Nijigahara Holograph foi originalmente publicada no Japão entre os anos de 2003 e 2005, ganhou uma compilação em volume em 2013 e, em 216, publicada no Brasil pela editora JBC, com o título Nijigahara Holograph: Ilusões de Inio Asano.
Primeiro ponto de destaque, logo de cara, é a belíssima arte de Asano. Muito de suas paisagens e personagens parecem sair de uma fotografia. Contudo, não é isso que faz a beleza de seus desenhos, a combinação dessas técnicas juntamente com a maneira como a sequência é montada, muita das vezes utilizando apenas uma página toda em preto com poucas palavras ou onomatopeias, por exemplo. Esses recursos dão a obra um caráter singular e uma toque artístico que saltam aos olhos. O principal aspecto do mangá é seu enredo que é apresentado de uma maneira não-linear e atemporal. Ou seja, além da história estar fragmentada a noção de tempo também é corrompida, em um momento a história se passa no presente da narrativa, no quadro seguinte já está em um passado próximo, no outro em um distante, podendo gerar uma certa confusão no leitor (muitas das vezes precisei ler a mesma página umas 3 ou 4 vezes para entender o que estava acontecendo). Essa fragmentação já é uma característica de seu autor, lembrando que o Cidade da Luz também é fragmentado, embora lá, seja feito de uma forma mais simples com pequenos arcos em cada capítulo.
Sobre o que se trata o mangá? Sua história não tem um protagonista muito definido, escolhemos seguir um menino recém chegado a uma escola nova, ele é sobrevivente de uma tentativa de suicídio e lá tenta recomeçar a vida ou, ao menos, esperar por um nova oportunidade de tentar se matar. Lá ele é recebido pela professora e novos colegas da turma, dos quais mantém certa distância. Deixando claro, o mangá explora esses personagens no tempo da escola e como eles se encontram nos dias atuais, adultos. Às vezes, indo num passado mais remoto que o da escola, para aprofundar o background de alguns desses personagens.
Não é possível definir muito bem uma trama principal aqui, há um tom de mistério pois alguns crimes acontecem, mas na realidade o mangá se propõe a explorar a relação dos personagens e de como a vida por vezes não tem sentido algum. É um mangá extremamente pessimista com o futuro da sociedade e o faz de uma maneira muito bonita e com metáforas visuais muito interessantes. Existe pelo menos dois pontos na história que valem a pena prestar atenção. Sem entrar muito na seara dos spoilers, fica a recomendação de prestar atenção sempre que uma borboleta aparecer ou for mencionada e quando falarem de um certo poço. Isso basta para manter o mistério e buscar interesse sobre a história.
Inio Asano é conhecido por explorar a psiquê e relações humanas, a temática como suicídio, bullying e uma falta de perspectiva futura estão presentes no mangá, mas de uma forma coerente com seus personagens, sem buscar assim uma exploração desses temas apenas por serem desses temas.
Nijigahara Holograph é um retrato de nosso tempo e aflições, Inio Asano parece capturar em seus quadros todas as questões que envolvem a sociedade contemporânea. Com um teor assumidamente pessimista, o mangá promove reflexões que são pertinentes ao mundo de hoje, embora não tenha a pretensão de mudar o homem. É difícil não se sentir tocado por alguma das situações e perceber que, apesar de tudo, é possível continuar mesmo que esse desejo parta de uma caixa cromada em que tudo pode acontecer.
Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.