Desde que vi um storie de Isadora Zeferino falando uma coisa sobre Venom (2018), ela mudou minha visão sobre o filme e como ele deveria ser visto. O jeito certo de assistir Venom é como ele realmente é: um romance entre um jornalista falido em fim de carreira e um alienígena parasita – apesar de manter o nome simbionte, na prática, nesses filmes ele é um parasita – estabanado. Não é algo para se levar a sério, se você quiser se divertir o mínimo possível, mas este terceiro filme tenta mudar um pouquinho isso.
Antes de tudo, vale lembrar que temos texto sobre os dois primeiros filmes aqui e aqui.
Venom: A Última Rodada (Venom: The Last Dance, 2024), finaliza essa trilogia terrível, mas que as vezes é tão ruim que dá a volta e fica divertida. Aquela cena pós-crédito em que Eddie Brock e Venom (ambos interpretados por Tom Hardy) pulam de universo, logo é resolvida e esquecida e estamos de volta pra o universo onde nosso (não autodeclarado) casal favorito está em maior sintonia do que nunca enquanto foge da justiça. Enquanto isso, bastante coisa acontece. O criador dos simbionte, Knull (Andy Serkins), está enviando criaturas atrás de suas crianças fujonas para conseguir a chave para se libertar e um laboratório secreto do governo está tentando capturar Venom e Eddie para seus estudos.
O filme é dirigido por Kelly Marcel, que esteve no roteiro dos dois filmes anteriores da franquia, de Cruella (2021) e do primeiro Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey, 2015). O roteiro é dela e do nosso ator principal, Tom Hardy , a fotografia é de Fabian Wagner que já fez a fotografia de episódios de Game of Thrones (2011-2019) e A Casa do Dragão (House of the Dragon, 2022-) e a trilha sonora é de Dan Deacon que trabalhou com Kelly Marcel em The Changeling – Sombras de Nova York (The Changeling, 2023-).
O filme também conta com alguns fanservices usando atores que já apareceram no universo Marvel. Chiwetel Ejioforque originalmente é o Barão Mordo no universo do Doutor Estranho , aqui é um militar e Rhys Ifans, o Lagarto no Homem-Aranha de Andrew Garfield que fez uma participação em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (Spider-Man: No Way Home, 2021) faz um pai de família hippie.
Uma hora tinha que acertar (um pouquinho)
Sinceramente, para mim esse foi o menos pior dos três filmes, mas saindo da cabine de imprensa vi algumas opiniões variadas, alguns achando o filme tão ruim quanto os anteriores ou o pior de todos. Vale dizer que às vezes uma diretora no comando de um blockbuster causa isso antes mesmo do filme entrar em cartaz.
Porém, logo na primeira cena, na minha visão, ficou claro o quanto esse filme é tecnicamente superior e evitou cometer alguns erros, ele até parece um filme bom. Kelly Marcel deu o nome na direção, com momentos muito bons em tela. A ação é legal, os efeitos foram os melhores até agora e a sinergia criada entre Eddie e Venom seja em cenas de luta ou não ficou muito interessante.
Michelle Williams foi deixada em paz ou se recusou a voltar e isso só ajudou o filme, para não ficar forçando mais ainda essa relação Mary Jane e Peter Parker dos filmes de Sam Raimi. Se no filme anterior a galhofa foi abraçada com vontade, este filme decide abraçar um pouquinho de emoção e seriedade, levantando a questão de como essas personagens que levaram tanto tempo para entrarem em sincronia seriam se a outra sumisse. Como seria Eddie sem Venom ou Venom sem Eddie?
Apesar de Knull aparecer, ele é apenas introduzido no universo, não existe uma luta épica entre ele e Venom, e acho que este foi um grande acerto, deixar esse vilão para ascender e ser diretamente combatido depois.
O problema mesmo é que, como uma trilogia, esse fechamento é muito estragado por seus anteriores e por precisar ter uma coesão.
