Host – Faz o óbvio com eficiência

Boa é a história quando podemos nos identificar com ela. Ou melhor, se as regras que tangem seu universo conseguem convencer e fisgar. Na malha do terror, o fator psicológico tem sido a investida ideal e de cada vez mais prestígio para quem busca uma experiência assustadora. Embora a negativa não esteja atrelada apenas ao uso de estruturas triviais, uma execução decente faz toda diferença numa narrativa. Se unindo a esses achados que sobressaem graças a condução, Host (2020) é um exemplo de que é possível não reinventar e, ainda assim, manter o charme quando se tem um bom condutor.

Mesmo correndo o risco de cair em comparação à produções como V/H/S (2012), The Den (2013) e Amizade Desfeita (Unfriended, 2014), a equipe por trás de Host foi fundo para conceber o longa-metragem. Se passando no cenário atual pandêmico e de confinamento, seis amigos decidem se reunir numa chamada online e executar uma sessão espírita liderada por uma médium, até que as coisas saem do controle e eles terminam vivenciando algo inimaginável.

Assim como o found footage tem um histórico de altos e baixos, a então narrativa de video call horror (contada inteiramente em telas de computador), já encontrou seus desgaste em poucas empreitadas. De maneira semelhante, ambos subgêneros almejam instaurar a íntima experiência registrada de forma amadora, mas, por último, o que ganhamos senão a filmagem tumultuada, câmera tremida, gritos e jumpscares como decorrência do terror cru vivenciado? E no caso do screen horror, a camada próxima do tempo que passamos em telas virtuais, sobre a perspectiva sobrenatural (sendo o ápice do relato o vídeo travando, mais gritaria, violência, e utensílios do found footage) ou das bizarrices da web, tomando proporções sádicas de perfis online. Seja como for, o desfecho já sabemos: não sobra nada, além da gravação que acompanhamos.

Host utiliza todas as artimanhas para executar o terror, mas o diferencial aqui é a própria crença de transitar o gênero numa circunstância identificável para o espectador. Ao longo dos seus 56 minutos – o que o torna um média-metragem- de duração, a película é ágil para definir um começo, meio e fim do que já esperamos desdobrar em tela, mas com um curioso controle narrativo, fazendo o óbvio, porém surpreendendo pela eficiência. Para credibilizar os eventos, temos aqui os personagens adotando os nomes reais de seus intérpretes, ou praticando coisas comuns em frente a câmera durante a videoconferência, o que dá o parâmetro despido de que, o desdobramento da coisa, é a documentação real desse grupo de amigos focado em executar algo desafiador para eles, mas abriram precedentes além das janelas virtuais as quais interagiam.

Somando para a qualidade de se contar tal premissa, o filme de Rob Savage (habilitado em curtas e episódios de séries) estabelece um equilíbrio notável ao introduzir o elenco com ritmo e carisma, sem revelar nada para o que estão se reunindo, até chegar o momento. Nesta prisma, a lógica da proposta já tinha engrenado o suficiente para prender a audiência, incutindo o caótico experimento que conseguiram desencadear numa quarentena. Empregando elementos usuais que a narrativa pede, Host realiza com competência o susto fácil, os pontos chaves para driblar o horror, emulando muito bem o ensaio sobrenatural virtual.

Com cada membro do cast tendo filmado suas cenas em casa, Host é uma amostra de quando nos prontificamos a encarar algo previsível, mas que, pelo virtuosismo ao qual se desenvolve, fica difícil desgrudar os olhos antes dos créditos. Em suma, o filme cumpre o papel de manter os convidados descontraídos e eficientemente assustados.


VEJA TAMBÉM

The Rental – A mistura de subgêneros e a frágil privacidade

Relic – O retrato apavorante do desfalecer