Não tenho nada contra o prêmio Nobel de Literatura de 2025 ter sido concedido ao escritor húngaro László Krasznahorkai, cuja obra desconheço e, provavelmente, nunca lerei, mas que, com certeza, deve ter méritos, especialmente com a justificativa usada pela Academia: “por sua obra convincente e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte.”
Agora, a vergonha está naquilo que se configura, de fato, como um terror apocalíptico: a persistência da Academia Sueca em negar a importância dos escritores da América Latina, sobretudo dos nomes brasileiros que sempre foram marginalizados nas escolhas desde a primeira edição do Nobel de Literatura em 1901. Cito alguns poucos exemplos de escritores e escritoras brasileiras que tivemos e que estavam vivos durante a existência e entrega do prêmio (para evitar injustiças serão poucos nomes mesmo): Machado de Assis (o maior de todos), Lima Barreto, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Maria Carolina de Jesus, Guimarães Rosa, Raduan Nassar, Hilda Hilst, Adélia Prado, Mário Quintana, Rubem Fonseca, Milton Hatoum.

Milton Hatoum, recém eleito para a Academia Brasileira de Letras, autor de Relato de um Certo Oriente (1989), Dois Irmãos (2000), entre outros.
Além disso, desde que Bob Dylan ganhou um Nobel, poderíamos incluir nomes da música como Milton Nascimento (o maior de todos), Chico Buarque, Elis Regina, Maria Bethânia, Gal Costa. Poderíamos, ainda, abrir espaço para outras artes que envolvem a escrita, como quadrinhos, com Ziraldo, Laerte e Marcelo D’Salete, e cineastas, como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Cacá Diegues, entre tantos outros.
Citando um trecho do poema “Sabiá com Trevas”, do poeta cuiabano Manoel de Barros, presente em seu livro Poesias Completas (p. 178):
“Poesia não é para compreender, mas para incorporar. Entender é parede: procure ser árvore.”
Hoje, quem vence, na verdade, é a literatura brasileira que, parafraseando a frase usada na justificativa ao vencedor húngaro, “segue sua luta poética e convincente que, no meio do terror e genocídio apocalíptico do mundo, combate as injustiças, como a fome e a guerra, e entrega humanidade e esperanças, um dos verdadeiros poderes da arte.”
Um viva a literatura brasileira e que se foda a Academia Sueca (e nada contra o escritor húngaro, que é apenas mais um europeu entre tantos, iguais).
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Doutorando em Comunicação, sócio da Aceccine e da Abraccine, e um dos fundadores do SMUC. É bacharel em Cinema e licenciado em Letras. Apaixonado por cinema, literatura, histórias em quadrinhos, k-dramas e animes, ama os filmes de Bruce Lee, Martin Scorsese e Sergio Leone, além de gostar de cinema latino-americano e asiático. Escreve sobre jogos, cinema, quadrinhos e animes. Considera The Last of Us e Ocarina of Time os melhores jogos já feitos e acredita que a vida seria muito melhor ao som de uma trilha musical de Ennio Morricone ou Nobuo Uematsu.