5 Filmes brasileiros de terror e suspense

Se pararmos para pensar o cinema nacional encontra-se em um curioso momento. Mais produções, um interesse maior do público e a versatilidade das histórias. Muito disso pode ser notado nos gêneros de terror e suspense. O que antes se via em lançamentos específicos, cineastas brasileiros vem abraçando com desenvoltura as maneiras de dialogar com o espectador através de enredos criativos. Inspirações sombrias, lobisomens, e críticas sociais são nuances presentes no horror nacional.


Morto Não Fala

(2018)

Começando com um exemplo fugaz, o filme dirigido por Dennison Ramalho, Morto Não Fala (2018) se caracteriza como uma trama peculiar que traz Daniel de Oliveira vivendo Stênio, plantonista de um necrotério que se deparar com uma habilidade que desconhecia: falar com os mortos.

Infelizmente, esse foi mais um longa-metragem do gênero que passou batido no cinema, mas para quem teve a oportunidade de prestigiar o filme dentro ou fora das telonas, pôde comprovar o talento ousado do diretor, que despontava com seu segundo trabalho atrás das câmeras. Esbanjando efeitos práticos que vestiam a realidade paranormal que Stênio encarava na sala do IML, logo de cara, a produção se destacou pela caricatura trash com o qual os mortos falavam: o corpo em seu estado de cadáver, enquanto apenas os olhos e a boca mexiam como sinal de comunicação. O retrato de bizarrice e desconforto era evidente, dando o tom eficientemente sobrenatural e assustador de possuir tal poder.

Porém, o que começa bradando com estilo ao empurrar discussões sociais expondo a violência urbana, assumiu diferentes rumos quando colocou o protagonista refém da própria habilidade. Daí se revelaram temas como crise conjugal, paranoia — em cenas criativas e excitantes — e culpa em manobras incertas para transitar sobre os subgêneros do terror. Foi como se o diretor não ignorasse as possibilidades que poderiam ser inseridas uma vez que Stênio tem acesso a um lado incomum prum plantonista, o que rendeu tópicos demais, ainda assim, Morto Não Fala vale pelo exercício de ser terror e drama de muitas formas.


As Boas Maneiras

(2017)

Nosso segundo filme teve um pouco mais de sorte em ser exibido nas telas e não passar batido, e também, pode muito bem ser o responsável por atrair a atenção para a parcela de público que não estava familiarizado com os arranjos tocados pela banda do terror brasileiro.

Lançado em 2018, As Boas Maneiras começou a chamar atenção quando foi premiado com o segundo prêmio mais importante do Festival de Locarno em 2017. No mesmo ano, abocanhou cinco prêmios no Festival do Rio, assim, o filme idealizado pela dupla de diretores Juliana Rojas e Marco Dutra, de Trabalhar Cansa (2011) fazia a curiosidade borbulhar para a produção ser conferida.

Misturando fantasia e horror, o longa brindava o grande significado por trás do seu título na história de suas protagonistas que viera a ser contada em dois tempos narrativos — afinal, o que vem depois que perdemos os bons modos, as boas maneiras? O primeiro é mais o contido, envolvente e hipnotizante e a qual nos introduz ao universo proposto. O segundo pesa a mão em tantos elementos, e o ritmo passa a ganhar uma carga maçante que sobressai graças a força da própria façanha de terror folclórico e amoroso dessa brasilidade.

No mais, se você ainda não assistiu, ao menos já ouviu falar dessa produção com sinônimo de ambiciosa, que trouxe Marjorie Estiano numa atuação primorosa interpretando uma mulher grávida, rica, branca, desprovida do apoio familiar e de amigos, contratar Clara (Isabél Zuaa, fabulosa e cativante) enfermeira preta, pobre, da periferia de São Paulo para auxiliar nos cuidados do vindouro filho e atividades domésticas. E se, em meio a essa trama, se desenrolasse um romance junto a descoberta de que o bebê pode ser a forma de uma criatura que só se vê nas lendas?


