Velozes e Furiosos 9 – Ao infinito e além!

É muito interessante ver a evolução dos filmes da franquia Velozes e Furiosos com o passar do tempo. Digo isso sem nenhum tom de ironia. Acho realmente curiosa a forma como essa série de filmes evoluiu de 20 anos para cá. De mais um filme de ação com carros, sem muitas pretensões além disso, a uma das franquias mais rentáveis da história do cinema. E afirmo com toda minha convicção, esse patamar é mais do que merecido. Velozes e Furiosos levou o cinema comercial e popular ao limite. Claro que é difícil ultrapassar a barreira do público homem hétero para quem ela sempre foi direcionado, mas levando em conta a quantidade de bilhões em bilheteria que cada estreia arrecada mundo afora, não é possível que essa barreira não tenha sido superada minimamente. Os clichês continuam lá, e é por causa deles que esse público continua tão fiel. É porradaria, é carro voando, é piada infame, e a gente continua lá, esperando qual o próximo absurdo em que aquele grupo vai se meter.

E assim, chegamos ao nono filme da franquia. Após brigas entre elenco, troca de diretores, um spin off, a morte precoce de um de seus principais astros e até uma série animada (até decente), Velozes e Furiosos tem de volta Justin Lin, o diretor que, em minha opinião, foi um dos principais responsáveis pela evolução e permanência da fórmula que veio sendo adotada e aperfeiçoada todos esses anos. Lin comandou Desafio em Tóquio, o quarto, quinto e sexto filme da série, criando uma base para que a franquia se estabelecesse e pudesse crescer cada vez mais. Porém, este novo filme está desfalcado por outro dos importantes nomes por trás da franquia, Chris Morgan, roteirista que traça a linha entre os filmes desde Desafio em Tóquio até o spin off Velozes & Furiosos: Hobbs and Shaw (Fast & Furious Presents: Hobbs & Shaw, 2019), uma ausência que me fez temer pela coesão da história.

Porém, qual não foi minha surpresa ao perceber que Velozes & Furiosos 9 (F9, 2021) não só consegue manter uma coerência na história que vinha sendo contada, como se aprofunda na mitologia da série, especialmente da família Toretto e do passado de seu protagonista. É hora de Dom (Vin Diesel) confrontar seu passado e a família que não escolheu ter, diferente do grupo de companheiros que acolhe como seu núcleo familiar e que é a alma da franquia já há algum tempo. Como vimos na divulgação do filme durante todo o último ano, um irmão de Dom e Mia (Jordana Brewster) aparece do mais absoluto nada para tirar o sossego dos nossos heróis, que desde os acontecimentos do filme anterior, escondem-se das autoridades e de outros possíveis vilões. Pelo que me recordo é a primeira vez que temos flashbacks do passado longínquo de Dom, e o filme chega a abusar deles em vários momentos para explicar a existência desse irmão nunca antes mencionado, mas também para conhecermos um pouco melhor nosso protagonista e tudo que ele passou na juventude.

Além dessa visita ao passado dos Toretto, que é a grande novidade, temos também o que já era esperado, aquela mistura gostosa de vários subgêneros da ação que amamos, desde espionagem, heist movie, corridas e perseguições, e claro, muito tiroteio e troca de socos. Este novo filme nos exige levar a suspenção de descrença ao limite (mais uma vez), e nunca deixo de me impressionar com a criatividade das sequências e dos malabarismos feitos com veículos de todos os tipos. Como sempre, as cenas de ação estão cada vez mais empolgantes, e diria que tão bem dirigidas como têm sido nos últimos filmes da franquia, com destaque à perseguição na selva, com ponte de madeira quebrando e atravessamento de campo minado. E é divertido como cada vez mais os roteiros abraçam os absurdos dos filmes, fazendo inclusive piadas sobre isso, nos levando a entrar na onda e apenas aceitar qualquer subterfúgio em nome da diversão, desde super imãs à carros com turbinas de aviões à jato ultrapassando barreiras espaciais. Depois de nove filmes não dá mais pra não aceitar essas “mentirinhas”, a diversão está exatamente aí.

Para quem acompanha a franquia desde os primórdios temos também algumas surpresas, participações especiais e o retorno de personagens queridos de muitos. Entretanto, confesso que senti falta da brutalidade e da arrogância de Hobbs (Dwayne Johnson), fora do filme por conta dos conflitos pessoais com parte do elenco, e Deckard Shaw (Jason Statham), mas Vin Diesel consegue bem ocupar esses espaços, e o restante da equipe continua desempenhando bem seus papéis de coadjuvantes. Os vilões, por outro lado, nunca foram o forte da franquia, e desta vez não foi diferente, o irmão perdido, Jakob, não tem a força esperada (nenhum trocadilho já que estamos falando de John Cena), bem como seu genérico chefe super milionário,  além do retorno da Cipher de Charlize Theron, ainda como a típica hacker do mal.

Mas o que dá pra perceber ao final de Velozes & Furiosos 9 é que a franquia, mesmo depois de tanto tempo, de tantas reviravoltas, de tantas explosões e chuvas de carros, ainda está longe de apresentar sinais de desgaste. Enquanto houverem carros a serem pilotados em literalmente qualquer terreno possível e impossível, haverá um público ávido pela próxima sequência “mentirosa” para ver na telona. Para o desespero dos haters, eu diria que a pista de corrida de Velozes e Furiosos não está nem na metade.


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