Black Summer: 2° Temporada – Zumbis, muita ação e suspense de qualidade

Quando The Walking Dead (2010 -) fez sua transição dos quadrinhos para a série de TV, o gênero zumbi simplesmente ganhou um novo fôlego. Passou algum tempo até a fórmula se desgastar em vários filmes e séries que tentavam replicar o fenômeno gerado por Rick e companhia matando zumbis num EUA devastado. Nessa leva surgiu a série Black Summer (2019 -), que estreou na Netflix em 2019 se tornando bem sucedida na sua primeira temporada com uma trama acelerada, imprevisível, que realmente focava na sobrevivência de um grupo num país sucumbindo aos poucos a uma horda de zumbis de uma forma mais “realista”, por assim dizer, tendo como base o suspense, a ação e o terror.

Passados dois anos e uma pandemia na vida real, a Netflix finalmente lançou este ano a segunda temporada. A série protagonizada por Jaime King estreou cercada de expectativas, apesar de que eu acho que muita gente pensou que a série estava cancelada devido a falta de divulgação. A verdade é que comecei a assistir a série este ano e não me arrependo, talvez por ser fã do gênero, a forma como os criadores John Hyams e Karl Schaefer resolveram contar a história me conquistou de uma forma que poucas conseguiram até hoje.

Inclusive, a série se passa no mesmo universo da série da Syfy Z Nation (2014 – 2018), é só isso que sei, ainda não conferi esta outra, mas posso assegurar que se for no nível de Black Summer, com certeza deve valer a pena assistir. Em um resumo breve, os primeiros oito episódios da primeira temporada seguem esse grupo de sobreviventes liderados por Rose (Jaime King) e sua busca desesperada para encontrar a filha depois que ela acaba sendo levada num comboio se separando de sua família.

A série se passa em vários pontos de vistas diferentes e sua narrativa é quebrada em mini capítulos dentro de um único episódio, esses pequenos arcos vão se desenvolvendo até se cruzarem em determinado momento do episódio ou ao longo da temporada. Pode parecer um pouco confuso, mas a verdade é que esse aspecto é o que torna a série interessante de acompanhar e, é claro, todo o suspense inserido numa narrativa que tem muito sangue, zumbis corredores e inteligentes, muitos personagens impulsivos e reviravoltas de tirar o fôlego.

Quando terminamos a primeira temporada, Rose consegue finalmente reencontrar a filha Anna (Zoe Marlett) nos deixando na expectativa de o que viria a seguir para a dupla, além de saber o que iria acontecer com os outros sobreviventes como o misterioso Spears (Justin Chu Cary), a coreana Sun (Christine Lee) e o sortudo Lance (Kelsey Flower). A segunda temporada vem com aspecto totalmente diferente da primeira, que seguia por uma zona urbana desolada sendo evacuada aos poucos e sendo tomada por zumbis. Esta segunda parte, que passa algum tempo depois, tem como um principal cenário regiões montanhosas num inverno rigoroso representando uma ameaça ainda maior para os sobreviventes.

Enquanto os zumbis continuam sendo uma ameaça constante, o fator milícias armadas entra com força neste segundo ano para deixar a vida de Rose, Spears e companhia ainda mais difícil e complicada. O episódio The Cold (2×01) é a transição perfeita para situarmos onde o grupo se encontra e para onde a narrativa vai se encaminhar, além de introduzir possíveis vilões que devem representar uma ameaça grande numa sequência em uma mansão abandonada no meio do nada, fica claro que estamos de volta a mais um quebra cabeça que vai se encaixar aos poucos ao longo da temporada.

Os dois episódios seguintes, Prelude (2×02) e Card Game (2×03), mostram um vai e vem na narrativa que revela como os personagens vão chegar na tal mansão que mencionei, além de mostrar como alguns deles se separaram ao longo do caminho. O melhor aspecto de Black Summer é manter um clima de suspense quase o tempo todo, e com a chegada do inverno, tudo fica ainda mais sufocante, pois os sobreviventes precisam achar um lugar seguro e quente para ficar, enquanto tentam se afastar dos lugares mais infestados de zumbis, que aqui continuam aparecendo aos montes.

