O Exterminador do Futuro Zero: 1ª Temporada – O melhor remake da saga em décadas

Por anos, cineastas e produtores tentaram, sem muito sucesso ou impacto, recriar a empolgação da originalidade de Exterminador do Futuro (The Terminator, 1984), ou o fenômeno de bilheteria de sua sequência de 1991, ambos dirigidos por James Cameron e criado juntamente com Gale Ann Heard que parecem ter escondido a fórmula de criar uma mitologia tão boa e atraente de uma das melhores ficção cientificas de ação de todos os tempos. Desde os anos 90, várias versões, sequências e remakes surgiram, mas nunca conseguiram replicar o sucesso de outrora, sendo a última tentativa, O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio (Terminator: Dark Fate, 2019), que quase conseguiu algo interessante, mas no final das contas, é totalmente esquecível. 

Quase cinco anos depois, Hollywood ainda tenta fazer um produto da saga “Exterminador do Futuro” que realmente funcione, e por incrível que pareça, desta vez parece que acertaram com o novo anime da Netflix, Exterminador do Futuro Zero (Terminator Zero, 2024 -), que traz uma nova roupagem, mantendo o cerne da história original, com máquinas sendo enviadas para o passado para matar líderes chaves da resistência humana.

A grande sacada desta versão, talvez seja na forma como não repete a trama dos filmes originais, mas resolve expandi-la, primeiro criando uma mitologia própria e usando o mistério para trazer reviravoltas que ajudam a não só entender melhor as viagens no tempo, mas também o surgimento de múltiplas linhas do tempo que podem resultar no futuro mostrado em 2022, onde parte da trama se passa, ao mesmo tempo que em 1997 no dia do Julgamento Final, a narrativa começa a tomar forma focando na história do personagem Malcolm Lee (Yûya Uchida).

O piloto “Model 101” do anime é simplesmente genial, mostrando a força dos traços dos artistas do estúdio japonês Production I.G e mostrando o apuro criativo de Mattson Tomlin no roteiro, com Masashi Kudo dirigindo os episódios de forma magistral trazendo ação e violência gráfica que claramente não é recomendável para crianças, se tornando uma anime adulto que não economiza no sangue, nudez e violência.

O melhor deste remake é a forma como em sua primeira parte estabelece bem seu universo, onde acompanhamos o personagem Malcolm e sua AI Kuroko num projeto secreto que pode ser a salvação contra a eminente ameaça da Skynet, enquanto em paralelo acompanhamos as peripécias das crianças do cientista, Kenta (Hiro Shimono), Reika (Miyuki Sato) e Hiro (Shizuka Ishigami) sendo cuidados pela babá Misaki (Saori Hayami), que acabam virando alvo de um Exterminador que veio do futuro para mata-las, juntamente com o pai.

Os episódios “Model 102” e “Model 103”, dão uma boa ideia como o anime tem um ritmo alucinante, se apoiando no suspense e usando de boas reviravoltas para ganhar o público alvo. É fascinante como o futuro distópico é explorado nesta versão através dos olhos de uma rebelde, Eiko (Toa Yukinari) que vem para o presente de 1997 para também matar Malcolm numa tentativa de mudar o destino daqueles que ama num tempo não muito distante. 

É claro que o showrunner Mattson Tomlin, sabe utilizar bem o que deu certo nos filmes de Cameron a seu favor, as máquinas continuam sendo o centro da trama, implacáveis, inteligentes, mortais. Porém, o drama humana é também sempre sentido de uma forma bem intensa com um suspense crescente que vai deixando os episódios ainda mais viciantes à medida que vamos aproximando do fatídico momento do Julgamento Final. 

A melhor parte de Exterminador do Futuro Zero, é a forma como sua primeira metade nos leva por um caminho, para simplesmente subverter nossas expectativas através do divisor de águas visto no episódio “Model 104”, um dos melhores da temporada que nos leva a bons questionamentos sobre o papel não só da inteligência artificial na sociedade, mas também dos robôs cada vez mais integrados a vida humana. 

O anime que tem uma produção excelente, com traços muito bem desenhados, cores vibrantes, visual estilizado e uma trama envolvente com episódios que sabem utilizar o melhor do formado seriado com ganchos que vem de forma inesperada, sendo impossível parar de assistir, inclusive a série vai entrando no campo filosófico, ao mesmo tempo que reforça sua teoria sobre paradoxo de viagens do tempo, resultando em ótimos episódios como “Model 105” e “Model 106”, este último inclusive dando aula sobre física quântica bebendo da mais doce fonte da ficção científica raiz. 

A verdade é que o seriado é um acerto da locadora vermelha, primeiro por conseguir trazer personagens interessantes, e segundo por ter uma história amarradinha capaz de explicar bem suas próprias teorias, utilizando este mecanismo para criar uma montanha russa alucinante cheia de ação e dramaticidade em momentos de tirar o fôlego. 

Fica muito claro que esta obra é um produto excelente, da melhor qualidade, onde os limites para imaginação são sempre superados, ficando ainda melhor por ser algo que se passa em paralelo a tudo que a franquia já teve, mas sem ser uma cópia descarada, e sim algo novo que traz frescor e trilha seu próprio caminho, como podemos ver nos excelentes episódios “Model 107” (o final vai te pegar de surpresa) e no sólido final de temporada “Model 108”.

Por tudo que foi comentado, Exterminador do Futuro Zero nada mais é do que um espetáculo, trazendo a luta entre humanos e máquinas para um holofote mais engenhoso com uma narrativa que é ao mesmo tempo complexa e refrescante, feita com esmero para os fãs da franquia e até mesmo para atrair novos fãs, misturando o melhor dos traços japoneses, com jeitinho ocidental, resultando no melhor produto da saga em anos, algo que deixaria o T800 do Schwarza e a Sarah Connor de Linda Hamilton, orgulhosos, pois o futuro da humanidade, parece mais promissor do que nunca com uma produção simplesmente brilhante.


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