Em estado de pandemia, as pessoas se encontram em suas casa a procura de entretenimento que as distraia do grande perigo, o medo é a sensação constante e o futuro é incerto. Eis que no dia 20 de Abril é lançada na Netflix uma nova animação seriada, chamada The Midnight Gospel (2020 -), criada por Pendleton Ward, criador de Hora de Aventura (Adventure Time, 2010 – 2018), em parceria com o podcaster estadunidense Duncan Trussel. Eu vi dois episódios no dia do lançamento. E depois a ignorei por um mês, e aí eu vi os outros episódios. E chorei no final, chorei como não chorava há anos. Chorei.
O que aconteceu nesse um mês que separou os episódios na minha vida foram o choque inicial ao chegar no segundo episódio e ver que seria falado sobre morte, e parece que eu estava mesmo adivinhando, esse é um tema recorrente na obra. Em plena pandemia, o que a gente quer evitar é falar de mais morte. Por incentivo de amigos eu continuei.
A jornada de Clancy, um rapaz isolado, que mora em um planetinha distante e entra em uma máquina de simulação de realidade para entrevistar diferentes tipos de pessoas e criaturas para o seu Spacecast, que é tipo um podcast. Visto que o desenho é simplesmente o áudio do podcast com imagens completamente insanas e em outro contexto passando. No começo nada faz sentido, e no final continua não fazendo se for para ser julgado literalmente, mas a nossa mente se acostuma com aquilo, começamos a criar conexões entre o que vemos e o que ouvimos. As conversas naturais sobre temas não muito falados, como a morte, são uma forma de nos inserir naquele assunto, de nos fazer pensar e criar conexões inesperadas. Ele é guiado por essa conversas, e Clancy sempre leva algo dos mundo que visita como que de lembrança, só porque sim. E essa é a graça de ver algo em que nada faz sentido, nós colocamos sentido naquilo, acabamos linkando a nós mesmos e tirando cada pessoa um significado diferente daquilo, rendendo outras discussões incríveis baseadas naquilo que foi visto, te fazendo conversar com amigos sobre assuntos que você normalmente não falaria mas que vocês deviam falar.
Os assunto são diversos, de maconha ao budismo, falam de morte, esperança e meditação. Coisas que estão no nosso dia a dia de uma forma ou de outra e nós acabamos não pensando sobre, ao viajar para mundos distantes ele vai em pontos que desconhecemos na normalidade da vida, quebrando essa normalidade com uma dose de ácido animado.
É aqui que, para mim, está o grande mérito na escolha narrativa dessa animação, ao criar uma bagunça audiovisual que dificulta o entendimento, The Midnight Gospel nos obriga a pensar no que assistimos, se só olhamos passivamente vai ser um grande bolo de informação desconexa, mas se pararmos pra pensar um pouco só, acabamos não só entendendo o que se passa mas nos ligando a ele.
Essa série de oito episódios que vai te levando e guiando nessa linha de pensamento acaba entregando um episódio final que te faz compreender para que aquela jornada existiu. Trazendo um certo tipo de sentido porque antes não tinha e te fazendo lembrar que a jornada só vale a pena porque existe um fim, e não tem como escaparmos do fim de Midnight Gospel.
Estudante de Publicidade na Universidade de Fortaleza, Miguel é o Sonserina mais Lufa-Lufa que se tem notícia. Esse grande apreciador de açaí passa a maior parte do seu tempo tentando ser o mais legal possível. E quase sempre consegue. Legalzão é cheio de surpresas, chora fácil, ri mais fácil ainda. Gosta de cozinhar, toca um monte de instrumentos, ama correr, assistir filmes de ação, joga videogame como quem respira e venera animes de esportes, quase tudo na mesma medida (a medida do exagero).