Madres Paralelas – Maternidade e memória

O único homem em quem confio para fazer tantas histórias de mulheres tão diferentes e tão fortes, Almodóvar nos traz sempre a fortaleza do feminino de alguma forma. Dessa vez, em Madres Paralelas (2021), pudemos nos deliciar com as incríveis atuações, principalmente a Penélope Cruz, musa do diretor, cores vibrantes e a estética que só de bater os olhos já sabemos que se trata de um filme do diretor, que é um dos meus favoritos, aliás.

Janis (Penélope Cruz) e Ana (Milena Smit) são mulheres de diferentes idades e em diferentes momentos da vida, mas que os caminhos se cruzam por ambas estarem perto de dar à luz aos seus filhos em um quarto de hospital, a partir disso criam uma relação de cuidado e preocupação uma com a outra. Obviamente que, se tratando do Almodóvar, muitos plot twists e situações que nos deixam chocados estão presentes também nesse filme. 

Um dos pontos mais interessantes do filme é que por trás da história principal, existe uma discussão sobre guerra e o apagamento de tantos nomes de pessoas que lutaram para defender os seus ideais e a dificuldade das famílias saberem os destinos dos seus entes queridos. Então existe a questão da maternidade, dos vários tipos de mães e das mães que são possíveis nas situações que nos foram colocadas. 

Acredito que aqui, Almodóvar se aproxima muito do seu estilo de fazer cinema lá do começo, dos seus antigos filmes que o tornaram esse imenso diretor, trazendo atores já bastante presente em seus demais filmes e nos fornecendo a experiência de assistir uma novela em formato de cinema, nos fazer sentir diversos tipos de emoções diante dos seus personagens, amor, raiva, nojo e por aí. Não existem personagens moldados como perfeitos, que não cometem erros ou que cometem erros demais. A sensação de acompanhar personagens reais, com suas qualidades e seus defeitos, se envolvendo com suas relações e se misturando entre o que sentem e que os outros os fazem sentir.

Sem dúvidas, um dos bons filmes de Pedro Almodóvar, mas tendo em vista que eu gosto de todos os filmes dele que vi até o presente momento, talvez eu seja suspeita para falar, mas acredito que aqui, para além da feminilidade e das mulheres fortes que fazem tudo por seus filhos e seus amores, ele conseguiu inserir uma discussão importante e que marcou a Espanha com suas pessoas que desapareceram e até hoje as famílias não conseguiram encontrar. Fez algo que eu gosto bastante: criar uma narrativa e personagens, mas os envolverem em acontecimentos reais, importantes e marcantes para a história dos seus. Mais um acerto de Pedro Almodóvar.


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