O Massacre da Serra Elétrica – Igual, mas diferente

A fixação da Netflix por fazer releituras de grandes títulos não é novidade – nem mesmo pros meus textos (eu já falei sobre isso aqui). Dessa vez, na sua “mina de ouro” a “joia” encontrada foi o clássico de terror O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chain Saw Massacre, 1974), filme que conta a história de cinco jovens que viajavam de carro para visitar o túmulo de um parente, quando se deparam com os Hardesty, uma família de canibais. É daí que se tem início uma jornada sanguinária, que se tornaria referência para o gênero de terror pelos próximos 40 anos, ou seja, até hoje.

Ignorando todas as sequências e mais alguns reboots da série (no total 7 filmes, além do primeiro), O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface (The Texas Chainsaw Massacre, 2022) da locadora vermelha conta uma história que se passa logo depois dos acontecimentos do primeiro filme. Ou não tão logo depois assim, já que, aqui, estamos 50 anos adiante no tempo.

No enredo, quatro jovens chegam à cidade de Harlow com o propósito de abrir um restaurante em um local diferente dos grandes centros, mais sossegado, longe da violência comum às cidades maiores e, logicamente, com imóveis mais baratos. Visionários, eles também encabeçam um grupo de viajantes que lotam um ônibus e chegam horas depois ao mesmo local, no intuito de comprar, via leilão, os imóveis da cidade – tão pacata que mais parece fantasma.

Os problemas começam quando eles encontram a Sra Mc – interpretada por Alice Krige, que você deve conhecer por Maria e João: O Conto das Bruxas (Gretel & Hansel – 2020) – ainda ocupando o imóvel que, supostamente, teria sido tomado pelo banco. Porém, a residência em questão é o orfanato onde cresceu Leatherface (não sabemos o nome dele de batismo), vivido nesse filme por Mark Burham, que era “controlado” pela sua tutora esses anos todos. Por conta da tensão criada entre os jovens novatos e a Sra Mc, ela acaba falecendo. Esse é o gatilho que Leatherface precisava pra tirar a poeira da sua motosserra e sair cortando em pedaços qualquer coisa que se mexa minimamente no seu campo de visão.

Depois que o filme engata, é sensato da parte do expectador forrar o chão com plástico. A direção do filme, comandada por Blue Garcia, de Tejano (2018), optou por apelar para a violência gráfica e foi bastante criativa quando pensou em como mostrar os assassinatos. Temos desde cabeças esmagadas a corpos divididos ao meio e tripas escorrendo. Algumas cenas de tensão são muito bem construídas e podem fazer você apertar os braços da cadeira.

Mas, o ponto alto, ao menos pra mim, foram as boas quebras de expectativa. Quem vê muitos filmes de terror já tem um certo feeling pra tudo que vai acontecer na hora e meia em que está de olho na tela. A gente já imagina quem morre e quem sobrevive, quem luta e quem corre, quem dura e quem se vai no primeiro golpe. Aqui, essas “previsões” foram bem pensadas e, certamente, você vai se surpreender com aquilo que você pensa que vai acontecer.

Não há muitos jumpscares, o que eu considero um ponto positivo. Os poucos que se apresentam são criados pela atmosfera de tensão dos momentos em que Leatherface está em cena. Também há algumas boas cenas de perseguição, muito embora a disposição física do antagonista seja sempre algo exageradamente descomunal.

O Retorno de Leatherface passa longe de ser o melhor filme de terror que você vai ver esse ano. Netflix aproveitou os clichês atuais de franquias slasher ao fazer sequência direta com o filme original, como já vimos em Halloween (2018) e ao trazer de volta a primeira mocinha, como aconteceu também em Pânico (Scream, 2022) e em O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio (Terminator: Dark Fate, 2019) – que não é slasher, mas aproveita a mesma premissa saudosista. A intenção, acredito, é pegar os fãs com o apelo emotivo, não esquecendo elementos originais, enquanto angaria o público novo trazendo componentes modernos (como a cena mostrada no trailer em que as pessoas usam o celular para gravar o assassino dentro do ônibus, ameaçando cancelá-lo na internet, caso ele faça algo sem pensar).

O filme também peca nos diálogos fracos e nas ações sem muito sentido dos personagens. Não que filmes de assassinos em série tenham lá alguma lógica quando a gente pense em como as pessoas agem e que, talvez por isso, a gente até solte um “Bem que mereceu!” quando alguém morre. Além disso, apela para recursos tão repetitivos em filmes do gênero que não causam mais nenhum impacto. Sem contar que possui falhas grosseiras de cronologia, um erro que costuma ser bem comum nas sequências do gênero, mas que, aqui, não precisava ser copiado.

Por fim, o thriller, que serve bem como um bom passatempo, não vai conseguir reinventar a franquia. Depois de 40 anos, ainda parece difícil superar o estilo cru e a atmosfera árida que Tobe Hooper criou em 1974, quando se baseou nos assassinatos da cidade de San Antonio e no assassino Ed Gein, que fazia troféus com pele e ossos de pessoas mortas, para dar vida à família Hardest.

O novo Massacre da Serra Elétrica está em cartaz na Netflix desde o último dia 18 de fevereiro. No elenco estão ainda Elsie Fisher, de Oitava Série (Eighth Grade, 2018), Sara Yarkin, conhecida por A Morte te Dá Parabéns 2 (Happy Death Day 2U, 2019) e (o gatíssimo) Moe Dunford, de Vikings (2013 – 2020).


VEJA TAMBÉM

Pânico – Ghostface e sua faca mais afiados que nunca

Halloween – É possível que um monstro possa criar outro?