Autor de “Sidarta”, “Demian” e o “O Lobo da Estepe”, Hermann Hesse escreveu esse livro durante seu processo pessoal de aceitação da velhice. É composto de uma coletânea de crônicas e poesias, com relatos da vida do autor, recordações íntimas e aforismos sobre o tema. No livro, ele chega a fazer uma espécie de retiro espiritual com si mesmo, para clarear os pensamentos e chegar à aceitação do fim da vida. É sempre muito presente nos seus escritos a descrição dos ambientes, especificamente de ambientes naturais, como florestas e montanhas. Apesar de ter sido escrito como um diálogo do autor com ele mesmo, em tempos de conflitos pessoais, os textos são leves e bem resolvidos, com uma clara aceitação e até mesmo exaltação da velhice.
“[…]
Lá se vão gravatas e permanentes,
Levando consigo toda a magia;
Mas o que além disso consegui,
Sabedoria, virtude e meias quentes,
Ah, logo depois também perdi,
E minha terra ficou fria.”
Não só a velhice, como também a morte – natural e consequentemente – permeia todos os textos. Novamente, com uma óbvia aceitação da tão chamada “indesejada das gentes” como algo natural e inevitável.
“[…]
A morte não está aqui nem lá,
Está em todo caminho a seguir.
Está em você e em mim está,
Logo que a vida começa a existir.
[…]”
Também é muito presente o antagonismo da velhice com a juventude. A visão de que os jovens sempre estão em vantagem em relação aos idosos aparece inúmeras vezes, sempre fazendo um contraponto às aquisições próprias da velhice: sabedoria, calma e maturidade. Ao mesmo tempo, em que o autor idolatra a juventude, também idolatra a velhice, ressaltando as partes boas de cada fase da vida.
“Sou um homem velho e gosto dos jovens, mas estaria mentindo se dissesse que tenho por eles um especial interesse. Para os idosos, principalmente na época de grandes provações em que vivemos, só há uma questão relevante: a da alma, da fé, do sentido da vida, da devoção; a que vale a pena, que é capaz de superar o sofrimento e a morte. Superar o sofrimento e a morte é tarefa da velhice, enquanto o entusiasmo, o arrojo e a agitação constituem partes do temperamento da juventude. Ambas podem ser amigas, mas falam idiomas diferentes.”
Por fim, “Com a Maturidade Fica-se Mais Jovem” é uma obra filosófica, ideal para se ler com calma e com a mente aberta. Inevitavelmente, pensamos em nossa futura velhice e em tudo o que já vivemos; como seria se morrêssemos agora. Se você for como eu, um jovem que se identifica muito mais com os hábitos senis do que com os da juventude, irá se encontrar nos relatos e pensamentos do autor. Não é uma leitura tão leve, pois pensar sobre a morte nunca o é. Mas é essencial nos lembrarmos da efemeridade da vida e que cada idade tem seus proveitos e suas dores.
Futura doutora CSI, Larissa ainda é estudante de medicina, mas já é profissional em viajar e devorar livros de suspense. Ama séries de investigação, adora escrever e é viciada em La Casa de las Flores. As suspeitas de que seria secretamente uma serial killer não foram confirmadas até o momento.