Fugitivos – 2ª Temporada – Sem abrigo e superando expectativas

 

Em 2017 a Hulu estreou a adaptação dos quadrinhos – Runaways – em seu serviço de streaming com uma primeira temporada de dez episódios semanais. A série conta sobre como estes adolescentes lidam com a descoberta de que seus pais são parte de uma seita responsável por matar jovens há anos. Durante a sua primeira temporada os nossos protagonistas tentavam arrumar uma forma de provar o envolvimento de seus pais com os vários crimes cometidos, na mesma medida que vão descobrindo suas habilidades especiais.
Uma das maiores decepções dos fãs dos quadrinhos foi o fato de que os jovens não passavam de jovens ricos, basicamente tirados de uma versão etnicamente bem estruturada de Gossip Girl, e não fugitivos por assim dizer. Bem, essa crítica não pode ser feita na segunda temporada que, além de fazer dos jovens realmente Fugitivos, agora eles estão sendo procurados pela polícia por um dos assassinatos orquestrado por seus pais, incriminados pelos mesmos, e são forçados a permanecer escondidos e fugindo.

 

Mesmo se tratando de adolescentes, a série se distancia muito do que foi visto na primeira temporada e dos dramas da juventude que foram mais recorrentes. Mesmo que hajam seus romances, suas desventuras, a segunda temporada busca mostrar estes jovens amadurecendo e aprendendo a viver neste novo ambiente. Ambiente este encontrado pelos jovens durante uma perseguição, que termina sendo tirado completamente das páginas dos quadrinhos. O tema “família” se torna algo recorrente, mas não só quando se trata dos pais destes jovens e como eles têm que lidar com o fato de estarem fugindo dos próprios pais, mas se tratando de como eles formam a própria família uns com os outros.
Esta temporada conseguiu avançar mais os enredos de cada um dos seus protagonistas, os dando ainda mais tridimensionalidade e saindo do dilema enfrentado na temporada anterior que era basicamente ‘como lidar com seus pais matando adolescentes’. Aqui eles são forçados pela situação na qual se encontram a amadurecer mais rápido e lidar com situações que não teriam que lidar na sua vida de adolescentes ricos vista anteriormente. É assim que a segunda temporada de Fugitivos pavimenta o caminho, forçando os ‘fugitivos’ a lidar com a falta da segurança e estabilidade que tinham – e adultos assassinos os procurando.

 

 

O ator Rhenzy Feliz dá vida a uma história que nos aproxima mais de Alex, fazendo o personagem tomar rumos que levantam mais o interesse de quem está assistindo do que o visto na temporada anterior. Considerando que o personagem não agradou muito durante a primeira temporada, importante ressaltar o avanço feito dentro da série quando se trata do personagem de Alex Wilder. As motivações do personagem não parecem tão claras quanto seu objetivo, que é ter os pais julgados pelos seus crimes. Sobre suas motivações, terminamos a temporada sem saber se é pelo desejo de justiça ou pelo desejo de ter seus pais punidos de alguma forma.
Todo o enredo de seu personagem é pautado em punir os seus pais que, na medida que a trama avança, são capazes de tomarem medidas ainda mais vis. Essa temporada nos permite continuar assistindo pela perspectiva dos pais, não permitindo criarmos uma ideia de que são vilões malignos, mas sim pessoas capazes de tomar medidas extremas. Uma das melhores partes da temporada se dá pela recorrente forma com que os próprios pais, membros do ORGULHO, se tratam como males necessários e buscam finalmente poder deixar o grupo para trás e seguirem suas vidas. Nesta temporada pudemos ver Ever Carradine brilhando e tendo um real desenvolvimento como a personagem Janet Stein, em particular sendo capaz de capturar mais emoções positivas do que o filho Chase interpretado por Gregg Sulkin – ainda incapaz de trazer qualquer coisa nova ao personagem que parece uma cópia total de todos os outros personagens interpretados pelo ator.

 

 

O casal mais poderoso do grupo teve muitas chances de brilhar e se desenvolver, tanto como um casal quando como personagens. Lyrika Okano trouxe mais uma vez a personagem Nico Minoru à vida, dessa vez amadurecendo como uma líder do grupo (uma espécie de mãe) e como uma potencial feiticeira. Seus poderes foram colocados em prática com uma pegada mais próxima do visto na outra propriedade da Marvel – Doutor Estranho – levantando a possibilidade do cajado de sua mãe não ser de propriedade totalmente científica. Do outro lado temos Karolina Dean, interpretada por Virginia Gardner, que descobre mais sobre sua família (como um todo) e sua origem. Mais uma confirmação de fidelidade do material de origem, mesmo que com suas adaptações, pois Karolina é de fato uma alienígena – ou pelo menos meio alienígena por parte de pai.
Um dos pontos positivos da temporada foi o arco de Gertrude Yorkes, interpretada por Ariela Barer, que é forçada a lidar com essa nova vida de fugitiva sem seus remédios para a ansiedade. De longe esta foi a personagem que mais trouxe à mesa se tratando de atuação, pois Ariela conseguiu representar muito bem todas as etapas da crise pela qual a personagem passa. Mais uma vez necessário ressaltar de que a série se diferencia um pouco de outras séries baseadas em quadrinhos por trazer problemas palpáveis para seus personagens que vão muito além de proteger o mundo de uma ameaça.

 

 

Para finalizar, a segunda temporada de Fugitivos foi toda disponibilizada pelo Hulu em 21 de Dezembro de 2018, com seus treze episódios. A temporada se destaca da primeira por explorar melhor os efeitos e o lado mais fantástico e fiel das HQ’s. Enquanto na primeira temporada foram-nos dados ambientes mais verossímeis, a nova temporada se arrisca em criar mais e também gastar mais. Não há economia com efeitos, seja se tratando de naves alienígenas, mutantes, pedras alienígenas, cajados mágicos ou pessoas sendo possuídas pela Dimensão Sombria.
Os números da temporada se mostram agradáveis até o momento e há probabilidade da terceira temporada continua crescendo. É de se esperar mais personagens relacionados ao grupo nos quadrinhos, além da personagem introduzida no final temporada interpretada pela Clarissa Thibeaux. Infelizmente a personagem, diferente dos quadrinhos, parece mostrar que o universo da Marvel na televisão pode ainda não estar pronto para nos entregar um personagem de gênero fluido. Se – e quando – uma terceira temporada vier é de se esperar que a série entregue cada vez mais, desta vez prometendo ser mais diferente de como fez na primeira temporada.