Novo fruto da parceria da produtora Blumhouse de Jason Blum com o diretor James Wan (aqui como produtor através da sua Atomic Monster, que recentemente se fundiu com a referida Blumhouse), Mergulho Noturno (Night Swim, 2024) é mais um terror para a conta de ambos, que já se tornaram referência no gênero, tanto pelo sucesso comercial de várias franquias que criaram, como pela influência que causaram no gênero. No entanto, diferente de obras mais famosas que fizeram a carreira tanto da Blumhouse quanto de James Wan – como Sobrenatural (Insidious, 2011), por exemplo – esse novo filme apenas repete uma série de clichês do gênero de casas mal-assombradas sem nenhuma inventividade narrativa, trocando espíritos e demônios por uma espécie de água ao mesmo tempo milagrosa e amaldiçoada.
Inspirado em um curta-metragem homônimo do mesmo diretor (Bryce McGuire, estreando na direção de longas) – no qual uma mulher é perseguida por uma presença sinistra ao resolver aproveitar uma piscina à noite –, aqui temos a história do casal Ray (Wyatt Russell) e Eve (Kerry Condon) que se mudam com os filhos Elliot (Gavin Warren) e Izzy (Amélie Hoeferle) para uma casa de subúrbio para que Ray, um ex-jogador de beisebol, possa se tratar da doença degenerativa que o aflinge. A casa, no entanto, possui uma piscina cujas águas logo se revelam sinistras e perigosas.
Particularmente, não acho que um filme de terror precise ser inovador em conceito e/ou execução para que se torne memorável ou mesmo funcione como diversão, mesmo porque o gênero (e suas diversas variantes) possui regras muitos rígidas, difíceis de serem quebradas sem que isso o descaracterize. O sucesso de um filme de terror, no meu ponto de vista, vem, portanto, de personagens que cativem o público, e de uma história que permita o máximo de imersão, que mexa com sentimentos profundos da plateia, independente de quão bizarra seja a premissa (e, convenhamos, uma piscina mal-assombrada parece algo vindo da mente de Stephen King, um homem que consegue encontrar terror em um cortador de grama).
De toda forma, o elemento utilizado como fonte do terror é o menor dos problemas de Mergulho Noturno, mesmo porque o pouco de criatividade do filme vem dos momentos filmados na água, que trazem, na maioria das vezes, uma beleza e até uma tensão que tiram um pouco o filme da mediocridade que o domina na maior parte do tempo. Isso, aliado às boas atuações de Wyatt Russell e, principalmente, Kerry Condon (uma ótima atriz, revelada ao mundo em Os Banshees de Inisherin, pelo qual foi indicada ao Oscar), fazem com que o filme se torne um passatempo rápido, mas não são suficientes para nos fazer esquecer o roteiro pobre, que se contenta em repetir o passo a passo desse tipo de história, além de abusar dos famigerados jumpscares, isso sem falar de efeitos digitais duvidosos.
Ao final, Mergulho Noturno não é um filme ruim de fato, mas apenas mais um terror mediano que claramente busca aumentar a fama (e o catálogo) de seus produtores e, a julgar pelo final, pretende iniciar uma nova franquia, o que não acho difícil que aconteça. Para quem não se importa de ver, pela milésima vez, uma família de classe média norte-americana sendo atormentada e se contenta com sustos leves, talvez seja uma boa diversão. Para quem exige um pouco mais de substância, é melhor esperar pelo retorno de James Wan ao gênero que o consagrou.
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Cineasta e roteirista, formado em Letras e graduando em Cinema, respira literatura, filmes e séries desde que se entende por gente. É viciado em sci-fi e terror, e ama Stephen King, Spielberg e Wes Craven. Tem mais livros em casa, e séries e filmes no computador de que seria humanamente possível ler e assistir, mas não vai desistir de tentar. Não consegue lembrar o que comeu ontem, mas sabe decorado os vencedores do Oscar de melhor atriz do últimos trinta anos (entre outras informações culturais inúteis).