Ghost of Tsushima, lançado em julho de 2020, é o último grande exclusivo da geração do PlayStation 4. Ele veio para se juntar ao hall de jogos como God of War (2018), The Last of Us: Part II (2020), Horizon Zero Dawn (2017) e outros. Será que ele conseguiu manter o legado de seus antecessores? Vamos descobrir.
Comercialmente Ghost of Tsushima é um grande sucesso. Foi capaz de vender milhões de cópias em pouco tempo, a ponto de se tornar um dos jogos mais rentáveis dos estúdios da PlayStation. Seu apelo e temática são chamativos e o universo de samurais japoneses sempre parece muito exótico e ao mesmo tempo convidativo. Seus trailers e materiais de divulgação sempre foram muito misteriosos em relação ao enredo. Tudo o que sabíamos era que o jogo se passava no ano de 1274 durante a tentativa de invasão mongol ao Japão. Fato inclusive comprovado historicamente entre os anos de 1274 e 1281. O jogo se aproveita do elemento histórico e cria uma narrativa ficcional em cima. Jin Sakai, herdeiro do clã Sakai, é o protagonista que vamos acompanhar desde sua queda como samurai até seu ressurgimento como o Fantasma.
O aspecto histórico é bastante fiel e o jogo é bem respeitoso com a cultura e a arte japonesas. As referências vão desde o caminho do samurai, cheio de honra e respeito, até mesmo a composição de haikus e templos relativos aos deuses antigos. Jogar Ghost of Tsushima é passar pela a história do país e ter um olhar mais direcionado para algo que não havíamos visto até então. As relações sociais entre o protagonista e os NPCs, as estruturas sociais que regiam aquela época, tudo é explorado a fim de mostrar uma mímese aos tempos do Japão medieval. Inclusive, é por meio dessas relações que o protagonista se desenvolve e cresce, sempre alimentado por um desejo: proteger seu povo.
A customização do jogo é impecável e sua direção de arte é uma das coisas mais belas já vistas na atual geração. Os diversos tipos de roupas, armaduras, bandanas ou pelo detalhe da reprodução da cultura e tradição nipônica. Aliás, esse era um dos meus maiores medos antes de jogar: o respeito a tradição e história japonesa. A Sucker Punch foi bastante fiel e respeitosa, inclusive contando a presença de diversos artistas e produtores japoneses. O jogo em si é um grande passeio pela ilha de Tsushima e uma oportunidade de conhecer e desbravar um pouco da história de um país tão distante do nosso.
Contudo, o jogo não é perfeito, existem alguns problemas. Para começar, a dublagem. O jogo foi pensando em todos as linhas de diálogos serem em inglês, o que faz o processo de dublagem para o japonês apresentar certos inconvenientes como uma falta de sincronia notória em alguns diálogos, exemplificando melhor, a voz saía, mas a boca do personagem não se mexia, não atrapalhou a experiência com a jogabilidade, mas foi bastante frustrante, principalmente quando as vozes em japonês davam um ar de complementar a experiência de estar em Tsushima. A dublagem brasileira está muito boa e as vozes encaixam bem, também há esse problema da sincronia, porém em uma escala menor. O jogo também é muito bugado, eu não presenciei nada que me atrapalhasse, mas era notório a quantidade exagerada de problemas, o mais comum de aparecer foi um problema na física do jogo, permitindo o protagonistas e alguns inimigos atravessarem paredes, árvores, pedras etc.
A trilha sonora complementa essa viagem do Japão do século XIII, além de usar instrumentos da cultura popular japonesa, ela apresentar elementos de composição que dão o tom da aventura e da busca de Jin Sakai. Há momentos em que ela se encaixa tão perfeitamente com a cinemática do jogo que a sensação é de estarmos vendo um filme de samurai. Esse sentimento, na verdade, é complementado com um modo de jogo chamado modo Kurosawa, que tem como propósito emular a estética em preto e branco do consagrado cineasta japonês. Esse modo de jogo é apenas cosmético, não altera em nada a campanha, mas é um extra bem legal e uma homenagem divertida.
Ghost of Tsushima aposta no carisma de seu personagem e em uma história que, aos olhos de alguns, pode parecer clichê, funcional. Embarcamos na jornada de Jin Sakai e em todo seu dilema entre respeitar sua honra e tradição e quebrar isso para salvar seu povo que sofre nas mãos dos Mongóis. Como em uma fala dita pelo próprio Jin, ele quer se tornar samurai para proteger seu povo e aqueles que precisam. Um sentimento nobre, mas que durante o jogo pode custar tudo ao personagem. Sendo assim, o último exclusivo para PlayStation 4 fecha de forma digna uma geração que contou diversas histórias e já estamos com saudades.
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Atual Vice-presidente da Aceccine e sócio da Abraccine. Mestrando em Comunicação. Bacharel em Cinema e formado em Letras Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, doramas e animes. Ama os filmes do Bruce Lee, do Martin Scorsese e do Sergio Leone e gosta de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou de Nobuo Uematsu.