Alegria de pobre dura pouco
Outra questão é que esse filme tem um excesso desnecessário de elementos. São muitas personagens, muitas subtramas e temos que esquecer nosso casal para focar nessa galera enorme que sinceramente não importa tanto assim, mas são quem realmente está levando a história adiante, porque Eddie e Venom estão perdidinhos na vida, andando sem rumo.
Para uma franquia que está teoricamente encerrando, é estranho ver tantos novos elementos sendo apresentados, mas o que este universo de vilões da Sony vai se tornar é uma grande ameaça incógnita para nós.
Esse filme me deixou muito feliz algumas vezes, para depois me decepcionar, afinal, ainda é a franquia Venom. Logo de início somos apresentades aos demais simbiontes que vieram para a Terra e é obvio que vamos vê-los em ação e queremos muito que esse momento chegue logo.
O simbionte azul-esverdeado que é basicamente o velho sábio do filme (uma nova interpretação do simbionte Toxina, ao que tudo indica) é muito bom, é uma personagem interessante que vem fazer contraponto ao caos que vimos com Venom, Riot e Carnificina. Ele é enigmático, se move com fluidez, fala com uma voz produnda e com certeza estaria no meu “hear me out cake”.
A simbionte verde (o Açoitador ou nesse caso A Açoitadora) é incrível, eu fiquei querendo tanto mais dela, ela tinha muito a dizer e junto com o azul-esverdeado poderiam vencer muitos humanos em debates, ao contrário do querido Venom. Mas com pouquíssimo tempo de tela – e peço perdão aqui pelo spoiler a seguir – os dois simplesmente morrem! Os outros simbiontes são libertados, acontece um ótimo momento estilo Power Rangers e simplesmente são mortos um a um sem cerimônia, acabando com as duas melhores personagens dessa uma hora e cinquenta minutos.
Fora coisas simplesmente burras, como um jornal mexicano ser falado em inglês ou a barriga gigantesca no filme em Las Vegas apenas para forçar a participação da Senhora Chen (Peggy Lu) e uma dancinha muito perturbadora que Venom sabia que não podia fazer pois seria rastreado.
Fora que não adianta incluir personagens que são apenas sua descrição mais superficial. O pai de família hippie? É um pai de família hippie. O coronel que detesta alienígenas? É um coronel que detesta alienígenas. A doutora que estuda alienígenas por viver a sombra do irmão morto? É uma doutora que estuda alienígenas por viver a sombra do irmão morto. A assistente que adora o Natal e quer MUITO tocar em um simbionte? É uma assistente que adora o Natal e VAI SIM tocar em um simbionte.
Criar personagens simples nunca é um problema, mas criar personagens extremamente rasas para terem mais papel na trama que a protagonista, é uma bela falha para a coleção. Enfim, bônus e ônus. Ganhamos algumas coisas melhores para também termos coisas ruins.
A libertação de Tom Hardy
Se até Hugh Jackman foi tirado da aposentadoria para voltar a interpretar Wolverine, obviamente um boneco de CGI não vai ficar quieto tão fácil, mas pelo menos para Tom Hardy, este suplício acabou. Venom pode até continuar, mas sem ele.
Nosso galã de dentinhos tortos finalmente está livre deste universo – por enquanto – e faz uma despedida olhando para a Estátua da Liberdade, que é bem bonita e me deixa curiosa para saber em quais projetos ele planeja se meter.
Quanto a Venom, é apenas uma questão de tempo até que aquela baratinha infectada apareça no MCU e sofra um reboot. É o caminho natural, já que o Homem-Aranha de Tom Holland ainda não enfrentou alguns vilões clássicos do universo do nosso “miranha”, apesar de ter encontrado alguns no último filme. Queremos Venom, Gata Negra, Duende Macabro e ele se unindo com o Demolidor para enfrentar o Rei do Crime.
Então, vamos aguardar e ver o que vem a seguir para o alienígena refugiado.
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Bacharel em Cinema e Audiovisual, roteirista, escritora, animadora, otaku, potterhead e parte de muitos outros fandoms. Tem mais livros do que pode guardar e entre seus amigos é a louca das animações, da dublagem e da Turma da Mônica. Também produz conteúdo para o seu canal Milady Sara e para o Cultura da Ação TV.