Mate-me Por Favor

(2015)

Saindo da vibe do horror, o cinema nacional também conduz seus acertos no que diz respeito ao suspense psicológico. Se Hollywood só consegue trazer nas suas premissas, jovens estúpidos em prol da trama que se propõe, aqui vê-se um apelo focado em trabalhar a solidão, crises, descobertas, medos através da ótica do subgênero. Mate-me Por Favor é prova disso.

Arrasando na estreia feita no Festival de Veneza em 2015, o primeiro longa-metragem da cineasta Anita Rocha da Silveira – premiada como melhor diretora no Festival do Rio, também em 2015 – despontou uma trama com ares de um slasher, mas que se revelava um conto mórbido no terror que há na adolescência.

O cenário é a Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, onde uma onda de assassinatos atiça a curiosidade dos jovens moradores do bairro. O retrato vem a se intensificar quando Bia (Valentina Herszage) — a qual ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival do Rio —, garota de 15 é posta entre o perigo da morte e consegue escapar, o que desencadeia uma busca desoladora para se sentir viva a todo custo. Como disse, parece um slasher, mas o sentido por trás da descrição surgiu no desfecho dessa trama, permeada de mistérios inquietantes.

De maneira ímpar e melancólica, Anita de Oliveira deslizou sobre um estilo a fim de apontar o terror que há na adolescência, partindo dos efeitos após serem abalados pelo temor da violência. A película é tensa e assustadoramente uma pérola do suspense nacional.


A Noite Amarela

(2019)

O segundo exemplo de suspense psicológico é também voltado para a adolescência, porém, numa estética que exala um medo ainda mais sensível e incômodo.

Dirigido por Ramon Porto Mota, em seu quarto longa-metragem, A Noite Amarela, o cineasta explorou a história de um grupo de jovens amigos que partem em viagem para uma antiga casa em comemoração do fim do ensino médio, porém, a boas-vindas do lugar é o contrário da diversão esperada: há algo sufocante que sonda e expõe os assombros da juventude. 

Falar da entrada à vida adulta é sempre um viés interessante. As comédias românticas, dramédias, são primordiais e buscadas pelo público por dialogar acerca de depressão, sexualidade, e primeira vez dividindo as abordagens das temáticas em nuances cômicas. Portanto, se torna mais proveitoso quando produções de terror investem no coming of age além do que slasher faz quando os jovens estão só curtindo suas drogas e sexo — alguns escolhem justamente o lago Crystal Lake para a noitada, putz.

Assim como o exemplo de Morto Não Fala fez do baixo orçamento personalidade para a execução da trama, Ramon emulou a pouca verba como ponte de criação do conceito em crise por trás do nome que encabeça o filme: a incerteza de um futuro. Ainda que a direção tenha se perdido em algum momento no diálogo, conferir vale muito a pena.


O Animal Cordial

(2017)

Encerro essa lista com um jantar. Jantar caótico. Abrindo a estreia de Gabriela Amaral Almeida como diretora num longa-metragem, O Animal Cordial fez muito barulho quando exibido no Festival do Rio em 2017, além de premiar Luciana Paes como melhor atriz e Murilo Benício como melhor ator, e em 2018, foi a vez de Gabriela conquistar o prêmio de melhor diretora no Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre. Expandindo o reconhecimento, a crítica rasgou elogios para esta produção de terror brasileira.

Parte da curiosidade humana se expressa em momentos inesperados: quer saber quem é quem, apenas a faísca de uma situação embaraçosa pode ser o suficiente e fazer a máscara a cair. Inácio (Benício) é dono de um restaurante de classe média e marcante pela personalidade arrogante e tratamento carrasco aos funcionários. Numa noite, o local é abordado por assaltantes na presença de um casal que jantava. Toca o caos.

Com essa descrição eu deixo a curiosidade para quem gosta de um thriller dramático, que culmina em violência e nas denúncias sociais reprimidas em um restaurante. Uma dica: Gabriela Amaral caprichou no prato.


Menções honrosas: O Nó do Diabo (2017), Mal Nosso (2017), O Clube dos Canibais (2018) e A Sombra do Pai (2018) que ainda não pude conferir, mas que receberam elogios.