Como citei, a temporada também é marcada pela aparição de diversas milícias armadas tentando uma dominância por onde passam, criando uma tensão que gera boas sequências de ação, mas que as vezes podem soar bagunçadas, porém ajudam a entender o caos desse mundo pós apocalíptico onde os sobreviventes tem pouco tempo para pensar em se proteger tendo que estar sempre preparados para escapar.

O bom dessa segunda temporada é a forma como o roteiro usa o que deu certo na anterior e amplia o escopo se aproveitando do ambiente hostil que a neve proporciona. Não há como não ficar na ponta do assento com episódios de pura tensão como o ótimo Cold War (2×04), ou o intenso Currency (2×06) mostrando que a série não se segura para proporcionar um entretenimento eletrizante para seus expectadores.

É claro que ao diminuir o ritmo no suspense psicológico White Horse (2×05), a narrativa proporciona uma quebra de ritmo inesperada para uma temporada que começa a 200 por hora, talvez este não seja o melhor dos episódios em termos de fazer a história andar, mas com certeza é o episódio mais sinistro, intenso e apoteótico no que diz respeito a construção de um personagem ao focar na jornada de Spears e um desconhecido num ambiente florestal perigoso.

A série ganha fôlego de novo quando chega no episódio The Lodge (2×07), onde Black Summer se mostra diferente e única em relação as outras séries de zumbis, pois sua capacidade de segurar o suspense e a tensão numa narrativa focada em um hotel abandonado que tem um final no mínimo chocante mostra que estamos diante de um produto que sabe entregar reviravoltas monumentais.

Em termos técnicos, a série tem uma boa trilha sonora, uma fotografia bacanuda e, apesar do baixo orçamento, não poupa nas intensas cenas de ação, o estilo câmera na mão coloca seu público próximo da ação e traz uma experiência bastante imersiva. No campo das atuações, todas estão melhores que na temporada anterior, talvez Jaime King se torne uma personagem as vezes intragável aqui, mas sua relação com a atriz Zoe Marlett no papel de Anna é um dos pontos altos da temporada, Marlett inclusive surpreende num papel que exige bastante fisicamente e dramaticamente dela. 

Outros personagens ainda se mostram bastante interessantes, como Justin Chu Cary no papel de Spears, que aqui ganha uma jornada dramática excelente. Uma das favoritas dos fãs, Sun, continua sendo a personagem mais imprevisível da série, nesta temporada ela sofre bastante na mão de inimigos implacáveis, mas ainda assim, graças ao talento de Christine Lee, a personagem ganha uma sobrevida bacana nos episódios finais.

Ainda temos o sobrevivente mais sortudo do mundo Lance (Kelsey Flower) retornando no grupo dos sobreviventes, além da introdução do policial Ray Nazeri (Bobby Naderi) e o louco sensato Boone (Manuel Rodriguez-Saenz) que ajudam aumentar a galeria de personagens peculiares que acabam por ganhar nossa atenção à medida que a temporada vai se desenvolvendo, dando ainda mais corpo a um elenco em sua maioria talentoso.

No geral a segunda temporada de Black Summer é um deleite, com o dobro da ação do primeiro ano, o dobro da tensão e do suspense, com algumas reviravoltas muito boas, fazem dessa nova leva de episódios os melhores da série até o momento. Meu desejo é que a Netflix renove o seriado para uma terceira temporada, pois o season finale The Plane (2×08), que pode ser descrito como uma das horas mais intensas que já vi no gênero, aponta um futuro com muito potencial e os personagens que conseguem sobreviver, podem render muito nessa narrativa, que sabe trabalhar as emoções humanas e não esquece de trazer muito zumbis comedores de carne para o enredo, deixando tudo ainda mais complexo e eletrizante e fazendo desta obra uma das mais memoráveis do ano.


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