Todos Menos Você – Festival de clichês gostosos na Austrália

Não estamos mais no auge das comédias românticas (infelizmente), mas todo período de férias temos uma nos cinemas e a desse começo de ano é Todos Menos Você (Anyone But You, 2023) uma adaptação da comédia Muito Barulho por Nada de William Shakespeare. Eu nunca li nada de Shakespeare, mas sei que suas histórias são cheias de babados, confusões e gritarias, que costumam render adaptações divertidas, como é o caso deste filme.

Eu não tenho tempo, nem conhecimento o suficiente para falar de comédias românticas, mesmo sendo uma fã do gênero, então fica aqui a minha dica para quem quiser conteúdos sobre, conferir o canal da Mica (@micaelaayer) no TikTok.

Todos Menos Você conta a história de Bea (Sydney Sweeney) e Ben (Glen Powell), que um dia se conheceram e passaram uma tarde e uma noite muito românticas juntos, mas no dia seguinte, por uma série de mal entendidos e conversas entreouvidas, os dois passam a se odiar. Seis meses depois a irmã de Bea, Halle (Hadley Robinson) e a melhor amiga de Ben, Claudia (Alexandra Shipp), decidem apresentar os dois, já que as duas estão namorando e de cara os dois começam um festival de ofensas bem criativo que deixa claro que não se bicam. Algum tempo depois, Halle e Claudia anunciam que vão se casar em uma cerimônia na Austrália, para onde estão levando suas famílias e alguns amigues íntimos para passar um final de semana.

Bea e Ben são a receita do desastre e já causam muito na primeira noite, o que faz as noivas, o irmão de Claudia, Pete (GaTa), sua mãe e seu padrasto começarem um plano para juntar os dois. Mas o casal descobre e decide na verdade fingir que esse plano deu certo e agora estão apaixonadíssimos. No meio disso os pais de Bea trazem seu ex Johnathan (Darren Barnet) para tentar reconciliá-los e Margareth (Charlee Fraser), uma amiga de Claudia com quem Ben já ficou, está por ali com seu peguete Beau (Joe Davidson).

O filme é dirigido por Wil Gluck, que dirigiu A Mentira (Easy A, 2010) e Amizade Colorida (Friends with Benefits, 2011) – duas das minhas comédias românticas favoritas – com roteiro dele e de Ilana Wolpert que escreveu episódios de High School Musical: A Série: O Musical (High School Musical: The Musical – The Series, 2019–2023), a fotografia é de Danny Ruhlmann que participou da fotografia de Sense8 (2015–2018) e a trilha sonora de Este Haim que participou da trilha de algumas obras da Netflix e de The White Lotus (2021–2025) e Christopher Stracey que trabalhou com Este na Netflix e participou da trilha de Na Ponta dos Dedos (Fingernails, 2023). 

Não posso comentar sobre a adaptação por nunca ter lido a obra original, mas pelo pouco que vi pela internet a premissa é quase a mesma, o casal principal troca muitas ofensas verbais também, os nomes no filme homenageiam os nomes das personagens originais e existe uma certa divisão de capítulos que imagino que sejam referências.

Assisti ao filme dublado e sim, está muito bem dublado com Bruna Laynes e Felipe Drummond dublando o casal principal. As atuações são boas, mesmo eu achando que o Glen Powell tinha todos os traços padrões para ser um galã padrão e no fim tem uma cara de pastel, ele e Sidney Sweeney tem uma boa química. Inclusive, ela além de linda no filme, traz um frescor ao vê-la em algo que não seja Euforia (Euphoria, 2019 – ), poder vê-la sorrir e parecendo realmente se divertir nas gravações. Uma das minhas maiores preocupações sobre esse filme era se ela seria sexualizada, mas achei a direção bem respeitosa. Ela é uma mulher de seios grandes que usa roupas que destacam isso, mas não existe nada de apelativo ou desnecessário em minha opinião.

A produção teve o tato de incluir pessoas pretas no elenco e o roteiro de lhes dar o mínimo de desenvolvimento próprio, personalidades diferentes e um pequeno arco para não ficarem apenas a serviço do casal protagonista, mas ainda é uma comédia romântica de uma hora e quarenta minutos, no fim, todas as personagens estão ali para ajudar o casal protagonista. As piadas conseguem ser realmente divertidas e engraçadas, óbvio, sempre algumas melhores do que outras, mas de tirar o chapéu foi o modo como conseguiram inserir o clássico dos anos 2000 Unwritten de Natasha Bedingfield na trama.

O máximo que me incomoda no filme é Beau, que, tudo bem, é um personagem feito para ser um estereótipo, mas é um estereótipo meio chato e repetitivo especialmente para um homem australiano, mesmo o filme tentando justificar que aquele é o jeito dele e não necessariamente o de todos na Austrália. Com personagens demais alguns acabam também tendo pouco destaque e em dado momento a história pode ficar um pouco confusa ou ter soluções muito rápidas por conta disso, mas nada que atrapalhe muito a experiência.

Aqui não tem uma super-hiper-duper-história e, é claro, é repleta de clichês do gênero, mas com cenários bonitos, um elenco carismático e os clichês sendo bem trabalhados, acaba valendo a experiência e pode vir a se tornar filme conforto de algumas pessoas. Eu não esperava em uma segunda de carnaval onde só queria ver um filme tranquilo me deparar com uma sala lotada para uma comédia com protagonistas nem tão conhecidas assim do grande público. No geral, a sala inteira se divertiu, ficou emocionadinha e riu bastante. 

Todos Menos Você, provavelmente não vai ser uma comédia romântica super lembrada dos últimos anos, como Podres de Ricos (Crazy Rich Asians, 2018) – para o qual eu e toda uma multidão estamos esperando a sequência até hoje -, mas é um filme bem divertido, se tornou a adaptação de Shakespeare com maior bilheteria no cinema e mostra que o gênero ainda tem sua força na hora de atrair e agradar o público.

Sidney Sweeney tem muito potencial para fazer sucesso nesse tipo de produção e eu espero poder vê-la mais vezes assim, leve e sorridente. E por favor, um filme onde Darren Barnet seja o cara principal e não aquele que vai ficar de escanteio, o coitado merece uns biscoitos.


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