Neide está de volta para aprender uma lição de vida à base de muita risada e fofoca. Existem filmes que têm muito a cara do Brasil por diversos motivos, como Bacurau (2019), que representa bem nosso interior e nosso espírito regionalista. A Sogra Perfeita 2 (2025) segue essa linha, trazendo um estereótipo brasileiro sempre presente em novelas: a sogra, agora unida a outro estereótipo igualmente popular, o da cabeleireira fofoqueira. É isso que é Neide, uma mulher brasileira acima de tudo.
A comédia, novamente dirigida pela dupla Cris D’Amato e Bianca Paranhos, acompanha Neide (Cacau Protássio), que depois de lutar para se ver livre do filho no primeiro filme, agora se encontra em um relacionamento sério e estável com Oliveira (Marcelo Laham). Ela percebe que está colocando mais um homem para dentro de casa. Quando ele a pede em casamento, Neide prontamente rejeita, mesmo com o bairro inteiro já em dia com a fofoca do suposto enlace. A decisão desencadeia uma série de acontecimentos inesperados, como a chegada da sogra da sogra, Dona Oliveira (Fafy Siqueira), e de seu outro filho, também chamado Oliveira.
O carisma de Neide é inegável. Cacau Protássio entrega uma personagem absurdamente amável e desbocada, que conquista qualquer um. Ela é muito a cara da mulher carioca. Enquanto assistia, me lembrava com carinho da minha tia, moradora de Madureira, no Rio de Janeiro. Cacau traduz com perfeição o humor e a energia natural dessa mulher que te xinga porque te ama, aquecendo um espaço do coração onde moram tias e amigas queridas. É esse carisma que sustenta todas as loucuras da trama. A química entre ela e Marcelo Laham mostra que eles são um casal que precisa acontecer. A grande questão é Neide aceitar essa realidade. Esse é o foco principal do filme, que se desdobra em várias subtramas que, sinceramente, não são suficientemente desenvolvidas — mas que também não fazem tanta falta, porque quando se está vendo uma comédia, o que importa mesmo é rir. E isso o filme entrega.
Entre essas tramas, há a competição de salões de beleza, o Transformation, em que o salão da Neide participa em aliança com a barbearia da antiga sócia, Sheila (Evelyn Castro), a eterna solteirona que se apaixona pelo outro Oliveira. Enquanto isso, Dona Oliveira se revolta e tenta obrigar Neide a casar com “seu” Oliveira, porque já preparou vários bem-casados para a festa. Além disso, Neide ainda precisa resolver os problemas de Sheila com um agiota, sem falar de uma cabeleireira infiltrada de outro salão! Enfim, é uma mistura de situações que rendem boas piadas. O alívio é que o filme não apela para machismo, gordofobia ou homofobia — algo infelizmente comum em muitas comédias brasileiras. Aqui, o humor nasce das situações e até das piadas com portugueses (sempre válido, afinal foram os colonizadores), o que já traz um ar de frescor.
O resultado é um filme simples, que sabe provocar risadas sem ofender ninguém, sustentado por personagens carismáticos. É uma obra que com certeza vai agradar especialmente às muitas Neides do nosso Brasil: mulheres maravilhosas, cheias de energia, que não devem absolutamente nada a ninguém. O filme mostra justamente isso: não é casamento, nem filho, nem homem que define quem ela é. Neide é impressionante por si só.
E aqui faço um parêntese: amo a forma como o filme trata a profissão de cabeleireira. Neide sempre reforça que seu trabalho é renovar mulheres machucadas pela vida. Ninguém chega feia ao salão, apenas mulheres sofridas que precisam se lembrar de que são lindas (ela fala algo assim no primeiro ou no segundo filme, não lembro bem). Quem frequenta esses espaços sabe que é exatamente isso. Ver uma personagem tão popular, interpretada por uma atriz do quilate da Cacau Protássio, falando isso em um filme de alcance nacional, é algo muito importante.
Leve a família ao cinema. Vamos rir, nos emocionar e apoiar mulheres cineastas.
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Estudante de Publicidade na Universidade de Fortaleza, Miguel é o Sonserina mais Lufa-Lufa que se tem notícia. Esse grande apreciador de açaí passa a maior parte do seu tempo tentando ser o mais legal possível. E quase sempre consegue. Legalzão é cheio de surpresas, chora fácil, ri mais fácil ainda. Gosta de cozinhar, toca um monte de instrumentos, ama correr, assistir filmes de ação, joga videogame como quem respira e venera animes de esportes, quase tudo na mesma medida (a medida do exagero).