Pegando a Estrada – Um filme com nome de sessão de tarde, mas que não é

Pegando a Estrada ou Hit the Road (2021) é um filme iraniano escrito e dirigido por Panah Pahani, filho do diretor Jafar Panahi, um dos maiores talentos do cinema iraniano e preso político. Panah escolhe uma narrativa que se afasta um pouco dos trabalhos mais recentes de seu pai. Uma escolha sábia para demonstrar seu talento e sua visão de cinema.

O filme, como o nome sugere, é um filme de viagem. Acompanhamos uma família que se desloca, e a princípio, não sabemos o motivo. O que interessa no princípio é a dinâmica familiar entre a mãe, o irmão mais velho, o mais novo, o pai e o cachorro. Essa relação é construída inicialmente com um bom trabalho musical e logo em seguida com um caos de ações que cercam essa família. A película possui traços de comédia, mas é misteriosamente cercada por um drama o qual não temos acesso, seja pela dramaticidade como as cenas são construídas ou pelas atuações, sobretudo a da mãe. 

Enquanto Jafar entrega uma crítica mais direta e certeira à República Islâmica do Irã, demostrando toda sua rebeldia e subversão às suas punições e sentenças. Panah entrega uma crítica mais sutil acompanhada de um tom de  tragicomédia e de uma sensação de luto familiar ao final do filme. Panah faz questão de demonstrar o distanciamento do trabalho do pai logo no plano inicial com um movimento de câmera e o uso diegético da música ao qual não estamos acostumados nos filmes de Jafar. 

A comparação é um tanto injusta, afinal o seu pai faz filmes como forma de resistência, os últimos com aparatos de dispositivos móveis como celulares. Contudo, a liberdade de uso de equipamentos dá a Panah uma possibilidade de se contar uma história narrativamente bem desenvolvida e emocionalmente devastadora, principalmente para seu público. A cena que mais deixa exposto esse sentimento é a cena final, na qual sobe uma música de ritmo acelerado e que contrasta com o tom triste dos personagens.

Pegando a Estrada pode até ter nome de filme da sessão da tarde, mas longe do imaginário de aventuras e romances encontrados nas tardes brasileiras dos anos 90, ele entrega um drama familiar pesado e com boas atuações. Alternando muito bem planos e música, o filme consegue deixar o público engajado com a história e a par dos problemas políticos e religiosos do Irã. O primeiro filme do jovem diretor Panah Pahani já entrega traços de genialidade e de expectativa para seus próximos trabalhos. Aguardemos. 


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