bináries e de ver essas pessoas conquistando cada vez mais o espaço. Pisciano com a meta de fazer alguma diferença no mundo.