Antes mesmo de estrear no Un Certain Regard de Cannes 2021 e levar o prêmio de Originalidade, Lamb (2021) já atraía curiosidade e expectativa de lançamento por muitos espectadores. Aos moldes dos excêntrico portfólio de sua produtora A24, o filme com roteiro de Sjón (que também assina com Robert Eggers o próximo lançamento, The Northman), direção de Valdimar Jóhannsson e protagonizado por Noomi Rapace, o filme conta a história de um casal de pastores de ovelhas que vivem na zona rural islandesa. Imersos num processo de luto, eles recebem do estábulo uma estranha chance de recomeçar, através do nascimento de uma exótica cordeira.
O filme propõe ser original em diversos campos, dos quais são interessantes e objetivos por conceito. Porém, a execução de tais pontos de inventividade não consegue se sustentar tal qual o filme num todo. Se há uma predileção em transmitir a naturalidade dos acontecimentos inusitados existentes em contos folclóricos para a tela, ela em vários momentos esquece que alguns recursos funcionam essencialmente em contos (por escrita ou transmissão oral) ou não consegue uma transposição que seja factível para a narrativa.
Lamb prende o espectador pela curiosidade diante de específicas imagens que, ao acontecer, o faz sem grandes apresentações ou alarmes, indo eficientemente contra trivialidade de muitos filmes de terror. Clareza essa que reflete em toda sua fotografia, se inspirando no seu parceiro fílmico Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (Midsommar, 2019) e optando pelo lúgubre cristalino do ambiente ao invés da convencional escuridão da noite. Mas essa clareza aos poucos vai se tornando pálida, que não tem justificativa melancólica que sustente. A falta de conclusão de toda ideia que se apresenta durante o filme soma com as coincidências em ritmo acelerado que anseiam ridiculamente o próximo movimento. E dentro de transições nubladas, mínimas partes se abonam. Quase nada se engata.
Lamb é uma bela ovelha que teve sua lã desperdiçada por um implexo exercício.
[O filme estreou dia 25 de Fevereiro da plataforma MUBI]
VEJA TAMBÉM
Maligno – Quando o vilão do filme é seu próprio criador
Yellow Cat – O bobo delírio de sonhar cinema
Passolargo é um nordestino armorial. Escritor, produtor de conteúdo, anticoach fuleragem profissional. É o rei dos memes, não pode ver uma rede que já quer deitar, um brega funk que já quer dançar e é o maior fã de Harry Potter que você vai conhecer (embora ele não assuma). O cinéfilo local mais arengueiro da internet.