Esse foi meu primeiro livro do Valter Hugo Mãe. Um amigo me recomendou o autor há algum tempo, mas ainda não havia lido. Li as sinopses de vários livros dele, e me encantei por esse – começando já pelo título. Quando recebi o livro, me surpreendeu logo o formato, que era diferente do padrão dos outros livros dele. Era menor, tinha a capa dura e a borda das páginas, douradas. Ao folheá-lo, a surpresa foi maior ainda: as letras eram grandes, e o texto, pequeno, havia uma página com desenhos a cada página de leitura. Pensei logo que era um livro infantil.
Quando comecei a ler, percebi que o livro era meio infantilizado, fazia uma certa alusão ao universo das crianças. E me lembrei logo de “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exúpery. Realmente, o livro segue o mesmo estilo. Parece ser para crianças, mas na verdade é para adultos, e se utiliza do universo infantil para explicar coisas do mundo adulto. É um livro sobre amor, convivência e relações humanas. Ao mesmo tempo em que é uma leitura rápida e leve, pede que se reflita a cada parágrafo lido, pois a carga emocional colocada ali, sob disfarce de palavras pueris, é significativa a cada frase. O livro todo é narrado por uma menina de, talvez, uns dez anos. Ao longo de todo o texto, ela faz observações a respeito da vida como um todo e das relações entre pessoas e entre animais, além de trazer várias recordações de quando era mais nova, sempre trazendo a figura de sua mãe como detentora da sabedoria.
“Reparo desde pequena que os adultos vivem muito em casais. Mesmo que não sejam óbvios, porque algumas pessoas têm par mas andam avulsas como as solteiras, há casais de mulher com homem, de homem com homem e outros de mulher com mulher. Depois, há casais de pássaros, coelhos, elefantes, besouros. Os pinguins são absurdamente fiéis, quero dizer: há também casais de pinguins, e até de golfinhos. Tudo por causa do amor. O amor constrói. Gostarmos de alguém, mesmo quando estamos parados durante o tempo de dormir, é como fazer prédios ou cozinhar para mesas de mil lugares. Mas amar é um trabalho bom. A minha mãe diz.”
É com essa leveza e puerilidade que o autor traz temas tão pesados e tão presentes na vida de todos nós. Além do amor e das relações, são abordados temas atualíssimos – aliás, sempre atuais -, como a importância do amor-próprio e a percepção de que a beleza é relativa e pessoal.
“Os bichos só são feios se não entendermos os seus padrões de beleza. Um pouco como as pessoas. Ser feio é complexo e pode ser apenas um problema de quem observa. Uso óculos desde os cinco anos de idade. Estou sempre por detrás de uma janela de vídeo. Não faz mal, eu inteira sou a minha própria casa. Sou como o caracol, mas muito mais alta e veloz. A minha mãe também acha assim, que o corpo é casa. Habitamos com maior ou menos juízo.”
Não entendo de educação de crianças nem de como é moldado o inconsciente durante o desenvolvimento, mas penso que é um livro ideal para ser lido e relido incessantemente para as crianças, desde bebês até atingirem certo nível de consciência. E também para nós, adultos, que precisamos de lembretes constantes da sutileza e da simplicidade da vida. Não é um livro difícil de ler, nem longo, nem cansativo, mas é sempre útil no nosso cotidiano tão corrido e endurecido pelas adversidades da vida. Que nos lembremos todos os dias que o que importa realmente é o amor que existe entre as pessoas e que procuremos construir nossa vida sob as vigas do auto-respeito e do auto-amor – só assim poderemos amar e respeitar o outro. E, consequentemente, ser feliz.
“A felicidade também é estarmos preocupados só com aquilo que é importante. O importante é desenvolvermos coisas boas, das de pensar, sentir ou fazer.”
Futura doutora CSI, Larissa ainda é estudante de medicina, mas já é profissional em viajar e devorar livros de suspense. Ama séries de investigação, adora escrever e é viciada em La Casa de las Flores. As suspeitas de que seria secretamente uma serial killer não foram confirmadas até o momento.