A Longa Marcha: Caminhe ou Morra – Sabe quando você ama um filme mas nunca mais quer ver ele de novo? Pois é.

Eu saí desse filme precisando de um abraço. Pelo pouco que eu sabia, achei que seria mais uma distopia apocalíptica, no estilo das várias de zumbi que já estamos acostumados a ver. Mas o que encontrei foi uma reflexão direta e dura sobre o momento que vivemos na sociedade. Por isso já deixo o aviso: só assista se estiver preparado para a pancada que esse filme entrega.

A Longa Marcha: Caminhe ou Morra (The Long Walk, 2025) é um filme baseado em um livro de Stephen King,que se passa em um Estados Unidos da América distópico e alternativo (será?), governado por um regime totalitário, 50 garotos adolescentes participam de uma competição anual de caminhada mortal, obrigados a manter um ritmo mínimo ou serem executados, até que reste apenas um sobrevivente. 

O elenco aqui parece composto por todos os futuros grandes nomes de Hollywood. É impressionante pensar que, depois desse filme, muitos deles provavelmente serão extremamente requisitados, porque o que esses jovens conseguem segurar em cena não é pouca coisa. Estamos falando de um filme quase inteiramente sustentado por suas atuações, um projeto que coloca os atores no centro absoluto e nos força a encará-los de frente, acompanhando suas expressões, suas fraquezas e suas resistências por quase toda a duração. Felizmente, todos se destacam, cada um encontrando um jeito de manter a intensidade viva do começo ao fim, sem deixar a energia se perder.

O roteiro e a direção usam estereótipos de forma inteligente, quase como atalhos narrativos: o garoto puro do interior, o bully, o espirituoso que alivia a tensão. São figuras que já habitam o nosso inconsciente coletivo de histórias e personagens, e por isso mesmo funcionam como portas de entrada rápidas, nos permitindo reconhecer e localizar cada um deles sem esforço. Só que o filme não se contenta em ficar na superfície. A partir dessa base familiar, ele mergulha no que realmente importa: a forma como esses arquétipos se quebram, se deformam e se transformam diante da situação extrema.

O resultado é que não assistimos apenas a estereótipos caminhando até o limite da sobrevivência, mas a personagens de carne e osso, com dilemas, escolhas e medos que ecoam em nós. Essa estratégia de caracterização simples que evolui para profundidade dramática torna a experiência ainda mais potente, porque revela o quanto de humanidade pode emergir mesmo nos papéis mais “tipificados”. É esse cuidado, aliado ao talento natural do elenco, que faz do filme não só uma vitrine de novos atores, mas um exercício de atuação coletiva que prende o espectador pela verdade que consegue transmitir.

A direção de Francis Lawrence acerta em cheio ao equilibrar espetáculo e intimidade: ele sabe quando recuar para dar visibilidade total aos atores, permitindo que cada gesto, olhar e silêncio brilhe na tela, e sabe também quando ser impiedoso ao lidar com a morte, sem floreios, sem tentar suavizar o inevitável. Essa abordagem crua e direta, quase clínica, intensifica o impacto emocional e reforça a sensação de que cada perda importa, que não há espaço para romantização em meio ao absurdo. O resultado é uma experiência que respeita tanto a performance do elenco quanto o peso da narrativa, transformando a violência em comentário social, e não em mero espetáculo vazio.

Em mim, foi um filme que bateu forte, pegou uma proposta simples e soube trabalhar bem o material original, aprofundando e usando das vantagens que a mídia cinema pode oferecer. É um filme que se destaca muito mais pela sua crueza e honestidade do que pelos seus pontos técnicos, ainda que seja justamente a técnica que dá espaço para que tudo isso aconteça. A trama e os acontecimentos são experiências que precisam ser vistas e digeridas individualmente, por isso escolho não revelar muito aqui. O que posso dizer é que me deixou profundamente pensativo. Sem dúvida, está entre os meus filmes preferidos do ano e sei que vai permanecer comigo por muito tempo.


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